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— Ana, escuta. Vê se não se esquece de...— A mãe começou a dizer.

— Não, escuta você. 

— Hã?

— Eu quero que você me escute. Eu tô aqui na casa da minha amiga, e não pretendo voltar tão cedo praí.

— Menina, você endoidou? Acho que andei colocando muito açúcar no seu Toddy.

— Cala a boca, mãe. Eu quero viver, entendeu? Não aguento mais essa palhaçada de ser tratada que nem uma escrava por vocês.

— Olha, se você não voltar pra casa até no máximo às oito horas da noite, eu e o seu pai iremos sair procurando por você na cidade inteira. Pode ter certeza que quando colocarmos as mãos em ti, vai sofrer como uma legítima escrava.

— Não tô nem aí. — E com isso desligou sem esperar resposta.

O coração palpitava desesperadamente no peito, quase prestes a sair pela boca. Não sabia exatamente que tipo de sentimento era aquele; uma ansiedade brutal tomava seu corpo. Era certo que todo revolucionário precisava de coragem, porém aquilo que havia feito beirava à loucura. Camila observava tudo boquiaberta e com os olhos arregalados. Supôs que Ana fosse a garota mais casca-grossa de toda a cidade. Talvez supôs também que Ana fosse uma grande idiota, mas nenhuma das duas suposições foi revelada para a amiga.

Era noite. estavam na praça da cidade passeando, quando o celular tocou novamente. Passou na cabeça de Ana jogar aquele maldito aparelho para bem longe. Se arrependeria no momento seguinte? Provavelmente. Atendeu.

— O quê que é? — Ana quase berrava.

— Menina, pare de showzinho. Volte pra casa imediatamente.

— Eu não quero.

— Tudo bem, eu sabia que você iria responder isso. — Havia um tom de diversão na voz da mãe de Ana. 

— E?

— E acontece que você pode voltar pra casa da Camila. Eu estou aqui na frente com a mãe dela.

Os DentesWhere stories live. Discover now