Capítulo 13

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Mary continuava no chão, rastejando de um lado para o outro como um verme, agonizando de medo como uma lesma quando leva uma “chuva” de sal.

– Santiago! Cadê você?! – Suplicava Mary com um tom de voz enfadonho, porém, toda sua tentativa de pedir ajuda para Santiago ia em vão, pois nem ao menos um ruído dele ela ouvia.

Do lado de fora, Santiago estava adormecido no carro. Certamente toda a discussão que tivera com a psicóloga juntamente com o vinho tinto que tomou no Prato de Arroz contribuíram para que o mesmo nem tivesse forças suficiente para subir até seu quarto, onde Mary suplicava por ajuda.

Debruçado sobre o volante, Santiago virava a cabeça de um lado para o outro enquanto resmungava algo sem parar. Sob o painel, seu celular vibrava em intervalos sistemáticos de sessenta segundos sinalizando o recebimento de mensagens. O celular não parava de vibrar e a cada vibrada, o painel acompanhava o movimento frenético do celular que “dançava” de um lado para o outro toda vez que uma mensagem chegava. Com todo aquele frisson do aparelho, Santiago começou a esboçar um despertar e ainda com os olhos fechados, pegou o aparelho e apertou um botão em sua lateral, que permitiu que uma mensagem pudesse ser lida. Mesmo com alguma dificuldade, o rapaz abriu os olhos e mirou-os para a tela.

– Não pode ser! – Disse ele passando as mãos nos olhos tentando despertar e espantar o sono que insistia em perturbar os seus olhos. – Se isso for realmente verdade, quem fez isso? Por quê? ­– Indagava Santiago enquanto lia a mensagem e passando a sensação de que aquele aparelho celular fosse realmente alguém com quem ele pudesse conversar intimamente.

No corredor frente ao quarto de Santiago, o silêncio dominava cada centímetro; Mary não esboçava mais nenhuma tentativa de pedir socorro. A porta do dormitório se encontrava entreaberta, apenas um pequeno espaço de abertura capaz de permitir a passagem apenas de uma pequena fatia de vento que continuava entrar pela janela, porém, agora com menos violência.

Mary adormeceu, provavelmente de medo, parecia que estava em aquele estado há muito tempo, porém o tempo não passava de alguns minutos. Engana-se quem achava que a psicóloga estava sozinha naquele quarto. Junto dela, alguns ratos passeavam próximos os seus pés nus; de um lado para o outro eles vagavam pelo quarto provavelmente em busca de alguma comida, porém, se não encontrassem algo para se alimentarem, as entranhas quentes e suculentas de Mary poderiam ser facilmente uma deliciosa refeição daqueles pobres e inofensivos e nojentos roedores. Além dos ratos, as baratas caminhavam e voavam sobre Mary e em todo aquele vasto quarto escuro. Saiam de todas as fendas daquele cômodo, desde fissuras ao pé da cômoda e da cama, até mesmo se expeliam de dentro do vaso sanitário do banheiro dentro do quarto de onde um forte odor exalava a todo o momento. 

Do lado de fora, Santiago continuava dentro do automóvel, olhando para o celular, não acreditando na mensagem que recebeu. Depois de alguns minutos sem reação, repousou o aparelho no banco do carona, bocejou e saiu do carro tomando o celular na mão direita. O rapaz caminhou pelo jardim ainda cambaleando um pouco de sono e seguiu caminho para seu quarto. Ao adentrar as dependências do hospital, Santiago nada podia enxergar, apenas apalpava os objetos para saber onde estava naquele vasto local.

– Que droga de escuridão! – Disse ele ligando a lanterna de seu celular.

Com a luminosidade do celular, que não era grande coisa, Santiago começou a galgar lentamente os degraus que o levava ao seu dormitório. Assim que chegou ao topo da escada, o rapaz começou a ouvir um barulho vindo do corredor de seu quarto, um gemido de medo misturado com o ar da angustia; apressou os passos até que chegou próximo à porta; viu-a entreaberta, sentiu o vento frio passando pela abertura e batendo contra seu corpo e mirando o celular para dentro, percebeu Mary deitada ao chão revirando-se de um lado para o outro, vestida apenas com um roupão felpudo, completamente nua por baixo e tendo como cobertor as baratas e ratos que aqueciam seu corpo das maneiras mais horrendas possíveis.

– Mary! Mary! O que faz aqui?! – Perguntou Santiago enquanto esmurrava a porta pesada tentando entrar em seu quarto.

Com o barulho dos murros na porta, o “cobertor” de Mary se assustou e rapidamente foi desfeito.

– Santi? Santiago? É você Santiago? – Perguntou a moça sem saber ao certo onde estava e nem o que estava acontecendo.

– Não Mary, não é o Santiago! Eu na verdade sou o Papa! É claro que sou eu, Santiago! E esse é meu quarto! O que está fazendo dormindo ai? Na verdade o que você veio fazer aqui?! – Indagou Santiago nervoso.

– Não sei Santiago! Não me amole, por favor! Que saco!

– É engraçado tudo isso Mary. Você vem no meu quarto, sem a minha autorização e fica histérica quando lhe pergunto que “diabos” veio fazer aqui? Você realmente não existe!

– Eu já lhe respondi! Não sei como vim parar aqui! – Respondeu Mary fechando o roupão ainda no chão.

– Apenas quero que se retire do meu quarto, por favor! – Ordenou o rapaz enquanto ajudava Mary levantar-se. – Espero que não tenha mexido em nada aqui, pois existem coisas de cunho pessoal que não dizem respeito a ninguém, muito menos a você! São coisas minhas e que devem permanecer apenas comigo e com mais ninguém, absolutamente ninguém! Não sei nem como teve a audácia de vir até aqui, pois depois do vexame que destes dentro do meu carro, deveria você ficar um bom tempo sem olhar para a minha cara e evitar em frequentar lugares que eu frequento, em especial o meu quarto! Por isso peço novamente que sai da droga do meu quarto agora!

Mary se retirou sem dizer nada, apenas colocou a mão em um dos bolsos do roupão e conferiu se os papéis que encontrará no quarto ainda estavam guardados. Caminhou devagar até chegar ao seu quarto; foi diretamente para a cama, retirou os recortes do bolso e colocou na escrivaninha próxima. Retirou o roupão e jogou-o no pé da cama. Apagou rapidamente assim que repousou a cabeça no travesseiro...

Enquanto isso no seu dormitório, Santiago sentou-se no seu leito e olhando para o celular abriu a foto do paciente enforcado e começou analisá-la de modo minucioso em uma tentativa de encontrar algo suspeito, entretanto, a mensagem que recebeu enquanto estava na garagem já havia deixado-o intrigado com tudo o que aconteceu naquele hospital. Porém tudo o que aconteceu deixou o rapaz muito desgastado e enquanto tentava raciocinar algo útil, foi vencido pelo sono e adormeceu com o celular ligado em uma das mãos deixando a mensagem misteriosa amostra.

A Outra Face do MedoWhere stories live. Discover now