IV

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Tereza caminhou em meio ao castelo a passos largos, evitando os corredores mais movimentados no intuito de não ser interrompida. Ao chegar ao dormitório da rainha, buscou algo que Serena pudesse vestir, visto que suas roupas estavam puídas e exalavam mau cheiro. Depois de separar algumas peças, parou em frente a um quadro antigo que continha Adam e Helena sorrindo com um bebê nos braços. Uma família linda, porém, aparentemente maldita, levando em consideração os diversos acontecimentos trágicos em suas vidas.

O primeiro ocorreu após o nascimento de Serena, que sofrera inúmeras ameaças de uma das maiores inimigas do reino, Káfira. Com medo do que pudesse acontecer a ela, os reis decidiram por arquitetar seu falecimento, abrindo mão de sua criação. A menina fora entregue a uma das criadas mais fiéis e melhor amiga da rainha, Mama. Decidindo assim que o melhor seria que jamais descobrisse sua origem. Isso persistiria se não tivessem sido descobertas.

Para pesar ainda mais a balança de desastres da família real, o rei acabou falecendo anos depois, em meio a uma excursão ao reino vizinho. Ele e seus acompanhantes foram atacados por monstros que os desmembraram, espalhando partes de seus corpos em meio à floresta. A única coisa que conseguiram identificar dele fora um pedaço de sua mão contendo a aliança real. A notícia gerou um grande transtorno a Helena que tivera que segurar as rédeas do reino sozinha ao mesmo tempo que sentia seu coração despedaçado por perder o homem de sua vida. Apesar do luto espalhado por todo o reino, não demorou muito para que o povoado criasse rumores acerca da mulher que foi tida como amaldiçoada devido às mortes ligadas a ela.

— Tereza?

Ao ouvir a voz máscula chamando seu nome, escondeu a imagem junto à trouxa, pondo-a atrás de seu corpo. Fazendo com que o jovem que a procurava lhe encarasse com estranheza, devido a sua reação.

— Precisa de algo, Senhor Caio?

— Na verdade... — mudou a expressão em seu rosto enquanto refletia — está tudo bem?

— Por que a pergunta?

— Quando cheguei a senhora parecia... assustada.

— É que estava com meus pensamentos longe imaginando como a rainha devia estar — mentiu.

— Entendo. — O rapaz alisou os cabelos dourados caminhando em direção à janela a sua frente. — Também não consigo parar de pensar nisso. Não sei como algo assim aconteceu.

— Ninguém esperaria que Káfira atacasse a carruagem. Quero dizer, como ela saberia?

— Exato, a não ser que... — Coçou o queixo, pensativo.

— Que...

— Que haja um traidor entre nós.

— Acredita mesmo que alguém próximo seria capaz disso?

— E por que não? Talvez Káfira tenha proposto algo em troca. — Respirou fundo admirando o horizonte através da janela. — Marcarei uma reunião com o conselho para discutirmos essa possibilidade.

— Falando em possibilidade, existe alguma de descobrirem a localização da rainha?

— Acredito que sim, mas até o momento não tivemos nenhuma notícia ligada ao seu rapto. Tudo que a equipe de buscas encontrou até agora foram monstros mentirosos dispostos apenas a atrapalhar.

— Uma pena, querido, mas tenho certeza que conseguirão encontrá-la. — Pôs a mão no ombro dele em sinal de apoio. — Agora se me der licença, preciso lavar essas roupas sujas.

— Quer ajuda?

— De maneira alguma. Deixe que eu cuido disso.

O rapaz de olhos tão azuis quanto o mar límpido concordou sorrindo enquanto a mulher se afastava um tanto nervosa. Caio logo viu que algo estava errado e por mais que quisesse espantar os pensamentos duvidosos de sua mente acabou seguindo-a. Durante o trajeto, notou que Tereza caminhava afobada, como se tivesse pressa de chegar onde queria. Era estranho vê-la agindo daquela maneira e sem querer começou a se perguntar se ela não era uma das traidoras. Por mais que a visse como uma das pessoas mais honrosas temeu que estivesse certo.

Mundos Distintos - Trilogia SerenaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora