Capítulo 29 - Um homem arrependido

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Filho... — Soraya estava pronta para acolher seu filho mais velho novamente. Está tudo bem. Eu o perdoo. Afinal... — Soraya segurou o choro. Gillani está morta. Você é sangue do meu sangue, o único que permanece vivo. Não quero perdê-lo como a perdi.

Resfolegando, Rhemi soltou um murmúrio sôfrego, como se dizendo algo para si mesmo que Soraya não foi capaz de identificar. Tornou mais um gole de cachaça, o alcoolismo estava prestes a fazê-lo dizer o que não deveria ser dito.

Gillani... — Sua voz era vacilante. Não era mais Rhemi falando, era o álcool. Gillani está morta por minha causa.

Soraya levantou as sobrancelhas. Como seria possível? Gillani havia sido morta pelos Kantaa, ela sabia disso. Chegou a cogitar influência dos Eran nisso Uma vez que Monvegar Eran ainda faria de tudo para matar sua filha bastarda, se soubesse onde ela estava. Mas dos Saphira? Pior ainda... De Rhemi?

Do que você está falando? — Soraya soprou a fumaça do cigarro. Estava tensa, as coisas não se conectavam em sua mente. Gillani foi morta em uma expedição Kantaa. Todos sabem disso.

Rhemi fungou e fez que não com a cabeça.

Um dia, eu e Gillani tivemos uma discussão. — Seus olhos estavam marejados. Em que ela me disse que eu não era sua família. Isso me atingiu profundamente, porque, veja bem... Eu nunca fui verdadeiramente acolhido pelos Saphira. Eu tinha dinheiro, sim, mas por baixo dos panos, nunca fui considerado um deles. Saber que Gillani também não me considerava um irmão foi como uma facada... — E se acabou em lágrimas. Soraya compadeceu-se.

Como isso pode ser culpa sua? — Soraya limpou as lágrimas de seu rosto. Seus sentimentos são legítimos. Você...

— Eu a segui naquele dia. — Interrompeu Rhemi. Ela foi a uma caverna que ficava a poucos metros de distância de um albergue abandonado. E então me dei conta: Era lá que ficava seu grupo rebelde.

Soraya se calou. Aquela história estava começando a dar pistas de seu fim.

Mãe, eu... — Rhemi despejou suas lágrimas de uma só vez. Eu contei para os Kantaa onde o grupo de Gillani estava, mãe. Eu a dedurei por pirraça, uma mágoa infantil.

E, com aquele relato, Soraya parou. Piscou os olhos, uma, duas, três vezes, esperando que a ficha caísse. Encarava Rhemi incrédula, torcendo para que ele desmentisse a história, contasse alguma outra por cima que justificasse a primeira, qualquer coisa. Não era possível, definitivamente não era.

Quando se deu conta de que, sim, Rhemi estava falando a verdade, deu-lhe um segundo tapa na cara, este ainda mais dolorido.

O QUE VOCÊ FEZ, RHEMI? — Num acesso de fúria, Soraya arremessou o cinzeiro para o outro lado do bar; Este caiu fazendo um barulho metálico que chamou a atenção de todos que ali estavam. ONDE VOCÊ ESTAVA COM A CABEÇA?

Rhemi se encolheu pôs-se a chorar. Soraya estava inflamada de raiva, seu olhar fuzilava o filho mais velho como um lança-chamas.

Ela disse que eu não era parte da família dela... — Rhemi apenas tinha força para balbuciar algumas palavras tímidas, talvez mais para ele do que para Soraya.

— E você agiu como se fosse, Rhemi? — Soraya era incisiva e agressiva. É isso que familiares fazem uns com os outros?

Rhemi tomou mais um gole de cachaça. Escondeu-se embaixo de suas próprias lágrimas, e Soraya notou que ele tinha vergonha de si mesmo, do que tinha feito.

Caos e Sangue | COMPLETOWhere stories live. Discover now