Capitulo 3

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Após ler aquela noticia, a doutora Mary dobrou duas vezes o pedaço de jornal e o devolveu a pasta de couro onde voltou a fazer companhia à carta que foi guardada antes.

  Depois de um longo tempo de vôo e algumas turbulências, Mary desembarcou no Aeroporto Internacional de Londres. Ao apear do avião, se dirigiu até o estacionamento, onde aguardava ansiosamente a chegada de um membro do hospital para conduzi-la ate as dependências da instituição em East Sussex.

  Após longos cinquenta e três minutos angustiantes de espera; ela avistou um enorme carro prata dobrar o jardim do estacionamento. O carro passou lentamente em sua frente, parou e abaixou o vidro, do interior do veiculo, uma voz rouca perguntou:

  - Doutora Willians? Mary Willians? 

  - Sim. Sou eu. - respondeu à psicóloga. – Você deve ser o funcionário do Hellingly, correto?

  - Sim, correto.

  A porta do carro se abriu e um elegante rapaz desceu e esticou a mão direita em direção a ela. Cumprimentou e se apresentou:

 - Santiago, a seu dispor.

   Santiago era um rapaz de trinta e três anos, tinha pele negra. Seus cabelos eram curtos, encaracolados e castanhos. Os olhos eram da mesma cor dos cabelos. Ele era natural do Brasil. Trabalhava no Hospital Hellingly há apenas cinco meses, apesar de ser formado em filosofia e física, foi contemplado com dois anos de estágio no hospital, onde colhia dados para o desenvolvimento de um importante trabalho cientifico com amigos brasileiros e britânicos.

  Gentilmente Santiago abriu a porta do carro para Mary se acomodar no seu interior, enquanto o mesmo guardava a mochila da psicóloga no porta-malas.

   Então ele entrou, abotoou o cinto e ligou o radio do carro, sintonizando-o em uma estação onde só tocava Beatles.

  - Beatles? – Indagou à psicóloga.

  - Sim Beatles!

  - Nem britânico você é. – retrucou à psicóloga imprimindo um tom irônico.

  - Tenho certeza que você adora comer massas e nem italiana é. E afinal de contas, estamos na Inglaterra! – respondeu o rapaz rindo.

  - Mas Beatles?

  - Sim! Beatles! – Gritou Santiago rindo enquanto aumentava o volume do rádio e cantava “Twist and Shout”

  - Curtindo a vida adoidado. – riu a psicóloga.

  - E ainda me diz que não gosta de Beatles!

   Ambos riram e se aquietaram em seguida. Não pronunciaram mais nenhuma palavra por um bom tempo.

   A viagem até East Sussex era longa e poderia ser muito mais, devido às condições que a Inglaterra se encontrava. O céu estava cinza, o sol não aparecia há dias era um inverno chuvoso no país britânico, diferente do ano interior, onde nevou praticamente todo o inverno.

   No caminho até o Hospital Hellingly, poucos carros transitavam. Apesar da chuva, se depararam com uma multidão aglomerada acompanhando um pequeno torneio de golf local. Apesar do mal tempo, podiam ouvir o belo canto dos rouxinóis, enquanto observavam um terrível acidente entre um carro e um caminhão de entregas no caminho para a instituição.

   Nos noventa e sete minutos de viagem, Santiago e Mary pouco se falavam. Ela parecia estar com medo de tudo que lera no jornal, apesar de uma parte do seu ser não acreditar naquilo.

   Ao adentrar na pacata cidade, Mary sentiu que o povoado era aconchegante.

  Santiago prevendo que a moça estivesse com fome, levou-a até um simpático restaurante chamado Prato de Arroz. A casa de refeições se localizava no pequeno centro da cidade, raramente se avistava um carro se aventurando pelas pequenas ruas daquele local. Suas dependências se encontravam em uma antiga casa medieval típica inglesa.

A Outra Face do MedoWhere stories live. Discover now