Garoto morre de tristeza.

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Hoje eu acordo novamente com minha mãe discutindo com seu marido atual, tem sido a quarta vez só esse mês, realmente não entendo como alguém consegue manter uma relação ruim em todos os relacionamentos que se coloca, parece quase que um vicio em fracassar, a meu ver. Eu me levanto, coçando meus olhos com pouca força, é uma segunda-feira exaustiva e ainda por cima; está chovendo. Os gritos deles invadem meus ouvidos enquanto tento raciocinar qual tênis irei usar hoje pra expressar o quanto eu não queria estar estudando, talvez um all-star amarelado? Cores vibrantes dão dor de cabeça, ou, eu também posso usar algo bem esquecível, realmente não gostaria de conversar com ninguém.

Desço as escadas, eles ainda estão brigando, mas assim que ambos me avistam no ultimo degrau, minha mãe esboça uma expressão de culpa e pede perdão com os olhos, indo para seu quarto, eu apenas bufo e vou até a mesa, ignorando o homem que vive naquela casa, como eu odeio ele. Pego uma torrada qual minha mãe sempre deixa pronta pra não me atrasar e saio de casa, finalmente conseguindo respirar fora daquela atmosfera, viver numa casa caótica, cheia de divórcios e brigas realmente não faz muito bem pra mente de um adolescente, acho.

Faço um caminho diferente hoje, talvez pra demorar mais ou quem saiba nem chegar naquele maldito lugar que é a causa de tantas crises de sexta feita, mastigo a torrada no real significado de lentidão, pelo menos desta vez gostaria de sentir o gosto de algo, sem que a sensação fosse tirada de mim pela correria. Mordo sem muita força meu inferior, pensando em como seria uma vida na qual meus pais nunca tivessem se separado, ou em uma vida em que o amor realmente fosse igual nos contos de fadas, como sempre falaram pra mim, queria ter crescido acreditando nessas baboseiras que contam pra todas as crianças, mas a verdade é que o amor nunca foi uma coisa boa, ele foi feito pra machucar os outros, destruir casas, separar famílias, criar filhos traumatizados pela falta de um casamento que parecia promissor, ele até te faz perder sua juventude. Então, por que alguém, tendo consciência de tudo isso em algum momento gostaria de sentir o amor? Eu odeio o amor, e odeio tudo que ele fez na minha vida, mas acho que também preciso agradecer minha mãe, por ser uma romântica compulsiva, mesmo esse titulo não se encaixando muito, porque ela de longe é uma pessoa romântica, talvez só seja carente demais a ponto de pensar que precisa de alguém em sua vida para não viver sozinha pra sempre, às vezes sinto que ela esquece que tem um filho que mora com ela.

Seria justo com alguém colocar uma pessoa em sua casa qual só traz problemas? Mais uma pessoa para tentar substituir e suprir a falta que eu tive de não possuir um pai presente? E é engraçado como ele mesmo tentando se encaixar nesse papel, consegue ser pior que o pai que nem faz questão de me ligar nos meus aniversários, mas esse é o padrão da minha mãe, homens que não levam jeito pra paternidade são mais atraentes, e mais fáceis de conquistar, não entendo como eles não dão pra traz quando ela diz que tem um adolescente de 17 anos em casa, talvez ela minta minha idade, assim eles continuam com ela.

Enquanto estou me afundando em meus pensamentos, percebo que o caminho não foi de fato efetivo, afinal cheguei ao mesmo horário de sempre na escola, o que me faz soltar um suspiro, quase que me sufocando com minha própria lamentação, como a felicidade de um adolescente é efêmera, não? Dirijo-me até a porta daquele inferno responsável por tentar educar crianças, mas na verdade só incentiva  mais ainda a criar fobias sociais, ajeito minha mochila e respiro fundo, talvez o dia não pudesse ficar pior, afinal, ter chego até aqui sem ninguém ter falado comigo já é um premio enorme a ser ganho. Passo rapidamente enquanto olho para baixo naquele corredor enorme e sufocante, são tantas pessoas nessa merda de lugar que eu me sinto em um show lotado onde todos respiram por aparelhos e eu sou o único sem, o ar falta em meus pulmões toda vez que alguém se aproxima de mim, sinto minha ansiedade arranhar a parte de trás dos meus olhos, como se quisesse puxa-lo para dentro novamente, meu estomago se embrulha e se contorce, dançando uma valsa sem ritmo em minha barriga, talvez eu possa vomitar todo meu café da manha aqui nesse corredor mesmo, seria uma cena em tanto.

Me ensine a amar  ||  YeonbinWhere stories live. Discover now