Odeio meus olhos.
Não por questões estéticas, pois, sendo bem sincero, os considero espetaculares. Na verdade, todos eles são. Como mares alvos pontuados por círculos que manifestam diversas cores, sejam elas escuras ou claras, poderiam ser considerados feios?
Odeio meus olhos por serem tolos, a ponto de terem comprometido parte de minha vida. Uma simples olhada, daquelas singelas e desprovidas de maldade, acabaram por mudar o rumo de minha história.
Não pode ter sido obra do destino, até porque, essas bobeiras ilusórias não existem. Ao menos torço para que não existam.
Talvez, se não tivesse permitido que meus olhos brilhassem de modo ignorante ao te verem, tudo estivesse bem. Ou, quem sabe, se tivesse evitado que eles te encontrassem e enxergassem uma beleza estranhamente sublime, nada disso teria sequer ocorrido.
Sim, nenhuma relação existiria entre nós dois, a não ser a de completos desconhecidos.
Não teríamos tido longas tardes de conversa, que, na maioria das vezes, iam terminar somente às dez ou onze horas da noite, porque era quando o sono começava a se manifestar. Não teríamos tido as idas à praia mais movimentada da cidade, que sempre eram finalizadas com um breve banho de mar.
Fico pasmo ao ver que, mesmo depois de ter depositado quase que toda minha confiança em ti, pudeste expor nosso potencial romance.
Por mais que tenhas me apunhalado violentamente pelas costas, sinto que não fizeste por maldade. Prefiro acreditar que a culpa foi minha, que não consegui disfarçar minha enorme devoção por ti.
É por isso que odeio meus olhos.
