Quatorze

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Espero que faça o mesmo...

Espero que faça o mesmo...

Espero que faça o mesmo...

Espero que faça o mesmo...

Espero que faça o mesmo...

Segurei minha cabeça entre as mãos. Massageando minhas têmporas em uma tentativa muito falha de acalmar a onda de pensamentos que estavam degradando com a minha mente. Em uma das minhas mãos o bilhete que recebi de Elian ontem à noite, estava embolado, completamente arruinado por seu estado lamentável de amassado. E na outra, eu tentava evitar puxar meus cabelos.

O sol resolveu dar as caras hoje, e por isso com recomendação médica para a melhora da minha suposta gripe, obtive autorização para sair do meu quarto, e passear pelo jardim, em uma área limitada, longe dos olhares curiosos dos visitantes do palácio que eu não tinha a mínima vontade de conhecer. Eu detestava ter todos os meus passos ditados, e repudiava ainda mais esse papel que estava segurando. Eu não conseguia entender Elian, se era uma provocação de sua parte, ou se era uma medida desesperada de demonstrar o afeto que ele não tinha em seus olhos. Eu estava incapacitada de entendê-lo, e grande parte de mim não queria isso, pois seria como um sinal para me aproximar ainda mais.

Eu sou patética. Quando me permiti se submeter em uma situação como essa? Olhei para o lado buscando uma resposta, mas tudo o que observei foi um guarda a uns cem metros, parado, olhando avidamente em minha direção. Maneei a cabeça para outo lado, como se estivesse observando a folhagem, fiquei em pé, e comecei a andar, o homem que cuidava de cada passo meu, fez o mesmo. E mais a frente, havia outra pessoa uniformizada, pronto para me levar para dentro das paredes frias do palácio se eu ultrapassasse o ponto que foi me permitido ficar. As expressões dos dois não tinham vida, e eram pálidos e rígidos como mármore. E pelo que dava para perceber, não se importariam em me arrastar para qualquer punição que me esperasse por quebrar uma regra. Era o tipo de pessoas que não pareciam ter qualquer tipo de calor em seu coração.

Eu precisava aceitar a realidade, e começar a lidar com ela. A apresentação minha para as outras cortes estava aí, só faltavam três dias, e eu não tinha bolado nenhuma estratégia de como seriam as coisas dali em diante. Era difícil compreender que muito tempo tenha se passado, e ao mesmo tempo tão pouco. Já era hora de parar de ficar inconformada com toda essa situação, e pensar que tudo tinha um propósito, eu só precisava descobrir qual era o meu.

Já estava atrasada para a última prova do meu vestido, e atrasos não eram tolerados por aqui. Isso era o que Ariadna tinha me falado certo dia, principalmente quando o príncipe exigia algo, ele repudiava esperar, e punia severamente quem o fizesse. Então, sem muito aviso, entrei no palácio novamente, e comecei a andar rapidamente pelos corredores, tinha um caminho que eu aprendi que era mais curto e que me levaria rapidamente para a sala de Bruno, então peguei uma escadaria em espiral na parede que não era muito usado por membros da família real, e que me garantiriam mais tempo para chegar ao devido horário. Com a cabeça baixa, cuidando de cada degrau que pisava, tentava ao máximo controlar a minha respiração fadigada, e prestar atenção aonde ia. Todo o trajeto parecia deserto, mas eu nunca tinha encontrado ninguém aqui, nem guardas, nem criados, apenas nas outras extremidades. A euforia tomava conta de mim, e eu tive que me conter para não perder minha postura e começar a correr os lances acima. Acelerei o passo e cheguei a um corredor, quando me virei algo se chocou contra meu corpo, e mãos fortes me seguraram impedindo a minha queda.

Pisquei uma, duas, três vezes, tentando assimilar o que tinha acontecido, minha cabeça girava e meu corpo parecia esmorecido. Ainda sentia seus dedos pressionando meus braços com delicadeza, e o cheiro familiar me envolvendo. Virei meu rosto para cima, encontrando uma parede sólida a minha frente, com um rosto extremamente encantador, e nenhum pouco desconhecido. Os olhos frios de Elian estavam arregalados, enquanto ele me analisava com preocupação. O príncipe aproximou um pouco mais de mim, e nossos olhares se encontraram. Os lábios de Elian se partiram minimamente, como se estivesse buscando por ar, repetindo meu próprio gesto. Podia aguentar qualquer coisa, menos a intensidade da sua presença nesse momento, então me restou apenas recuar um passo. Ele me soltou, e só dessa forma eu pude realmente ver sua respiração sendo entrecortada.

Reino ObscuroWhere stories live. Discover now