ーTem homens batendo na porta.
Já eram cerca de onze da noite. Os pacatos se preparavam para dormir e despertavam apenas os vagabundos e aqueles que vivem da noite. Gara já havia encerrado suas atividades, recolhido seus unguentos e emplastros e se retirado para dormir; Resmungou baixinho quando Quentin lhe avisou das visitas inesperadas tão tarde da noite.
ー Deixe eles baterem. ー Afirmou Loenna, com convicção. Eram alguns ricos desocupados, de certo. Não servem para nada além de matarem-se uns aos outros.
Gara sorriu. Beijou a testa da filha com ternura e bagunçou seus cachos arruivados até que eles cobrissem seu cenho franzido.
ー Eu já volto.
E partiu numa despedida interrompida, deixando a porta entreaberta numa fresta mal sucedida em abafar os ruídos da sala.
Quentin agarrou o seu ursinho de pelúcia surrado e em menos de dez segundos já estava entregue ao mais profundo dos sonos. Mas para Loenna as coisas não eram tão simples; iria ela deixar sua mãe nas mãos de algum rico infame que não respeitava sequer as sagradas horas de descanso do fim do dia?
Levantou-se num impulso e em cerca de poucos segundos já se esgueirava detrás do sofá, encarando desconfiada o senhor barbado e grisalho que conversava com Gara. Era magrelo e esquálido, usava um terno fino e elegante, mas havia empáfia no seu olhar; Carregava uma maleta na mão esquerda e no braço direito brilhava o desenho de uma águia.
— Entre! — Convidou Gara, gentilmente. O senhor não parecia nem um pouco amigável, julgou Loenna, mas a mãe costumava ser simpática até com aqueles que não mereciam. — Minha casa é humilde, mas sempre está aberta a receber visitas!
O senhor não parecia amigável. Apenas acenou com a cabeça, não desmanchou em nenhum segundo seu olhar de superioridade. Analisou minuciosamente cada detalhe da humilde casa de Gara: O bolor na parede, o ranger da porta, os móveis carcomidos por cupins, o chão encardido....
Por fim, optou por sentar-se no sofá; Abaixou-se lentamente, pôs a maleta no colo e, com uma voz rouca e serena, pôs-se a falar:
ー Muito bem, senhorita...
ー Gara. ー Respondeu a mãe.
ー Gabra. ー Disse o senhor, em tom de desprezo, mas Gara não se ateve a corrigir. ー Você sabe por quê estou aqui?
Gara fez que não com a cabeça. O senhor limpou a garganta e, pela primeira vez, a olhou nos olhos.
ー Bem, recebemos informações de que a senhorita estaria... Realizando atividades curativas por aqui. ー E acariciou a barba. ー Há cerca de uma semana, um Kantaa à beira da morte foi salvo por aqui. Isto nos chamou a atenção porque ele havia sido... Digamos... Neutralizado pelos nossos subordinados. A senhorita praticamente trouxe o rapaz de volta da morte.
ー Eu jamais seria capaz de negar ajuda a um homem ferido. ー Pôs-se Gara a se defender. ー Curei ele porque veio pedir por minha ajuda, e eu não teria razão para....
ー Acalme-se... ー Interrompeu o senhor barbudo. ー É muito nobre de sua parte, senhorita. Nós, Eran, ficamos estarrecidos com vossas habilidades. Por isso venho aqui fazer-lhe uma proposta.
Gara ergueu a sobrancelha.
ー Proposta?
Pela primeira vez, o senhor esboçou um sorrisinho. Seu olhar era perverso; Certamente tal proposta não seria uma boa ideia.
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Caos e Sangue | COMPLETO
AventurăCarmerrum é um país pequeno, com poucos habitantes, onde não há governo e o poder político é controlado por três famílias muito ricas que vivem em constante atrito entre si. E o restante da população, para seu infortúnio, se desdobra por inteiro par...