Capítulo 2

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A primeira semana sem Scorpius transcorreu sem muitas novidades. Minha mãe me escreveu da França, seu novo lar há sete anos. Papai estava bem. Andava frequentando muitos museus e cafés parisienses. Mamãe passava suas tardes tomando chá com as amigas francesas, algumas delas trouxas, o que me surpreendeu. Mandavam beijos para Scorpius, e esperavam vê-lo no Natal.

Scorpius também me mandou uma carta. Prometemos nos escrever ao menos uma vez por semana. Ele parecia feliz, o que me deixou bastante aliviado. Agradecia pelos doces e biscoitos, mandados por Astoria, e pelo livro de poções, mandado por mim. Scorpius adorava poções. Eu esperava que ele fosse tão bom quanto Severo havia sido.

Coloquei as cartas de volta na bandeja de prata e tomei mais um gole de chá com leite. Não tinha fome, o que era absolutamente normal. Eu raramente tinha fome. De vez em quando Astoria me obrigava a comer. Dizia que eu estava magro demais, e fraco demais. Meus cabelos antes tão sedosos e brilhantes agora estavam opacos e sem vida. Eu estava cada vez mais pálido também. Odiava me olhar no espelho e ver aquele ser tão frágil na minha frente. Mas era preciso ser forte. Por Scorpius.

Tomei meu remédio, esperando me sentir melhor. Recusava-me a tomar algo mais forte conforme receitado pelo curandeiro de minha família. Eu estava doente, precisava de ajuda, mas queria pelo menos ter a chance de encontrar forças dentro de mim mesmo para combater aquilo. Se o remédio fosse mais forte, qual seria o meu mérito em melhorar?

Abri o Profeta Diário e logo vi a foto de Harry ao virar a página. Suspirei. Ele havia recebido outro prêmio. Quantos já haviam sido naquele ano? Uns dez, pelo menos. Será que eles não se cansavam de exaltar as qualidades dele? Pergunta idiota. Se nem eu havia conseguido resistir, imagine o resto do mundo.

Astoria veio sentar-se ao meu lado, feliz por suas begônias estarem crescendo saudáveis. Ela adorava passar o tempo cuidando do jardim. Era o seu passatempo preferido, mesmo que ele fizesse minha mãe torcer o nariz. Na visão de mamãe, Astoria não era adequada para mim, mais precisamente, ela não era uma típica dondoca bruxa. Pelo contrário. Embora não trabalhasse fora – aquilo seria o cúmulo tanto para a sua família quanto para a minha – mantinha-se sempre ativa. Acima de tudo, tinha amor pela natureza e fizera uma bela estufa de plantas nos fundos da casa onde passava grande parte do tempo. Achava divertido mergulhar as mãos na terra. Era o horror de minha mãe, e eu a adorava por isso.

Nós nos amávamos, mas a nosso modo. Eu sabia que ela gostaria que fôssemos um casal apaixonado, mas lhe bastava que nos importássemos um com o outro. Astoria parecia uma típica burguesa bruxa a princípio, com seus cabelos dourados e rosto de boneca. Vinha de uma família tradicional e rica, o que influenciara nosso casamento para começo de conversa. Mas quem a conhecesse melhor perceberia que ela era doce e carinhosa. Cuidava muito bem de mim, e era uma boa mãe.

Éramos bons amigos. Entre nós o silêncio era bem-vindo. Para alguém de fora, era estranho. Todos tinham a impressão de sermos um casal frio, mas não era verdade.

– Draco, querido, comeu alguma coisa? - perguntou ela, tirando os olhos da revista de jardinagem bruxa que tinha nas mãos.

Sorri.

– Uma torrada. - menti.

Ela sorriu satisfeita.

– Ótimo. Melhor do que nada.

Não tive coragem de dizer a verdade e desapontá-la. Continuei a ler o jornal. Franzi o cenho ao ler sobre uma gangue de bruxos adolescentes que andava aterrorizando trouxas em Londres. Um pub havia sido vandalizado, e alguns trouxas tiveram que ter as memórias apagadas. Nada mais grave havia acontecido, mas o Ministério estava preocupado. O grupo, que se autodenominava Gangue da Morte, reivindicava a soberania de bruxos de sangue puro e abominava trouxas. Senti um arrepio na espinha.

Draco MalfoyWhere stories live. Discover now