1 - MATHEUS

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Se você tivesse uma única chance de escolher o seu futuro cargo profissional, em qual área você escolheria? E por quê?

Quantas opções disponíveis estão aparecendo na sua mente, agora? Já parou para imaginar?

Pois é!

Trabalhar como garçom nunca foi, e nunca será, a decisão mais brilhante que já tomei em toda minha insignificante vida pré-adulta. Tampouco, será a responsável pelas minhas inúmeras investidas fracassadas de uma vida melhor e, porque não dizer, bem sucedida?

Não é à toa que tento ao máximo fazer das minhas piores escolhas a incrível chance de corrigir algumas dessas e outras inúteis decisões.

Não foi diferente quando descobri que possuía certa facilidade para essa área, e, por essa razão, logo achei que esse poderia ser um bom emprego no momento. E o resultado? Bom, vamos aos fatos.

Não é como se eu simplesmente não conseguisse equilibrar uma ou duas bandejas com copos de bebidas que, na maioria das vezes, estão apenas pela metade. Sem mencionar os mais diversos pratos de pizzas, e, os demais derivados sabores culinários, por assim dizer. Isso era fácil.

Muuuito fácil.

A questão é que eu já não suportava mais sobreviver a essa vida fracassada de sempre. No entanto, quando cheguei na pizzaria às dezenove horas em ponto, o senhor Otávio conseguiu me passar todas as instruções do cargo que eu deveria exercer dali em diante. Isso graças ao meu talento em aprender certas coisas com muita facilidade.

Era feriado, dia do trabalho, e a movimentação e o número de clientes que aumentavam descontroladamente, assustavam os outros funcionários do estabelecimento. Eu simplesmente mantive a calma e prossegui com o meu dever, atendendo de um por um, e me certificando de que tudo estava em seu devido lugar.

Nada melhor do que comemorar o dia do trabalho trabalhando, certo?

Lembrei-me de como a vida pode nos surpreender. À meia hora atrás eu era simplesmente um desses clientes (ou talvez nem isso), mas agora, todo uniformizado, eu era bem mais. Eu era um funcionário. E isso certamente me deixou surpreso ao constatar que eu estava fazendo tempestade em copo d'água quando à lembrança dos quinze minutos atrás veio à tona...

Eram exatamente dezoito e quarenta e cinco quando o Sr. Otávio finalmente me telefonou. Passei minhas últimas quatro horas aguardando esse maldito telefonema. Por isso, no primeiro toque, nem esperei que o som de Anitta soasse pelo ambiente do meu minúsculo apartamento, e atendi logo de uma vez.

— Alô? — eu sabia que era o Sr. Otávio do outro lado da linha. Além de ser o patrão do Andrew, ele também era o patrão do Carlos, o que me possibilitou conhecê-lo pessoalmente alguns dias atrás.

— A-Alô? — ele parecia nervoso — Matheus?

— Sim, é ele. — "Pensei que o Sr. não fosse me ligar", eu quis acrescentar, mas, tentei não contrariá-lo — O que o senhor deseja?

— Bom, é q-que nós estamos precisando de um funcionário urgente e como hoje é feriado, a-aqui na pizzaria meio que encheu, então, se você puder vir até aqui dar uma força...

Enquanto ele falava, a lembrança de todas as minhas tentativas de conseguir uma vaga ali, quando na verdade eu só queria mesmo era a senha da internet, veio à tona. Mas, em todas elas, ele sempre respondia que não precisava de ninguém no momento.

Mas agora as coisas eram diferentes, ele realmente precisava de mim. Da minha ajuda.

E então, não pensei duas vezes antes de responder:

— Claro que sim!

— Ok! Tem como você aparecer às sete? — aquilo me deixou confuso.

O relógio já marcava dezoito e quarenta e seis, e a pizzaria só funcionava à noite. Então, isso só poderia significar que às sete horas do qual ele se referia eram da noite, e não às sete da manhã. O que me resultou em uma sensação entranha. Algo como ansiedade, medo e felicidade, tudo ao mesmo tempo.

— Alô, Matheus? Você ainda tá aí? — a voz rouca do Sr. Otávio soou do outra da linha,

— Sim! — sibilei, criando coragem para tirar minhas dúvidas — Mas, é que... eu só tenho exatos catorze minutos para chegar aí. As chances de acontecer um atraso são grand... — mas ele me interrompeu.

— Seja rápido. E não se atrase! — e desligou na minha cara.

Ainda nem comecei a trabalhar na pizzaria e já estava odiando esse homem.

Carlos, seu traidor, você tinha que folgar justo hoje?

Como eu só teria catorze minutos para me arrumar, acabei ficando com um pouco de medo de comparecer já quebrando uma das regras mais importantes em um estabelecimento: à pontualidade. No entanto, ao lembrar que em menos de vinte minutos, também, eu iria trabalhar ao lado do Andrew, senti uma felicidade inexplicável.

Já à ansiedade, veio não só por essa mesma razão, como também, por ter a certeza que de agora em diante o Sr. Otávio não seria apenas o patrão do meu melhor amigo, mas o meu também.

Ruim Pra Mim [REPOSTANDO]Kde žijí příběhy. Začni objevovat