Dezenove

737 129 5
                                    

Andar com um sorriso no rosto era algo meio bobo. Não consegui nem esconder em como aquele quase beijo com Elian tinha me afetado, toda vez que eu fixava meus olhos em alguma coisa, rapidamente minha mente era transportada para longe, na fragrância do seu perfume, da rouquidão da sua voz, na intensidade do seu olhar e o toque suave dos seus lábios. Nunca desejei tanto beijar alguém, não como o estava desejando.

Por que é tão difícil evitar sorrir, enquanto percorro os corredores? Esse é um dos momentos em que fico satisfeita com a falta da curiosidade dos guardas, do contrário iria me sentir ainda mais constrangida, o que em minha colocação é quase impossível.

Toco levemente meus lábios, sorrindo e depois suspirando abertamente. Sem conseguir mais dar um passo sequer. Estava longe da zona de perigo agora, dos olhares mortais e curiosos dos nossos convidados. De onde me encontrava, podia simplesmente avistar minha porta, mas era impossível sonhar em comandar que meus pés caminhassem em sua direção.

Meu corpo foi invadido por uma série de tremores involuntários, apoiei minha testa na parede fria, e a senti resfriar em pleno conforto a minha pele que parecia prestes a incendiar.

Quando decidi que as coisas entre mim e Elian poderiam dar certo, não cheguei a pensar nem por um segundo, que isso resultaria em uma respiração ofegante e um aperto em meu peito. No momento em que li a carta que minha irmã me enviou, eu abdiquei de qualquer liberdade que um dia eu sonhei. E agora, pensar com mais clareza fez com que uma linha rígida surgisse no lugar do sorriso que segundos antes habitava em meus lábios.

Estava pulando de um abismo, escuro, muito sombrio e silencioso. Sem chance de volta e sem conhecimento do seu fim. Poderia não morrer ao longo dessa brusca queda, mas de uma coisa eu tinha absoluta certeza: Se Elian não mudasse, minha alma seria corrompida assim que meu frágil corpo tocasse o solo.

Meu estômago estava se revirando, mas os espasmos em meu corpo haviam diminuído. Desde quando perdi o controle das batidas do meu coração?

E desde quando eu tenho algum controle sobre ele?

Desde meu primeiro contato com o príncipe de Monteblack, isso vem acontecendo com frequência, e não é uma coisa muito agradável. Algo perigoso. Um jogo perigoso. Gemi de frustração, e me desencostei da parede, sem a mínima vontade de encarar a situação. Um pouco mais de tempo me escondendo no meu quarto, como a covarde que sou, seria bom o suficiente para decifrar o impacto que o quase beijo de Elian teve sobre mim.

Foi só um roçar de lábios!

Apenas um roçar...

E porque estou desesperada para fechar os olhos para relembrar a intensidade dos seus olhos queimando ardentemente sobre os meus? Não haveria motivos para desejar que algo semelhante voltasse a acontecer...

Não era possível que me afete tanto. Não a esse ponto, ao momento que meus pulmões estão pedindo mais ar, em só pensar nessa eventualidade improvável de acorrer mais uma vez. Ele nunca se abriria para mim, como fez hoje. Isso era um sonho distante, e eu só estava delirando com a possibilidade de uma mudança para me sentir mais segura dos meus atos, nesse lugar em que estava vivendo. Era só isso, simples assim.

Nem de longe eu poderia estar mais equivocada. Só não sabia disso ainda...

Com passos trôpegos entrei em meu quarto, olhar baixo sobre meus pés, sem a mínima vontade de fazer algo que não envolvesse ficar deitada pelas próximas horas. Mas o destino é sempre tão cruel comigo...

Tão cruel...

Traiçoeiro.

— O que está fazendo aqui no meu quarto? — perguntei surpresa, assim que meus olhos recaíram sobre a rainha, sentada majestosamente na minha poltrona favorita, como se fosse seu trono de gelo.

Reino ObscuroWhere stories live. Discover now