Ethan permaneceu calado durante todo o percurso até os portões, e quando nos aproximamos eles já estavam abertos. O elfo/lobo me deixou passar primeiro e depois que passou trancou os portões. 

-Quer ir direto para o Santuário? - ele pergunta ao se colocar ao meu lado.

Mas antes de respondê-lo eu avaliava a enorme e única cidade do continente. A cidade de Maraxe era a coisa mais linda de Makai, sem dúvidas. Apesar de escura e muitas vezes ameaçadora, ela era acolhedora ao mesmo tempo, isso porque as estrelas no céu enfeitiçado pareciam nos encarar de volta, mas sem julgamentos.  Apesar da paisagem parecer um dia normal de verão, Maraxe se mostra muito fria fora de algum estabelecimento, ou casa. As pequenas casas na rua de paralelepípedos iluminada estavam com as portas e janelas abertas, as crianças brincavam na rua aos olhos dos pais e a música soava melódica, exatamente como eu me lembrava. Tudo era hospitaleiro, receptivo e caloroso de certa forma... Até me lembrava o Brasil, o modo como os habitantes nos olhavam, com carinho e não com desconfiança.

-Sim - finalmente respondo. 

-Venha - ele chama e me permito tirar os olhos da vila para começar a segui-lo. - Esteve aqui mesmo? - Ethan pergunta me direcionando o olhar.

-Faz muito tempo - falo ainda estudando o lugar. Haviam guardas e sinos de emergência a cada rua. 

Ethan não comentou sobre minha resposta, ele apenas limpou a garganta parecendo desconfortável e não puxou mais assunto até eu ver a construção da aldeia próxima ao santuário, outro lugar incrível. Era muito parecido com um castelo mas não deve ser nem um terço do tamanho de um... 

Porém, não me aproximei. Segui pelo outro lado para chegar logo na aldeia.

-Procura alguém em especial? - Ethan quebra o silêncio. - Seria mais fácil se eu soubesse um nome...

-Eu não tenho um nome - suspiro. - Mas é uma mulher, loba e de Sargenis - digo e ele concorda com a cabeça.

-Só há duas lobas de Sargenis aqui, e uma delas é você, então... Isso fica realmente fácil - ele diz e começa a seguir um caminho sem hesitar, apenas o acompanho.

Ele segue adentrando a aldeia cada vez mais, recebíamos olhares curiosos e ao mesmo tempo carinhosos enquanto avançávamos. 

Suspiro envergonhada ao reparar que os olhares curiosos eram apenas para mim, eu estava suja e ensanguentada, meu cabelo solto cobria minhas costas até a bunda e o meu ombro direito pela mecha jogada por ele. 

Ethan para em frente a uma casinha azul escura modesta. Ele me manda um olhar como se pedisse permissão para bater, apenas confirmo com a cabeça sem encará-lo, assim ele o faz.

Em alguns segundos a porta se abre revelando um garoto que parecia uns anos mais velho que eu, ele encara Ethan por alguns instantes e depois seu olhar se volta para mim.

-Posso ajudar? - o garoto pergunta.

Permaneci o encarando sem saber exatamente o que dizer. O nó em minha garganta quase me impedia de respirar, senti meus olhos marejarem sem sequer saber o por quê. 

-Sua mãe está, Mun? - Ethan pergunta educadamente.

-Vou chamá-la, entrem - o garoto avisa abrindo mais a porta, Ethan entra primeiro e me espera. Fecho minhas mãos tentando não tremer e o sigo.

-Com licença - peço ao entrar. 

A casa não tinha muita personalidade, era decorada com apenas fotos e cores neutras, até um pouco sem graça. Ethan se acomodou em uma poltrona e eu permaneci de pé, em frente à fogueira. 

Escolhida para lutarWhere stories live. Discover now