Só Mais Um Clichê

Capítulo 6 - Chocolate quente e confusão

— Hum... — a garota murmura pegando um dos papéis e abrindo o mesmo para poder ler. — Michael Bernardi — ela diz, parecendo animada com o nome que tirou.

— Ótimo! Espero que vocês façam um bom trabalho — a professora pareceu ter falado aquilo com toda a ingenuidade do mundo, mas tenho certeza que todos os outros alunos notaram o olhar malicioso da garota sobre o tal Michael.

— Não seria nada mal se fossemos uma dupla — Daniel diz baixinho, para evitar de chamar a atenção da professora. — Adoraria me tornar seu amigo — continua, com o mesmo sorriso galanteador. —, ainda teríamos tempo para as nossas aulas de guitarra.

Dou risada.

— Não me lembro de ter aceitado nenhuma aula de guitarra.

— Não precisa de palavras, posso ver nos seus olhos, gata — tive que segurar uma risada alta com toda aquela convicção.

— Mal te conheço — brinco. Daniel dá risada.

— Isso não é um problema — ele aponta a nossa volta. — Estamos presos nesse inferno por um ano inteiro, oportunidade para nos conhecermos melhor é o que não vai faltar.

— É, acho que você tem razão.

— Isso quer dizer que você aceita sair comigo depois dessa aula? — ele me encara com expectativa.

— Sair pra onde? — questiono, franzindo a testa. — Você mesmo disse que estamos presos aqui.

— Mas não quer dizer que não possamos nos divertir aqui dentro mesmo — ele parece pensar. — O chocolate quente daqui é uma das únicas coisas boas desse lugar. Você pode vir comigo, antes do treino do time de futebol — ergo as sobrancelhas.

— Você faz parte do time?

— Desde que entrei aqui — ele encolhe os ombros. — Mas estou pensando em sair.

Estava pronta para perguntar o porquê, mas fui interrompida pela voz da professora de música.

— Liz, querida — ela me chama com um aceno de mão. — Venha, sua vez.

Me levanto, caminhando em sua direção. Daniel sussurra um "boa sorte", me fazendo sorrir. Vejo que Ethan me seguia com o olhar. Parei ao lado da professora, esticando o braço para pegar um dos papéis. Puxo qualquer um – sem fazer cerimônia –, enquanto toda sala ficou em silêncio.

Paraliso quando leio o nome em um sussurro.

Ethan Collins.

Puta merda! Qual o problema do universo comigo?

O meu surto interno foi interrompido pela voz doce da professora.

— Quem você tirou, meu bem? — ela pergunta, com um brilho curioso.

Mordo a parte interna da minha bochecha levantando o olhar para Daniel, que me encarava em expectativa. Desvio meu olhar para Ethan, me senti queimar por dentro quando notei que ele já estava olhando pra mim.

— Ethan Collins — conto em um tom não tão animado quanto deveria.

— Perfeito! — a professora bate palmas colocando uma mão em meu ombro. — Tenho certeza que vocês vão se sair muito bem. É a primeira vez que temos uma violinista no grupo e, não tenho dúvidas de que será uma apresentação espetacular — ela dá um tapinha em minhas costas me incentivando a voltar para o meu lugar.

— Não vou fazer dupla com ele — digo, quando volto a me sentar no meu lugar.

A sala fica em silêncio, até a voz do Ethan cortar a professora que estava prestes a falar.