Capítulo I - Intercâmbio

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— NÃO ACREDITO, CARALHO! — Grito dando pulos e sacudindo os papéis em minhas mãos.

— TU CONSEGUIU, PORRA! — Felipe grita de volta e fazemos uma dança estranha, ao mesmo tempo em que minha mãe entra no quarto e faz uma careta.

— EU CONSEGUI, EU CONSEGUI! — Grito indo até ela e a sacudindo.

— Credo, garota! — Minha mãe reclama e sai de perto de mim, sentando em minha cama. — Conseguiu o quê? Parece até que conseguiu sentar no Michel B. Jordan.

Ó, céus! Como eu queria!

— Não, algo melhor!... Bom, no momento. — Respondo e o Felipe faz uma careta. — CONSEGUI O INTERCÂMBIO, CARALHO! — Grito e ela começa a gritar junto, vindo dar-me um abraço e começamos a pular.

— Que coisa boa, filha! Quando é?

— Não sei. — Respondo e ela ri junto do Felipe. — Tenho que olhar, ainda.

— Aqui. — Felipe diz, enquanto mexe no meu computador. — Se ela tivesse lido o e-mail todo, ao invés de surtar de primeira, saberia, né'?!

Sorrio mostrando todos os dentes e ele revira os olhos.

— A universidade oferece a bolsa de intercâmbio por seis meses, já incluindo o dormitório e o que mais for preciso. — Felipe olha-nos e sorri. — Os seus pais tem que resolver a documentação, também.

— Isso é óbvio, né'. — Empurro ele para o lado, dividindo a cadeira com o mesmo. — Mas a passagem é por nossa conta.

— Sim, sim. Mas quando é? — Pergunta minha mãe com o rosto quase dentro da tela do computador.

— As aulas começam em setembro, ou seja, tenho que estar lá um dia antes, pois é o dia das mudanças para os alojamentos.

— Próximo mês?! — Felipe solta. — Tá' muito perto.

— É...

— Você vai? — Minha mãe olha-me, juntamente do Felipe.

— Vou. Estava esperando por isso. Não é qualquer uma que entra para Havard. — Respondo olhando para o chão e sinto-me meio enjoada. — Acho que estou nervosa.

— Você acha?! Tá' se tremendo desde a hora em que leu o e-mail. — Felipe ri e olho para as minhas mãos. Não tinha notado que estava tremendo-me.

— Precisamos agendar tudo o que precisa ser feito, principalmente em relação aos documentos e sua passagem. — Minha mãe diz e começa a andar até a porta. — Vai ficar pra' o jantar, Fê?

— Vou sim, tia. — Felipe responde assentindo e ela sai do cômodo, deixando-nos a sós. — Vai dar tudo certo!

— Tem que dar certo, Fê! Eu me matei muito por isso, todos esses anos! E você sabe, sabe bem! — Digo sem olhá-lo. — Não posso botar tudo a perder.

— Então coloque na sua cabeça que não vai colocar. Não tem como você colocar tudo a perder. É um sonho seu prestes a se realizar. É tão difícil acreditar? — Diz puxando-me para um abraço de lado e o olho como se dissesse "Óbvio que é difícil de acreditar!" — É, você tem razão.

Nos olhamos por dois segundos e começamos a rir.

— Não é difícil, é simplesmente impossível! Quantas pessoas, ainda mais brasileiras, conseguiram entrar em uma faculdade no exterior?! Ainda mais em Havard! É, tipo, coisa de outro mundo, Felipe!

— Você consegue fazer coisas impossíveis, não esqueça-se. — Diz e ri, mas o ignoro.

— Eu sei que não é grande coisa um intercâmbio, mas para mim é, ainda mais um intercâmbio em Havard. Puta privilégio! — Levanto e jogo-me na cama. — Eu vou surtar.

IntercâmbioWhere stories live. Discover now