Prólogo

963 122 54
                                    

A primeira vez em que nos vimos, tínhamos cinco ou seis anos, não me lembro muito bem, mas acho que na época eu ainda não tinha completado seis. Só sei que era início de outono, pois as folhas das árvores estavam em tons de vermelho e amarelo e lembro de ele falar algo sobre adorar aquela estação por ser a época do seu aniversário. Não sei os motivos de ainda lembrar de tal informação, talvez tenha sido por causa do sorriso que ele me deu.

Não sei se foi amor à primeira vista, afinal até hoje não entendo meus próprios sentimentos, mas sei que, desde então, tudo que eu fazia era por ele, seja para vê-lo novamente ou para protegê-lo de suas atitudes imprudentes.

Mesmo sendo um ano mais novo que eu, era ele o corajosos, o impulsivo e o guiado pela emoção. Sempre fiquei com o pé atrás em relação a tudo que fosse perigoso ou sinônimo disso. Ele não. Ele olhava para o perigo e ria da sua cara de trouxa e naquela situação, meu dever era não deixá-lo se machucar, de forma alguma - resultando em um torcicolo quando o ajudei a descer de uma árvore, uma vez.

Não houve uma única semana em que deixei de visitá-lo, sempre no mesmo local, o centro comercial, aos sábados; eu morava em uma vila pouco mais de duas horas de distância da cidade principal, aproveitava que minha mãe passava o dia inteiro na cidade e passávamos horas correndo para todo lado. Foi assim até meus treze anos, quando tive certeza de que estava apaixonado por ele.

Noya, este era seu nome, ou melhor dizendo, o nome pelo qual ele se apresentou, sempre desconfiei ser um apelido, mas nunca questionei. Jamais o contei sobre meus sentimentos e sinceramente, nunca pretendi; minha insegurança contribuiu para eu deixar escondido minha descoberta, mas nem por isso deixei de andar com ele, de protegê-lo. Ele era bonito demais para andar sozinho.

Um dia, tomei a decisão de que seria um Guarda Real. Não era exatamente meu sonho, mas eu admirava a coragem que os  cavaleiros do Rei tinham e eu queria aquela coragem para poder cuidar dele, daquele garoto baixinho de cabelos negros e espetados que havia roubado meu coração. Extremamente clichê, por isso guardei comigo até hoje.

Eu havia acabado de completar quinze anos quando tomei esta decisão e quando resolvi contar para ele no dia em que ia visitá-lo no local de sempre, ele não apareceu.

A mesma coisa na semana seguinte. E na outra. E na outra.

Na sétima semana, achei que ele não viria novamente, entretanto pouco antes de eu ir embora, ele apareceu, ofegante, completamente desarrumado, mas era notória que a roupa que usava era de extrema qualidade, parte do cabelo grudada na testa e o resto espetada como sempre. Naquele dia, minhas esperanças em relação aos meus sentimentos voltaram com força.

A primeira coisa que fez ao me ver, foi entregar um cordão com um pingente de cor preto, era a metade de um corvo. A outra metade era laranja e estava com ele. Estranhei quando ele disse que era meu presente de aniversário atrasado, pois parecia um cordão valioso demais; recusei diversas vezes, mas ele me convenceu a ficar, deixando os questionamentos para outra hora e lhe contei com orgulho sobre minha vontade de ser Guarda, omitindo o real objetivo.

Noya me abraçou com força e emoção, parecia orgulhoso da minha decisão, o que me deixou extremamente atônito. Foi então que ele desfez o abraço e me olhou sério, engoli em seco esperando a merda que viria e o vi abaixar o cabelo, suspirando. Nunca havia o visto de cabelo baixo, apenas o espetado rebelde, parecia irreconhecível, não parecia o Noya que havia se apresentado para mim aos cinco anos.

Olhei bem para ele e arregalei meus olhos ao reconhecer aquela aparência. Noya parecia envergonhado e suspirou, confirmando meus pensamentos.

- Noya é apenas meu apelido, você já havia percebido, não é mesmo? - ele indagou e eu assenti - Eu não via a hora de te contar a verdade...

Encarei-o pasmo, ao perceber que eu não interveria em nada, ele prosseguiu e eu passei a prestar atenção nas palavras que viriam de sua boca.

- Eu sou Nishinoya Yu, o primeiro príncipe e herdeiro do trono do reino Karasuno.

Foi naquela revelação que todas as peças mal encaixadas da nossa história começaram, em fim, a serem postas no lugar.

E eu, Azumane Asahi, um simples aldeão, me dei conta que meu melhor amigo é o príncipe do reino em que moro e para piorar, estava apaixonado por um futuro Rei.

O Príncipe e o GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora