CAPÍTULO XXIII - O ÍNDIGO DE HEITOR

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Ele tira uma caixinha azul do bolso e me entrega. Fico sem entender, pois, eu que devia lhe dar um presente e não o contrário, mas abro a caixa e vejo dois cordões dourados. Os pingentes são silhuetas de dois garotos, em um está escrito "best" e no outro "friends". Olho assustado e emocionado para ele.

- Você é o melhor amigo que eu já tive. Seria muito legal se... - ele dá uma pausa, com certeza escolhendo as palavras corretas. Nessa hora lembro que ele, assim como eu, tem dificuldade em interagir socialmente - se você aceitasse usar um desses comigo.

Fico sem palavras e puxo ele para um abraço apertado. Ele corresponde todo desajeitado.

- Vai ser muito legal, Lucas. Você também é o melhor amigo que eu já tive.

Somos surpreendidos por João Pedro, que vem comemorar mais um gol do seu time. Me abraça, levanta do chão e me gira nos braços.

- Você está nos dando sorte, Páris. Você é meu amuleto – ele diz e volta correndo para o campo.

Lucas olha pra ele sem entender. Depois dá de ombros e me ajuda a colocar o cordão, em seguida ficamos conversando e brincando. O jogo de futebol termina. Os meninos vão direto para o rio, menos Élio que vem em nossa direção. Ele tira a blusa suada exibindo sua barriga definida e senta na minha frente.

- Qual é a desse João Pedro? – pergunta me encarando.

- Ele é meu vizinho. Somos amigos – respondo naturalmente.

- E ele não sabe que você tem namorado? – pergunta ainda me encarando e me deixando constrangido.

- Sim. Já conversamos sobre isso. Mas ele não fez nada demais. Foi só um abraço de amigos.

- Ah, vocês andam conversando? – ele fala balançando a cabeça. Não entendo muito o que está acontecendo, eu poderia jurar que ele está com ciúmes. – Devo me preocupar?

- Não! – respondo sem entender muito bem a pergunta.

- Não vão tomar banho? – ele pergunta olhando para Lucas.

- Só depois, não posso molhar o gesso – respondo.

- Trouxe uma bolsa plástica. Se quiser posso ajudar a colocar. Não vai molhar - Ele fala já levantando.

Concordo e ele sai para pegar a bolsa no carro. João Pedro passa por nós e pisca o olho para mim. Lucas me olha com uma cara estranha.

- Não é o que você está pensando - trato logo de esclarecer.

- Estou pensando que você está muito encrencado - ele retruca balançando a cabeça e olhando para o rio.

Ele não deixa de ter razão. Mas, o que eu fiz para acontecer tudo isso? Como eu saí de excluído e ignorado para motivo de ciúmes de alguém!? As vezes sinto falta de antigamente, pelo menos não tinha esse tipo de problema.

- Posso fazer uma pergunta? – Lucas me tira dos pensamentos.

- Só se eu puder fazer uma depois – respondo sorrindo.

- Tudo bem! – Ele para um pouco e depois continua. – Se o Élio pedisse para você não falar mais comigo, você aceitaria?

- É claro que não. Você é meu melhor amigo. Não vou me afastar de você. Ele teria que aceitar.

Ele sorri e volta a riscar o chão com o graveto. Parece que não ficou totalmente convencido com a minha resposta.

Antes que eu consiga pensar em algo para dizer, vejo Heitor correndo em nossa direção, com os outros correndo atrás. A cara do Heitor parece preocupado. Ouço um grito da Roberta na direção do carro. Levantamos rápido e vamos até lá. Élio e João Pedro estão se empurrando prestes a brigar. Heitor segura João Pedro e Aloysius agarra Élio pela cintura.

O Renascer De PárisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora