Era apenas um dia comum para a jovem que, como de costume, despertava com o aroma do desjejum que se espalhava pela cabana, à medida que sua mãe o preparava. O cheiro que sentia era convidativo e fazia sua barriga roncar, mas mesmo com fome, Serena ponderou sobre permanecer na cama ou não, levando certos minutos para de fato se colocar de pé e enfrentar aquele dia. Assim que chegou à cozinha, aproveitou o momento de distração de sua mãe para caminhar vagarosamente até ela, no intuito de dar um susto na mulher que parecia não ter notado a presença da jovem. Porém, antes que pudesse consumar o ato, foi surpreendida.
— Não faria isso se fosse você, mocinha! — comentou enquanto misturava água quente a algumas ervas.
— Ei, como me descobriu?
— Tenho olhos por trás da cabeça — brincou sem tirar os olhos no que fazia.
— Se és tão esperta, então preveja isso! — A garota lhe abraçou com força depositando um beijo molhado na bochecha da mulher, quase a tirando do chão com tamanha empolgação. Porém tal momento foi interrompido assim que a garota mirou a mesa.
— Nossa, por acaso o padeiro vai vir aqui? Tem coisas deliciosas demais hoje — comentou travessa enquanto tentava beliscar um pedaço de bolo.
— Do que está falando? Além do mais, tenha modos! — Deu um tapa de leve nas mãos da garota, que soltou o bolo antes que chegasse a sua boca. — Coma como gente. Com os talheres.
— Mas estamos só nós duas. — Deu de ombros, voltando a conversa para o assunto principal, o possível romance de sua mãe. — Fora que sabes muito bem que o Sr. Eliot gosta da senhora. E sei que também tem este mesmo apreço por ele. E não adianta negar, pois suas bochechas coraram só de eu dizer o nome dele.
— Não sei de onde tira essas coisas, menina — ela a repreendeu com um leve sorriso nos lábios. — E não tente mudar de assunto, pois sabe muito bem que não me agrada quando come com as mãos.
— Mas isso é tolice. Não é como se eu fosse algum dia me servir à mesa com nobres.
— Não importa! De qualquer modo quero que saiba se portar. Falando nisso, lestes o livro que te dei?
A morena negou com a cabeça.
— Serena! Seus pais não a colocaram neste mundo para que não tivesse oportunidade de ler ou escrever.
— Mas os pais que moram nos vilarejos não se importam de seus filhos não saberem essas coisas. — Revirou os olhos. — Fora que os meus pais não estão aqui mesmo.
— Eles podem não se importar, mas os seus certamente se importariam. Eu mesma me importo.
— Mas isso de nada adianta. Em vez de eu perder tempo com coisas assim, deveria ajudar a senhora com as vendas das verduras.
— Não vamos discutir sobre isso novamente. — Colocou-se de pé, dando as costas à jovem, na tentativa de nem sequer iniciar aquele assunto.
Estava habituada a ouvir as reclamações de Serena que sempre queria fazer mais que ficar em casa e estudar. Tanto que já fazia algumas semanas que ela insistia com isso, porém sempre a fazia seguir suas ordens. Até que nas últimas semanas a teimosia da garota foi crescendo a ponto de a mulher não conseguir mais controlá-la.
— Claro que precisa. — Foi até a mulher que a criava, que arrumava algumas coisas na casa de maneira frenética, como se quisesse fugir daquela conversa. — A senhora tem estado mais cansada que o normal, não pode ignorar o fato de que posso ajudá-la. Não sou mais criança, tenho 17 anos.
— Mesmo que tivesse cem anos, não permitiria isso. Tens que estudar. Quero que seja alguém na vida.
— Tudo bem, tudo bem... Olha — parou em frente a ela para que a escutasse de verdade —, vamos fazer assim, eu a ajudo com as vendas pela manhã e no resto do dia me limito a estudar.
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Mundos Distintos - Trilogia Serena
Fantasy[LIVRO 1 DA TRILOGIA: SERENA] Tudo que Serena compreendia como verdade fora destruído, juntamente com os segredos que sua família possuía. Descobrindo que nada era como ela pensava ser, terá de enfrentar seus maiores medos e superar os obstáculos qu...