Pensão Solitarius [Taekook]

021 🐺

Gatilho: Relacionamento abusivo

Capítulo 21

PARAÍSO DA LUXÚRIA

Futuro paciente: KIM TAEHYUNG, 00137.

Ouço os berros da mamãe ecoando pelos corredores. A forma como ela diz "Você é um filho inútil, Kim Taehyung" me parece tão familiar. E depois de tantos anos ouvindo isso, você acaba acreditando.

Subindo as escadas vem o meu velho pai; as pantufas largas deslizando no assoalho recém reformado da nossa casa enorme e melancólica. Ele tentava controlar a esposa, segurando-a pelos braços magros.

— Ele é seu filho, como pode dizer coisas absurdas assim, Kyeon? — meu pai dizia pela terceira vez essa semana, puxando-a para longe de mim.

— Filho? Me envergonha pensar que isso saiu de dentro de mim.

— Chega, mulher! — ele gritou e no mesmo instante Henry surgiu no último degrau, olhando para a cena com uma expressão entediada.

— Oh, meu bebê. Como foi seu dia? Como está tudo lá na Central? — Kyeon, minha mãe, perguntou com uma voz doce e enjoativa.

— Tudo normal — respondeu, curto e grosso. — O que esse moleque fez dessa vez?

Henry olhou para o meu corpo magro de dezesseis anos sentado no chão. Eu limpava o nariz com a manga da blusa onde um rastro de sangue jorrou depois de receber um tapa da nossa mãe.

— Oh, querido. — Ela tirava fiapos imaginários do terno chique dele. — As coisas de sempre, esse ingrato ainda vai adoecer sua pobre mãe.

— Esqueça esse garoto. Venha, vou preparar um chá para a senhora — disse Henry, meu irmão perfeito, conduzindo-a até a escada.

O salto da mamãe batucou no assoalho, mas parou pouco antes de encostar no segundo degrau. Ela tornou a olhar para mim. Seu braço magro chacoalhando na minha direção e o tilintar das pulseiras douradas, largas demais para os pulsos dela, soavam como o badalar de um sino anunciando meu funeral.

— Arrume essa bagunça e desapareça da minha frente. Você entendeu, seu pequeno verme?

Um milhão de respostas passaram pela minha cabeça, mas nenhuma delas me pareciam boas o suficiente. O que um verme poderia ter dito? Alguém escutaria o que um ser vivo tão asqueroso e repulsivo como um verme teria a dizer? Há muito tempo minha única resposta era o silêncio. Um total e doloroso silêncio.

— Precisa desculpar sua mãe, ela não faz por mal — Antoine, meu pai, disse enquanto me oferecia o ombro como apoio para eu me levantar.

— Às vezes me pergunto quem eu odeio mais, ela ou você?