- Não estava subindo, estava descendo. Subi para averiguar o território e acabei vendo uma coisa... – ele fala sentando e pegando um graveto.
- O que você viu? – pergunto interessado.
- Você beijando o João Pedro! – ele fala rápido e eu me assusto com aquela frase. Não imaginava que alguém poderia ter visto, mas é o Lucas em quem eu confio.
- Eu não o beijei, ele que me beijou.
- Faz diferença? – ele me olhava esquisito.
- Sim. Faz toda diferença!
Ele não fala mais nada e continua riscando o chão. Ele sempre faz isso quando algo o incomoda. Descansamos mais um pouco e eu o chamo:
- Vem, já vai anoitecer. Vamos ver quem ganhou o jogo.
Começamos a caminhar por onde viemos, mas eu não consigo lembrar daquelas árvores, passamos por elas muito rápido. O sol já está se pondo e temos que chegar antes de anoitecer. Como na noite anterior, o céu está nublado. Encontro o que parece uma trilha e resolvo seguir. Com certeza, ela nos levará a algum lugar. Não quero dizer ao Lucas que estamos perdidos, isso só vai apavorá-lo.
O sol vai se pondo. E, como não há lua, vai ficando cada vez mais escuro. Eu olho para ele e seguro sua mão para não nos separar. Começa a chover, um sereno fino e espaçoso. Corro para baixo de uma árvore.
- Tecnicamente, não deveríamos ficar embaixo de árvores, elas atraem raios – Lucas fala olhando para cima.
- Mas não há raios hoje – falo também olhando para cima, depois olho para ele e continuo. – Lucas eu tenho que te contar uma coisa.
- Se for que estamos perdidos, eu já sei, acabamos de passar por uma árvore pela terceira vez.
- E você não está com medo? – pergunto.
- Muito – foi a resposta.
A chuva e o frio aumentam intensamente. O gesso molhado faz meu braço doer. Seguro no seu ombro e percebo que ele está tremendo. Eu o abraço na esperança do calor do meu corpo esquentá-lo.
- O que você está fazendo? - Ele pergunta com os lábios trêmulos.
- Tentando te aquecer.
- Isso é tão bom – ele fala e me abraça de volta.
Ficamos assim por algum tempo quando ouço o barulho de uma moto. O barulho diminui e ouço alguém gritar nossos nomes. Me afasto dele devagar e vou até a trilha. Começo a gritar. O barulho fica mais próximo até chegar onde estamos.
- Vocês estão bem? – é o Heitor na moto do Élio. – Isso foi muita irresponsabilidade. A mãe vai te matar. Subam aqui, vamos voltar pra casa ainda hoje.
Voltamos para o acampamento e encontramos Roberta, Guilherme e Élio. Os outros estavam nos procurando. Heitor solta fogos de artifício para indicar que já havíamos sido encontrados e chamar os outros de volta.
Vou até Élio e dou-lhe um abraço. Ele não retribui e sai, vai ajudar a desmontar o acampamento. Olho para Roberta com cara de interrogação.
- Não sei, migo, ele voltou do jogo com essa cara e não abriu a boca – responde Roberta à minha indagação.
Desmontamos o acampamento e partimos. Élio não espera e vai sozinho na frente. Damos um jeito de colocar Joseph no carro conosco e voltamos para a cidade. João Pedro vai próximo a gente.
Chego em casa, ouço o sermão da Dona Lúcia e vou para o banho. Na volta, vejo uma mensagem no celular. Deve ser o Élio para se justificar, abro então rapidamente o dispositivo, pois estou curioso.
"Ganhei um PS 4 pro e 1 bolo, quer vir comer comigo amanhã? Pd trazer o Heitor o bolo é enorme. 🙂😋" – Lucas
"Pai ñ sabe o que aconteceu no camp, e eu ñ vou contar, senão ñ haverá próxima vez 🤫" – Lucas.
Que bom, ele está feliz apesar de tudo e ainda quer uma próxima vez. Por enquanto eu só quero dormir. Aproveito que estou com o celular na mão e mando uma mensagem para o Élio.
"Tudo bem com você? Não nos esperou. Quando vou lhe ver? Já estou com saudades. 😍😘❤"
Ele recebe e visualiza a mensagem, mas não responde. O que será que está acontecendo?
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O Renascer De Páris
Romance➡️ Sinopse: Páris é um garoto de 15 anos cheios de problemas e traumas. Ele já tinha passado por tanto sofrimento que nem ao menos vivia, apenas se deixava levar de um sofrimento a outro. Mas o ingresso no ensino médio de uma nova escola...
CAPITULO XXV - O VIOLETA DE ÉLIO
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