Capítulo 20

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Ela não tinha ideia do que tinha feito naquele exato momento.

Declarado sua morte? Muito provável.

Sayuri se levantou. O corpo inteiro doendo, mas o pescoço ainda se destacava. Se não fosse uma imortal, já estaria morta.

Kayn surgiu ao seu lado, e, para a surpresa de Sayuri, perguntou:

— Você está bem?

— Sou eu quem deveria fazer essa pergunta.

Ele se virou na direção em que a mãe jogara Abaddon.

— Está levando esse negócio de vencer a guerra bem a sério — comentou Kayn, tentando aliviar a tensão recém formada entre os dois.

— Você disse que eu e seu pai só poderíamos lhe conhecer caso vencêssemos a guerra. Estamos fazendo isso. — Ele engoliu em seco. — Eu sei muito bem o que as desgraçadas das minhas irmãs colocaram na sua cabeça.

— Que você e meu pai me odiavam? Que eu fui um erro e jogado no lixo por isso? — Foi a vez de Sayuri engolir seco. Kayn riu. — Elas só não sabiam que quanto mais eu envelhecia, mais memorias suas eu ganhava. Eu sei que eu fui um acidente. — Kayn passou a mão pelo cabelo escuro, exatamente iguais os de Sayuri. — Mas eu sei que não fui tão indesejado quanto eu imaginava.

— Você nunca foi indesejado — retrucou Sayuri, seu tom era desesperado. — Nunca foi.

Os olhos deles se encontraram. Sayuri nunca teve a chance se sequer toca-lo. Não tinha certeza se era uma boa hora, mas eles provavelmente morreriam ali, e ela não queria partir sem sentir que ele estava vivo ao menos uma vez. Então, com muito receio, perguntou:

— Eu... posso abraçar você? — Kayn arregalou os olhos, mas assentiu. Em um movimento rápido e desesperado, Sayuri parrou os seus braços envolta do filho. Ele demorou um pouco, mas retribuiu.

Ele era um pouco mais alto que ela. Tirando os olhos e o cabelo, Kayn era idêntico a Levi, o físico era exatamente o mesmo. Para Sayuri era tão bom... tão bom sentir que ele estava vivo, que ainda estava com vida.

— Eu sinto muito, por tudo — sussurrou ela.

— Não tem problema. — Sayuri não conseguiu segurar as lágrimas descendo por seu rosto diante do perdão.

A dor que ela sentiu durante todos os anos em que se seguiram ao nascimento de Kayn... era inexplicável, mas agora, enquanto a abraçava... era outra coisa que ela não poderia descrever.

Mas foi aquilo que ele disse que a destruiu novamente:

— Ele quer me transformar em um imortal perfeito. — Sayuri se afastou dele apenas o suficiente para o observar.

— O que?

— Não sei o motivo, mas ele quer que eu me transforme em um imortal perfeito. Querendo ou não, eu posso morrer facilmente. — Sayuri tinha certeza que o terror tomou conta de seu rosto. Ela sabia dos métodos de purificação da alma. — Antes que comesse a falar várias coisas, Abaddon já começou a purificação há anos. — Ela deu um sorriso sombrio. — Não tem mais volta.

Sayuri pôs as mãos no rosto de Kayn. Vivo, ele estava vivo. Ela se concentrou nessa informação o máximo que conseguia.

Mas ela também só conseguia se concentra no fato de que o rasgaram de dentro para fora, e depois fora cruelmente morto, somente para ter sido trago de volta e teve seu poder reduzido a uma pequena esfera em seu interior, que apenas aguardava para ser partida.

— Ele só precisaria te cortar no meio com algo mais poderoso que você e estaria feito — disse Sayuri.

— Sei muito bem o que aconteceria comigo — retrucou Kayn.

Em Busca de Liberdade - Crônicas de Sangue e Ódio - Vol. 1Where stories live. Discover now