Hoje eu vou beber, e depois lido com meu irmãozinho mais velho — que mais parece outra criança pela qual tenho que cuidar. Hoje, eu só vou aproveitar. Amanhã eu acordo a Maria Sofia Neri trabalhadora, professora, garçonete, cuidadora, e mais mil outras coisas.

Guardo o celular e viro um copo de sakê.

— Muito bem!

Anita Vasconcelos é minha melhor amiga, mas às vezes, só por Deus. Foi ela quem me ensinou golpes de Muay Thai e até de Krav Maga, pois "é seu dever como amiga me ajudar a pelo menos me proteger, quando não estiver por perto." Aparentemente, ela tem vários deveres. Inclusive ficar tentando me empurrar homem, mesmo eu repetindo mil vezes que não quero. Agora mesmo, tenho certeza que ela vai...

— Ih, ó lá quem tá aqui!

Quando olho para trás, vejo Nico. Ele é o gerente do restaurante, meu companheiro de trabalho. Está vestido socialmente, segurando um bloquinho para anotar pedidos. Tem o cabelo loiro cacheado, e olhos azuis claríssimos, como o céu limpo num dia de verão. A barba está por fazer, dando um charme a mais. Ele é bem bonito, de verdade. Seu rosto angelical contrasta com o corpo de costas largas. Segundo Anita, ele já esteve em sua academia e "o corpo dele parece de modelo." Apesar disso, ele é um fofo. Gosto muito dele. Como amigo.

Quando o encaro, ele está me olhando, e desvia os olhos apressado, indo fazer outra coisa.

— O Nico trabalha aqui, Anita. Todos os dias. — Me aborreço por ela continuar encarando ele, como um bicho com fogo nas pernas. — Ele é o meu gerente, então não. Nem pense. E para de ficar olhando, pelo amor de Deus.

— Ele já te chamou pra sair, né?

— E eu recusei. E daí?

— E daí, querida — Ela bate o copo na mesa, as bochechas vermelhas. Seu tom é falsamente dócil. — Que esse gostoso tem uma queda- não, um penhasco por você. Se você falar pra ele sentar, ele senta. Se falar vamos, só falta ele dizer au-au.

Com isso, ela gargalha sozinha, cobrindo a boca com as costas da mão.

— Pra você, todos os homens são loucos por mim.

— Você não conhece homens, amiga. Eles são movidos pela segunda cabeça deles.

— Segunda cabeça...?

— O pau, Maria Sofia! — ela praticamente grita, me deixando corada de vergonha. — É uma grande competição para ver quem vai te comer primeiro. Pra chegar nas rodinhas e falar: "Ei! Sabem a gata da Sofia? Eu tirei a virgindade dela!"

— Eu não me importaria de entrar nessa competição — Vem uma voz animada atrás de mim, rindo em seguida. — Tudo bem, meninas?

Anita se levanta em um pulo para ir beijar o namorado, que retribui fervorosamente. Eles praticamente gastam segundos se engolindo na minha frente. Fico desconfortável, esfregando as pernas enquanto tento tirar os olhos do beijo tão fervoroso. Tudo que eu não sou, Anita é. Talvez por isso somos amigas tão próximas, porque ela é muito diferente de mim.

Os dois enfim se sentam na minha frente. Eles fazem um casal bonito. Esteticamente, que eu diga. Anita tem a pele acobreada, cabelos lisos escorrendo pelas costas. Como ela é professora de academia e luta, seu corpo é torneado, elegante, não muito musculoso. Mais uma diferença, porque apesar de eu ser magra, quilinhos a mais me fazem ter mais peito, mais bunda, mais coxa — tudo flácido, é claro. Culpa do ovário policístico, não por conta da comida. Leo tem a pele mais retinta, o cabelo raspado e o sorriso se destaca em seu rosto, emoldurado por um óculos.

— Você pode falar essas coisas mais baixo? — digo pra Anita. — Ninguém sabe que eu sou...

A risada de Anita me interrompe.

— Sinceramente, Sofi? Não precisa de muito pra adivinhar.

— Então, o assunto é de novo a virgindade da Sofia? — Leo junta as mãos sobre a mesa, mas muda de ideia e ajeita os óculos. — O convite para o ménage ainda está aberto, viu? Falei sério sobre entrar nessa competição.

Ao invés de ficar brava, Anita ri e concorda. Eles têm esse tipo de relacionamento mais aberto — Anita fica com quem quer, Leo também. Eu sinceramente não entendo, mas funciona para eles. Quem sou eu pra falar de casais alheios? Vai saber é porque tenho só vinte anos e nunca tive namorado. Ela já tem vinte e sete e uma lista incontável de experiências sexuais. Não sei como me comportaria se estivesse com um homem. Mas definitivamente, não quero perder a virgindade em um ménage com o namorado da minha melhor amiga. Eu poderia observá-los... Talvez isso me faça ficar molhada. Talvez. Mas nunca vou conseguir admitir isso em voz alta.

— Sofi, se quiser, garanto que Leo é bem carinhoso. Como você é virgem, precisa ser, né? E garanto também que o pau dele é uma delícia.

— Não me levem a mal — corto ela —, Leo, você é incrível. A Anita é a mulher mais linda que conheço. Mas não... Se for pra perder a virgindade, tem que ser com... Alguém certo. Eu preciso sentir, sabe?

E sempre foi muito difícil sentir. Desde que me lembro, não houve um homem que conseguiu encharcar minha calcinha. Me fazer sentir esse fogo todo que Anita fala, a vontade de abrir as pernas e me deixar ser fodida. Não tenho interesse, simplesmente. Por isso não faço. Tenho mais coisa com que me preocupar.

Mas observar me faz ter uma sensação diferente. Não sei o que, exatamente. Mas parece tão errado... É mais fácil só esquecer isso. E virar a tia dos gatos.

— Aí, que fofa. Você é uma mulher de décadas passadas mesmo. — Anita revira os olhos com diversão, cruzando os braços. — Tá bom, bonequinha de luxo do século 21. Agora, conte para o Leo tudo que me falou. Prometo prestar atenção.

Falo de novo, mesmo exausta depois de lidar com o caos diário da sala de aula. As crianças corriam pela sala, brigavam para ver quem iria sentar perto de mim. Gritavam, interrompiam, falavam ao mesmo tempo. Empurravam, insinuavam umas às outras com provocações infantis, se sujavam, comiam cola... Tudo parte do aprendizado, pois precisam se expressar livremente, explorar e brincar. Em muitos momentos preciso chamar atenção dos modos mais inusitados e criativos: dançando, pulando, cantando, balançando os braços. Muitos já teriam perdido a paciência, mas eu nunca perco a calma e a doçura com nenhum deles. Eu amo o que faço. São crianças, e não devo esperar que ajam como adultos.

Mas Max não fez nada disso.

— Uma criança que não brinca, não fala, evita amiguinhos... — Leo olha para Anita, tentando entender, depois de eu terminar de falar.

— Espera... Você acha que ele foi abusado por esse tal Oliver Ono? Sofia, liga pra polícia agora!

— Não é assim que funciona, Anita. Preciso de provas pra acusar. Mas não acho que seja isso... — Sinto-me tremer, meus instintos. — No final do dia, falei para a turma fazer um desenho de suas vidas, incentivei a falar sobre sua família. Fiz isso justamente pra ver se conseguia tirar algo dele. Era a última atividade do dia. Quem terminasse, podia ir embora. Ele foi o último. Quando veio até mim com o papel, começou a chorar. E foi embora... assim... correndo. Fiquei desnorteada.

Os dois na minha frente estavam tão baqueados quanto eu. Nesse momento, sinto o celular vibrando no bolso.

— E o desenho?

— Não havia desenho.

— O quê? — Leo indagou.

— Ele tinha escrito uma frase inteira. Leo, eu juro que nunca vi uma criança de oito anos escrever tão perfeitamente. Então percebi que ele decorou as palavras. Ele... Ele escreveu... A frase que ele escreveu foi: 

"Não faça apostas com demônios. Eles cobram suas dívidas."


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E então?? O que acharam desse capítulo? As coisas tão começando a ficar TENSAS.

Sofi é bem inocente né, tadinha, rs. Mas quanto mais, melhor.

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Um beijo, beldades!


DOMINADA PELA MÁFIA - SÉRIE BLOOD & SWEETDonde viven las historias. Descúbrelo ahora