— Faz um tempão que estou tentando resolver isso aqui e não consigo passar do exercício três. — massageou o coro cabeludo com os dedos, fechando brevemente os olhos. — Que inferno! — disse baixinho.

      — Ei, relaxa. Te garanto que ficar assim não vai te ajudar. — disse, tocando seu antebraço. — Tu tem que dar um tempo, respirar longe disso, focar em outra coisa. Aí, depois, tenta de novo.

Yara pensou um pouco. Realmente, ler e reler o exercício varias vezes não estava ajudando. Pelo contrário, só fazia com que se sentisse frustrada.

Por fim, concordou:

       — É, acho que você tem razão.

Léia piscou um olho, finalizando a sua bebida.

       — Mas, vem cá. Tu comeu alguma coisa, pelo menos?

Lacerda não respondeu, limitando-se apenas a morder o lábio inferior, enquanto repetia o gesto anterior da garota de observar os outros alunos ao redor; sua cara declarando, como um letreiro em néon, que a resposta era negativa.

Não havia metido nada dentro de si desde o pequeno-almoço, cerca de quatro horas antes.

      — Ah, então deve ser por isso que a senhorita tá tendo problemas aí nos exercícios. — deixou a bandeja de lado, cruzando as mãos na frente do peito. — Não sabe que quando o estômago tá vazio, a mente não trabalha como deve ser?

Yara não pôde deixar de achar adorável o vinco que se formou entre as suas sobrancelhas — demonstrando sua preocupação —, ao mesmo tempo perguntava-se se era coisa da sua cabeça ou estavam alcançando um certo nível de intimidade.

Não que estivesse reclamando. Achava-a simpática e até então não lhe parecia invasiva.

      — OK, eu sei que eu devia ter comido alguma coisa, mas eu me distraí aqui com os exercícios. Agora já não vai dar tempo. — olhou as horas na tela bloqueada do celular. — Faltam apenas três minutos para o toque.

      — Tem que dar. Nem que seja pra comer apenas um iogurte ou uma frutinha, de leve. — insistiu, fechando-lhe o caderno, antes de arrastar para o lado, com o estojo por cima. — Acho que você não quer correr o risco de, sei lá, desmaiar no meio da aula. Ou quer?

      — Eu consigo aguentar, Léia. Sério. — apanhou os materiais para guardar na mochila. — Já tive dias piores.

      — Então o que tu acha desse ser diferente? — respondeu, perspicaz, lançando-lhe uma piscadela. — Vem.

Estendeu a mão direita por cima da mesa para que a menina Lacerda segurasse, e o olhar drla saltou dali para seu rosto, depois para o espaço quase vazio — a não ser pela presença delas e da senhora no balcão — e, por último, para seu rosto novamente.

      — Eu prometo que, se tu vier, eu te levo pra fazer uma tour pela escola e, de quebra, contar a história da fundação. — balançou os dedos, ainda com a mão suspensa, chamando por ela. — E então? Sério que tu vai recusar uma oferta dessas e correr o risco de se perder aí pelos corredores? Nossa!

Yara semicerrou os olhos para ela, recebendo um sorriso inocente de sua parte, incrédula com a lábia daquela garota que lhe encarava fixamente, à espera de uma resposta.

Pensando bem, uma visita guiada pelo Armando Lima não lhe parecia ser uma má ideia, tendo em conta que apenas o edifício principal era imenso e já se perdera por ali certa vez à procura da casa-de-banho, e começava a gostar da companhia da garota dos dreads longos.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now