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      Jeon Jungkook

Estava a caminho de casa. Como agora era a volta, eu sentia como se fosse mais rápido. Não sei o porquê, mas sempre era algo assim em minha mente. Como se a ida demorasse mil anos e a volta fosse apenas poucos minutinhos. O cérebro pode nos causar ilusões realmente incríveis e essa é apenas uma delas dentre todas as outras que o ser humano pode ter.

Entretanto, agora eu estava ansioso demais para poder conversar com aquele cara, ele parecia ser alguém muito legal e que me traria respostas para essas coisas que estou tão curioso para descobrir. Queria objetividade, sem enrolaçōes. Já esperei tempo demais para ser respondido e agora era hora de as peças se encaixarem antes que seja tarde demais. Tinha medo de o pior acontecer comigo também, assim como aconteceu com muitas pessoas de minha família, que não fizeram uma maldade sequer para merecer isso. Eles não tinham culpa do passado, essa cegueira era algo injusto e deveria ter acabado há muito tempo. Pode ser uma doença genética, mas é muita coincidência todos terem pego após os seus aniversários de dezoito anos. Era muita coincidência, não? Eu até acreditaria que fosse apenas uma coisa não intencional se fossem somente uma ou duas pessoas que tivessem pego isso nesta idade. Mas não são apenas duas, e sim uma geração inteira que ficou cega por conta de algo desconhecido! Isso me assustava muito.

Resolvo tirar esses pensamentos de minha mente antes que eu acabe me perdendo demais e sendo atropelado por algum carro enquanto for atravessar alguma rua ou trombar em alguém enquanto estiver andando. Seria vergonhoso, então acho melhor eu me apressar e não ficar apenas criando cada vez mais teorias em minha cabeça, sendo que nem em casa estou. Minha cabeça pensará melhor quando Kim Taehyung falar comigo, sei disto. Ele parecia saber do que estava falando, eu sentia a paixão em sua voz quando se tratava dessa cidade. Também pudera, ele ainda tinha seu bisavô ao lado. Ele devia/deve lhe contar histórias todos os dias. Pessoas mais velhas possuem mais vivências e, consequentemente, sabem mais sobre certas coisas e uma delas são sobre os lugares em que vivem (se tiverem uma memória boa, claro). Aprendi muitas coisas também quando era menor, pois sempre tive a minha ao meu lado, mas, infelizmente, fomos separados pela morte.

Queria que ela ainda estivesse aqui. Isso me entristece um pouco as vezes, pois ela era alguém muito especial e cheia de vida, sempre brincando com todos nós. Era um ser daqueles que você sempre quer manter por perto, pois te faz bem. Nossa relação era saudável até demais. Me lembro da mesma contar-me histórias para dormir quando eu apenas era uma criança, cheia de energia. Algo em sua voz me acalmava, ainda mais quando ela me fazia criar um cenário em minha mente, contando sobre as infinitas engraçadas situações pelas quais passou. Sua risada era algo doce, que eu ainda podia ouvir pela casa enquanto andava. Muita coisa em nossa família apenas aconteceu por sua causa e eu sou muito grato por tê-la conhecido e ter aproveitado pelo menos um pouco da pessoa incrível que ela foi para todos nós, sem exceções. Se eu tentasse perguntar para todos que a conheceram para que me dissessem uma de suas qualidades, eles mal saberiam listar, de tantas que haviam. Realmente, um ser humano completo, do qual eu sempre me orgulharei.

— Jeon? — Uma voz masculina me chama e eu me viro, vendo Taehyung, todo suado e com algo em suas mãos. — Você deixou cair algo na biblioteca, acho que é seu.

Ele abre as mãos, revelando um broche. O meu broche! Como pude me esquecer de checar se ele estava grudado em minha blusa ainda? Ele possuía o ano da data de nascimento de minha bisavó estampado. Ela mesma me dera esta maravilha, era algo muito significativo e eu andava com ele para todos os lugares que ia. Com certeza eu ficaria muito triste se chegasse em casa e percebesse que eu não estava mais com ele. Me sentiria muito culpado.

— Meu Deus, muito obrigado, Taehyung! Você é um anjo. Não sabe como isso significa para mim. Obrigado por encontrar antes que eu sentisse falta. — Agradeço-o com um sorriso.

— Tive que vir correndo, pois, quando vi este lindo broche no chão, você já estava longe. Deduzi que era seu porque foi a primeira coisa que reparei em você quando nos encontramos. Ele te dá destaque, é realmente muito bonito. — Elogia de forma carinhosa. — O que significa este número aí? Se quiser me dizer, claro. Sou um grande curioso, já te disse isso.

— É a data de nascimento de minha bisavó, que faleceu há um tempo. — Explico, guardando o objeto em meu bolso, para evitar que ele caísse novamente.

— Ah, sinto muito. — Sua cara era triste por mim agora.

— Não, está tudo bem, sério. Já faz tempo, não dói mais tanto assim, aprendi a superar. — Suspiro, tentando o aliviar. — Enfim, você quer vir até a minha casa? Está muito perto e eu posso te oferecer um copo d'água. Você correu bastante, pelo visto.

— Bem, se não for incomodar a você e nem os seus responsáveis que moram com você, acho que quero sim. Tive uma longa corrida mesmo, me senti um atleta genuíno. — Brinca e eu rio, pedindo para que me siga até minha casa.

Espero que meus pais não se aborreçam comigo por eu trazer alguém que não conhecem para a nossa casa. Sei que isso é algo muito suspeito, mas, poxa, ele correu até aqui apenas para me entregar um broche! Me deixou extremamente feliz a maneira com que ele se importou em pegar o item apenas porque causava destaque em minha pessoa. O mínimo que eu poderia oferecer a ele seria água, ele merecia. Para uma pessoa que acabei de conhecer, ele já provou ser alguém extremamente simpático e humilde. Espero que possamos ser amigos, além de apenas conhecidos que marcaram de conversar pela internet sobre coisas antigas, porque ele parece ser alguém bem parecido comigo, de um jeito bom.

lovely blindness• jjk+kth.Where stories live. Discover now