— Quer dançar? — Olho para o garoto que está me olhando com um sorriso de orelha a orelha. Assinto terminando minha bebida e ele deixa a dele de lado, estendendo a mão para eu pegar.
Segui o mesmo e sinto uma de suas mãos em minha cintura, ao mesmo tempo que eleva a outra junto da minha e puxa-me para perto. Sinto o calor de seu corpo, ou talvez do meu, ou ambos. Nossos olhares como ímãs. Apesar da escuridão consigo ver seus olhos sempre que as luzes o tocam, analisando a cada momento. De perto seus olhos são mais azuis do que qualquer um que já vira, lembrava-me o oceano, como se eu pudesse ver e sentir o mar diante de mim. Nossos narizes roçaram um no outro.
E que mal tem se rolar, não é?! A gente não vai se encontrar mais, mesmo.
Estávamos cada vez mais próximos, o calor compartilhado. Não imaginava que eu pudesse associar o cheiro de alguém a limão doce... Limão doce? Com suor. Misturado com odor salgado.
Até que:
— Meu Deus, estou cega e surda?! — Solto-me do garoto e escuto um riso.
— Galera, galera! — O DJ diz no microfone. Bom, pelo menos não estou surda. — Sem pânico. Faltou energia, mas já estão tentando resolver.
E nem cega.
— Ei! — Escuto a voz de Pedro me chamar. — Sumisse.
— Achei que eu tinha ficado cega e surda. — Digo e ele ri.
— Vamo' embora, eles não conseguiram ajeitar ainda. Vai demorar.
— Eu queria beber mais. — Reclamo e ele me leva até onde o resto do pessoal está.
— Ainda bem que você tá' viva. — Diz Felipe e estiro língua para o mesmo.
— Eu aproveitei a noite, mesmo que sem vocês. Apesar de terem me deixado sozinha. — Digo e eles falam que é exagero. — Vocês querem se livrar de mim, não é?! — Digo chorosa. — Foi por isso que vocês quiseram essa despedida. Querem que eu vá e não volte mais! — Começo a chorar e esfrego os olhos para limpar. — Vocês não me amam mais e querem me jogar fora!
— E lá vamos de Lua carente. — Léo comenta, enquanto pega o celular.
O Felipe vem me abraçar, mas não paro de chorar.
— Claro que não, Lua. Queríamos que você aproveitasse. E ainda bem que aproveitou.
— Pois é, você conseguiu aproveitar sem a gente. Você sabe como é apegada a nós. — Diz Peter alisando minhas costas.
— Você tá' parecendo que foi pra guerra e passou lama na cara, amiga. — Pedro ri junto dos demais e eu rio junto, mesmo sem entender nada.
***
— Ó, céus! Que dor de cabeça! — Digo sonolenta, enquanto ajeito meu travesseiro.
— Você bebeu além da conta. — Diz Felipe ao meu lado. — Como na maioria das vezes.
— Para de gritar, pelo amor de Deus. — Digo devagar.
— Não estou gritando. — Ele cochicha e ri. — Olha aqui. — Ele me mostra o celular e abro os olhos lentamente, vendo o vídeo se passar, seguido por fotos.
O primeiro vídeo passa-se comigo chorando por algo e esfregando o rosto, fazendo com que ele ficasse totalmente preto por causa da maquiagem. Seguido de outro abraçando o poste de luz em frente da minha casa e algumas fotos minhas, nossas.
— Léo é um filho da puta. — Praguejo e coloco a mão na cabeça. — Aí, aí.
— Foi engraçado, ainda fui caridoso de lhe dar um abraço.