CAPÍTULO 08 - Entre galhos e mais galhos

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A viagem não durou mais que trinta segundos de muita claridade, e logo eu senti uma brisa fria tocar o meu rosto. Graças à luz da lanterna pude entender melhor o local em que estava. No meio de uma grande floresta de árvores mortas, como se alguém estivesse jogando algum veneno super poderoso ou sugado, de alguma forma, toda a vida ali presente. Deixando apenas aquela estrutura escura e ressecada, que dava a impressão de que iria cair a qualquer momento.

O chão era feito de terra escura e seca, não havia pedras ou nenhum caminho que determinasse por onde seguir. E no horizonte não avistei nenhum ponto de luz ou algo parecido, era apenas escuridão e árvores mortas de diversos tamanhos. Restava apenas seguir em frente na tentativa de encontrar alguma pista de para onde ir.

Meu coração batia um pouco acelerado, acredito que seja normal quando você está em uma floresta escura, principalmente quando é em um mundo com criaturas as quais você jamais imaginou existir. Mas minhas opções eram ficar ali ou seguir andando entre a paisagem monótona.

Com toda certeza eu já havia andando por mais de horas. Se aquela floresta fosse do tamanho da floresta amazônica seria complicado achar um portal, mais difícil que uma agulha no palheiro, não iria encontrar uma saída nunca. Os últimos mundos em que havia percorrido geralmente possuíam um caminho a seguir ou sinais que me fizessem ir a determinado ponto. Mas esse era diferente, não existia nada que me levasse a entender para onde seguir. Sem bussola ou referência eu não conseguia nem identificar o próprio caminho no qual estava traçando.

No momento entendi o porquê João e Maria deixaram migalhas de pão, mas no final, sabemos que essa não foi uma alternativa muito segura, uma vez que os animais da floresta comeram tudo. Mas naquele imenso lugar sem vida, acho que funcionaria, se bem que se eu tivesse algum pão, iria guardar para comer mais tarde, ou trocaria por um pouco de água se tivesse essa opção.

Um barulho soou a frente, fazendo eu sair um pouco dos meus pensamentos, voltando para a realidade a qual estava vivendo. Virei a lanterna para a direita, de onde acreditei vir o barulho e vi apenas um pedaço de árvore caindo ao chão. Provavelmente foi de onde veio o estrondo que deixou meu coração acelerando.

Falei comigo para manter a calma, era apenas um pedaço de árvore, tudo relativamente normal. Mas antes que meus batimentos se regulassem, ouvi outro barulho. Outro pedaço de árvore que estava a minha direita caiu no chão. Virei a lanterna rápido para a árvore da qual o galho caiu e vi algo se mexendo de forma muito rápida. Não consegui entender o que era, a criatura pulou para outro galho. Tentei acompanhar seu movimento com a luz da lanterna, mas outra vez saiu de vista.

Parecia uma típica cena de filme de terror. Escutei passos rápidos atrás de mim, virei a lanterna, mas novamente não consegui avistar nada além de algumas árvores mais ao fundo. Meu coração estava quase que saindo pela boca nesse momento. Alguma criatura sinistra estava ali preste a me atacar!

Comecei a correr, como se não houvesse amanhã. Algo me seguia em meio às árvores pela direita, ficando cada vez mais próxima, o que me forçava a correr fazendo uma curva para a esquerda. Em um momento a criatura atravessou na minha frente seguindo seu caminho para a esquerda, por um breve segundo eu vi um pouco do seu corpo espinhoso. A criatura parecia uma árvore bípede toda verde escura, com um olho no que deveria ser a cabeça. Com toda certeza ela teria mais detalhes sinistro, mas esses foram os que consegui identificar naquele breve momento.

Agora ela corria à minha esquerda, parecia seguir sempre a minha velocidade. Corria batendo sempre batendo nas árvores para fazer barulho, como se fizesse questão de mostrar que ainda estava a me seguir. O que era estranho, ela poderia ter me pego no exato momento em que saltou na minha frente, mas ao invés disso, passou para minha esquerda e continuou a correr. Foi quando percebi que ela estava brincando de presa comigo, corria sempre ao meu lado na tentativa de me levar para algum lugar proposto, onde seria mais fácil de concluir seus objetivos, seja lá eles quais eram.

Mas eu não iria facilitar as coisas, virei para a direita e comecei a correr para longe. Foi quando pela primeira vez escutei um som diferente em meio a toda a floresta.

— PROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM

Era um som alto, me lembrava muito uma trombeta.

Continuei a correr, não queria descobrir o que aquele som representava, mas nem sempre as coisas ocorrem como desejamos. Uma grande movimentação surgiu atrás das árvores as quais eu passava, e também a minha direita, logo o local estava cercado por várias criaturas. Mas eu não iria desistir tão fácil, continuei a correr, mas duas delas apareceram na minha frente.

Parei e levantei a lanterna em sua direção, o que me permitiu ver mais detalhes sobre aquele tronco de arvore vivo que estava imóvel bem na minha frente. A criatura possuía uma pequena boca escura um pouco abaixo do seu único olho. Seus braços e pernas lembravam muito a de humanos, mas eram feitos de cipós. Ao menos não havia espinho como o resto da estrutura de seu corpo.

Virei a lanterna para o lado, na tentativa de achar algum local para qual pudesse correr, mas para onde olhasse via outras iguais aquelas criaturas, todas estranhamente paradas em silêncio olhando em minha direção. O único som que podia ser ouvido no presente momento era o da minha respiração ofegante.

Não consegui pensar em uma forma de sair de perto delas, eram mais rápidas e estavam em grandes números. Meu nervosismo só não era maior pelo fato de que elas ainda não haviam me matado, mesmo isso sendo de extrema facilidade. O que me levava a pensar que elas tinham algum plano para mim, restava torcer para que fosse algo positivo.

Uma das criaturas que estava adiante, deu uns passos lentos em minha direção, a luz da lanterna mirava em seu olho, mas não parecia lhe incomodar. Ela ficou apenas alguns centímetros do meu corpo, parecia estar me analisando. Depois de mais algumas respirações ofegantes de minha parte, ela virou para frente e começou a seguir. As outras fizeram uma espécie de cordão em volta de mim e começaram a seguir o que parecia ser o chefe. E eu acompanhando de forma involuntária aquelas presenças desagradáveis e espinhosas que me faziam de refém.

Seguimos alguns minutos para frente, em seguida para a esquerda, e depois viramos para mais alguns lados do qual não mais me recordo. Algumas delas nos acompanhavam de cima, pulando de ganho em galho nas árvores, outras seguiam pelos lados. Era uma grande caravana a qual me levava floresta adentro.

Acredito que já havíamos andando por mais de duas horas, quando finalmente chegamos a um local sem árvores. As criaturas andaram mais um pouco e pararam, o chefe deles que ainda estava em minha frente, virou para mim outra vez e andou em minha direção. Voltei a respirar fundo, não sabia o que aconteceria a seguir, mas acreditava não ser nada bom...

Ao chegar perto de mim, ele levantou um de seus braços e senti uma movimentação ao meu lado, alguma criatura me empurrou pela cintura. Cai embolando no chão, era tudo escuro, minha lanterna escorregou da minha mão, por sorte, caiu bem a minha frente. Peguei-la rapidamente para entender o que estava acontecendo. Eles haviam me jogado em uma pequena vala, de um metro e meio de altura. Eu até poderia sair de lá facilmente, mas as criaturas estavam ao redor, impedindo que eu escapasse.

Mas as coisas que aconteceram em seguida nem me permitiram tempo para pensar em maneiras de sair. Um enorme barulho de trombeta soou onde estávamos, dessa vez bem mais alto do que o anterior. O chão começou a tremer, como se vários cavalos estivessem correndo ao redor. Fiquei olhando em todas as direções para tentar entender o que estava causando toda aquela agitação no solo.

Através dos espaços das pequenas pernas das criaturas que estavam em volta da vala, avistei várias criaturas se aproximando em grande velocidade, eles eram bem parecidas com as que me pegaram, porém, brilhavam no escuro em um tom verde neon, permitindo que visse aquele mar verde que chegava a minha esquerda sem precisar da lanterna.

Ao chegarem mais perto, diminuíram a velocidade e vieram andando até o local em que eu estava. Algumas das que estavam ao redor da vala saíram, e as neon assumiram o seu lugar. Depois que todos os locais foram preenchidos, as criaturas ficaram paradas olhando para mim, enquanto me sentia uma pequena presa cercada por predadores que a qualquer momento iriam me dar um bote.

Uma das criaturas neon deu um salto na vala, andei para trás e percebi que ela ficou mais reluzente, como se estivesse excitada ao me ver com medo. Continuei dando alguns passos, mas já estava com as costas na parede, não teria mais para onde ir, seria agora esperar morrer por aquela estranha criatura fluorescente. 

Para onde vão as estrelas?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora