Mas não era isso que os instintos de Louis diziam quando observava a mesma cena acontecendo através dos olhos verdes de Harry.

A chuva torrencial criava uma nuvem branca sobre a floresta tropical.

Linda e trágica - nas mesmas medidas.

Seus ouvidos zuniam e seu coração batia como se estivesse entre as árvores, atravessando a névoa úmida e tropeçando em troncos no chão enlameado.

E então, um trovão o trouxe à realidade.

Sem florestas tropicais.

Sem chuvas torrenciais.

Sem névoas traiçoeiras.

Apenas ele, Harry, Zachary e a escadaria que levava à entrada do prédio da reitoria da UAL.

Mas como todo desastre natural tem um centro focal, de onde toda a destruição e força provinha, Harry era a tempestade que caía impiedosamente sobre a própria floresta de seus olhos, e Louis levou cerca de dois segundos para descobrir tal fenômeno.

Era um sentimento estranho.

O rosto era familiar.

A voz era familiar.

Mas as palavras... longe de serem ao menos imagináveis.

Enxergava o caos, mas seus sentidos falhavam em enviar comandos para seu cérebro. Portanto, apenas manteve as solas dos pés estáveis no chão e o olhar fixo no desastre natural que se desenvolvia na íris à frente.

- Já chega. - a voz rouca esbravejou, como um trovão. Não alto demais para doer-lhe os ouvidos mas estridente o bastante para reverberar por seu corpo. - Eu estou cansado de disputar espaço com as outras trezentas prioridades que têm, Louis. É difícil, e é ainda mais difícil quando eu estou fazendo tudo sozinho. Sou o primeiro na fila para compreender o quão insanamente difícil é o último ano de uni, ainda mais com as obrigações dos projetos, mas tudo o que vejo é o meu projeto de fotografia ficando em segundo lugar enquanto o musical continua sendo a sua prioridade maior.

- Você tem razão. - a voz de Louis cortou a tempestade como um feixe de luz, iluminando os galhos ociosos da floresta. - Você disse as palavras corretas. Tudo o que você vê é isso. Mas não quer dizer que esteja vendo toda a verdade, Harry.

- O qu...

- Tudo o que eu faço é para vocês. Quem eu estou tentando enganar, é para você. - a tempestade tremeu à frente de suas íris azuis, e ofegou, quase como se água escorresse por sua testa e nariz, suas roupas pesando no corpo como se estivessem encharcadas. Estava sob todo aquele desastre, destemido. - Eu deixei tudo de lado para que você tenha o melhor.

Árvores, poças de água, animais guinchando, passos sorrateiros. Caos.

- Eu deixei de fazer o meu projeto, de treinar para o meu campeonato, pra fotografar o seu ensaio, mas nem se deu ao trabalho de permanecer. Pensei que o musical fosse importante pra você, mas vejo que até isso mudou.

- O musical é tudo pra mim e sabe disso.

- Sei? - a tempestade ficava mais densa, e Louis já não via um palmo à frente dos olhos, sendo guiado apenas pela voz rouca e o brilho verde no meio da escuridão. - Sei, Louis?

- Isso não é justo, Harry.

- Não é justo que não tenhamos passado algum tempo juntos nos últimos dias, mesmo que você pareça ter tempo para todos os outros, as garotas, Zachary, até mesmo a psicóloga, menos eu. Não é justo que eu tenha mudado todo meu cronograma e mesmo assim acabar me sentindo sozinho em uma sala lotada de alunos, porque nenhum deles era você. Não é justo que o campeonato esteja se aproximando e na hora que eu mais preciso de apoio, você nem mesmo tem tempo para me ouvir. Nada é justo, Louis.

once upon a plug {l.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora