Capítulo 4 - Orgulho Ferido

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Elena

A notícia me atingiu rápido, como aqueles metrôs que nunca pude ir, afinal de contas, não era um transporte para nós. Já meu coração, apostou corrida, acelerando cada e cada vez mais. Minhas pernas vacilaram, e uma sensação brusca desceu da cabeça até a espinha.

Eu estava de queixo caído e meu orgulho, ferido. Eu poderia simplesmente desistir, já que meus sonhos desfeitos e esforços acabaram por servir bulhufas. Mas eu lembrei que não era dessas coisas, além de paradas mais importantes estarem em jogo.

"Não se consegue nada ficando aí parado" retumbou pela minha cabeça. A frase tão característica de meu pai me motivava a seguir em frente, a não ter sido uma molenga apesar das adversidades.

Se eu desistisse ou então perdesse, estaríamos na pior; nossa renda iria no buraco, além da primeira opção soar humilhante demais. No fim, o Salário Pátria, uma bonificação e resquício da morte de papai, só valia até a minha idade atual. "Eu vou ter que me virar".

"Bola pra frente" eu mantinha em mente, para que me proibisse de chorar. Trancafiei aquele sentimento ruim dentro de mim, engoli-o seco, esperando que sumisse. Ele se converteu em uma enxaqueca; pelo menos, não se exibiu em água. É claro que o medo continuava ali. O medo de perder, de ver a família na pior, de uma vida na miséria.

Balancei a cabeça em negação, como se fosse expulsar aqueles pensamentos de vez. Eu queria tanto que fosse tão simples assim. Eu queria tanto desligar meus sentimentos em um clique.

"Que se dane esses sanguessugas, que se dane tudo!" explodi em pensamento, comprimindo meu maxilar, assim como os punhos. Senti a raiva pulsante tomar o controle, a pele se esquentar sobre minhas bochechas. Era horrível trabalhar duro para terminar assim. Isso era tão injusto.

Foi então que ouvi uma voz, que me tirou dos meus pensamentos.

— Sete, onze e treze, Shuttle Run — a avaliadora, aquela dos olhos de bronze, apontou com o dedo para três linhas: brancas, paralelas e feitas de tinta, dispostas logo à frente das barras de antes. Na frente destas, ficavam outras marcações idênticas.

Shuttle Run era a corrida de ir e vir, mas como adoravam complicar as coisas, o chamavam assim. Eu iria ter que trazer os dois bloquinhos de madeira de um ponto até o outro. Eu só precisava manter minha respiração e velocidade controladas. Na teoria, era simples.

Fiquei atrás da demarcação e coloquei o pé direito à frente do esquerdo. Um suor frio teimava em escorrer pelo meu pescoço, o coração batia rápido, além de uma angústia assolar meu peito. "Isso mesmo, o mundo não iria parar por conta dos meus problemas pessoais".

Não pude evitar uma expressão carrancuda, dividida entre o ódio e perturbação.

— Em suas marcações, e... Já! — Berrou a mulher.

Corri o máximo que conseguia, também, para gastar o ódio. Eu inspirava e expirava o ar rapidamente, como forma de suprir aquele esforço. Cheguei até a linha oposta, passei meu pé por ela, agachei e peguei um bloco. Fiz o mesmo processo, corri tentando manter a velocidade, abaixei, passei o pé e depositei o objeto de madeira na linha de início.

Ao finalmente ir e voltar mais uma vez, coloquei a madeira no chão da largada. Bufei.

A instrutora loira, responsável por mim, apertou o botão do cronômetro e dedilhou algo na caderneta que portava.

Subitamente, as colocações dos nomes no grande telão mudaram. Eu estava parelha com um tal de Mihai, porém, minha posição continuava a mesma, décimo sexto lugar. Meu tique de ranger dentes veio com tudo, junto com mais estresse. Me contentei em ficar de pé para não esmurrar o chão de raiva, ou então, chorar encolhida. Limpei o "suor" das bochechas.

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