III

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Káfira penteava seus longos cabelos loiros, deslumbrada por sua exuberante imagem refletida em frente ao espelho da penteadeira. Contente com a beleza que possuía, seus lábios se alongaram em um largo sorriso, deixando à mostra seus dentes perfeitos. Ao se pôr de pé, desfilou vagarosamente por seu quarto, permitindo que seu chambre caísse e expusesse seu formoso e pálido corpo nu. Parando em frente ao seu dossel, pegou um pequeno calção e o vestiu. Em seguida, pôs o corpete e com as mãos para trás apertou-o com força, deixando seus seios fartos à mostra. Por cima disso tudo, acomodou seu vestido esverdeado tomado por pedras encrustadas das mangas até a sua cintura. O decote redondo em conjunto com os babados encontrados na barra dava à vestimenta um toque refinado, mas ao mesmo tempo, sensual. Em seguida, calçou os sapatos e para finalizar pendurou em seu pescoço um colar de pedras preciosas que desciam em cascata por seu colo. Foi até o espelho e admirou-se de cima a baixo, sentindo-se bela e vivaz, como há muito não sentira. Não somente por ser de fato esbelta, mas também por ter realizado um de seus maiores sonhos: o de capturar a mulher que por longos anos desgraçou sua existência.

Saber que faria Helena sofrer a revigorava, pois queria que ela sentisse na pele tudo que passou, porém, para isso, precisava que seus vassalos retornassem com seu "pacote" para poder concretizar o plano. Haviam entrado em contato horas antes lhe avisando sobre o sucesso de sua caça e que em breve regressariam. Ansiosa pela novidade decidiu aguardá-los no salão principal, pois não queria perder um minuto sequer.

O som de seus sapatos ecoava por todo salão e à medida que seguia adiante, seus empregados fugiam de seu campo de visão com medo de que a mulher se incomodasse com a presença deles. Pois era mais que sabido de que não precisava de muito para que ela perdesse a pouca paciência que tinha. Com uma postura impecável, se acomodou em seu trono e com a magia que emanava em seu ser, fez com que em sua mão surgisse um cálice com vinho.

— Tragam-me a prisioneira — exigiu entre um gole e outro do líquido arroxeado.

Rapidamente, dois homens arrastaram a mulher e a jogaram aos pés de sua rainha. Devido à fraqueza sentida, Helena se limitou a se ajoelhar, cansada pelos incessantes maus-tratos.

— Como se sente sem seus poderes? — a loira debochou. — Não sabe o quanto me alegra vê-la assim. Agora pode sentir na pele tudo que eu passei.

— Não sei do que está falando — respondeu com a voz rouca. — Nunca lhe fiz mal.

— Você me impediu de ficar ao lado de quem mais amo.

— Adam tomou a decisão dele. Se te amasse, teria escolhido por você.

Enraivecida, Káfira jogou a taça com vinho no chão e foi até a mulher completamente fora de si. Com força, desferiu um tapa em seu rosto, fazendo com que Helena pendesse para o lado quase caindo. Com o gosto de sangue na boca devido ao tabefe ainda foi capaz de rir com escárnio, antes de dizer:

— Acha que tenho medo de você? Medo de suas ameaças? De suas palavras? — Cuspiu no chão, eliminando a saliva com sua seiva. — Tudo que tenho é pena. Pena que perdestes toda uma vida no intuito de concretizar uma vingança sem sentido.

— Não quero que tenha pena e nem sequer medo. — Agarrou os longos cabelos negros de sua presa, vociferando. — Só quero que perceba que mexer comigo foi o maior erro que cometeu. — Soltou-a com violência.

— Isso só prova que sua obsessão não tem mais nada a ver com seu amor não correspondido, porque se tivesse já teria desistido disso no instante que Adam morreu.

— Morte?! O mesmo tipo de morte de sua querida filha?

Helena a olhou nos olhos sem ser capaz de conter o espanto.

Mundos Distintos - Trilogia SerenaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora