Capítulo 4 - O violino, a sapatilha e a garota

Start from the beginning
                                    

— Assim como sinto falta do meu bode.

— Você não tem um bode — anuo o encarando com um sorriso zombeteiro. — Engraçadinha — ele murmura quando enfim parece entender a piada. — Me conta o que a filhinha perfeita fez para o Carlos se desfazer de você? — até tentei ignorar, mas era muito orgulhosa para deixar o Arthur pensar que podia falar comigo daquela maneira.

— A decisão foi minha em vir pra cá — mentira, mas o mala sentado ao meu lado não precisa saber disso. — Precisava sair um pouco do Brasil e a idéia de vir para cá me veio a cabeça — e vamos de mais mentiras. — Esse lugar é até que bem agradável. Agora entendo porque você não deu chilique para voltar na primeira semana — digo, agora em voz baixa tentando não chamar a atenção da professora.

Arthur pareceu incomodado por alguns segundos, mas logo engoliu em seco e voltou a abrir aquele sorriso ridículo enquanto apoiava os cotovelos na mesa, apoiando o queixo em uma das mãos.

— Ainda não aprendeu a mentir, lili? — tenho vontade de empurrar ele do banco pelo apelido usado apenas pela Sam. — Você nunca foi muito boa nisso, não é mesmo? — resolvi deixá-lo falando sozinho.

Arthur ficou em silêncio, não falou mais nenhuma palavra, o que me deixou contente em não ter que lidar com as suas provocações ridículas.

Meu relacionamento com o Arthur sempre foi assim. Ele e eu somos muito orgulhosos para baixar a guarda, por isso as nossas provocações nunca chegam ao fim. Me lembro de quando ele arrancou a cabeça das minhas bonecas e as pendurou no ventilador de teto, nunca havia sentido tanta raiva como naquele dia. Minha vingança foi bem arquitetada, acho que é impossível esquecer a expressão hilária de Arthur quando troquei o shampoo dele por descolorante.

— Como eles estão? — Arthur pergunta me seguindo para fora da sala de biologia quando o segundo sinal tocou.

— Quem?

— A Samanta e o Carlos né, dãr — Arthur resmunga o óbvio.

— E você se importa? — questiono com uma risada cheia de ironia. — Você não aparece nem no natal. Carlos me contou que você rejeita todas as ligações dele — aponto andando em meio aos vários alunos que saiam das suas salas, enquanto Arthur continua me seguindo.

— Claro — balbucia com um revirar de olhos. —, desculpe não ser tão bom quanto a filhinha perfeitanão respondi, até porque Arthur não me deu chance de dizer nada, já que me deu as costas andando para fora do colégio em direção ao campus.

 —, desculpe não ser tão bom quanto a filhinha perfeita — não respondi, até porque Arthur não me deu chance de dizer nada, já que me deu as costas andando para fora do colégio em direção ao campus

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Seguro meu violino em mãos sentindo meu estômago embrulhar com as várias lembranças que ele me trazia. Tentei prender o ar por alguns segundos como se aquilo reprimisse a ansiedade e o medo que parecia me consumir por dentro. Engulo em seco fechando os olhos e ouvindo - no fundo do meu consciente -, a risada  da minha irmã ou dos meus gritos aterrorizantes no pior dia da minha vida.

Só Mais Um ClichêWhere stories live. Discover now