Dois caminhantes, na estrada sem fim.


A despeito do constante mau humor, o necromante teve que rir da cantiga entoada. No fundo sabia que não era uma companhia agradável e que o primo, apesar de tudo, só estava nessa jornada por ele.

– Certo peregrino cantante, vamos continuar, caso contrário não chegaremos a lugar algum – disse Thomas, tentando parecer gentil.

O primo guardou o bandolim na mochila e levantou-se escorando na árvore, consciente de que de nada adiantaria responder.

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O sol primaveril brilhava forte no céu claro da manhã e castigava quem se aventurava a desafia-lo naquele horário. Wesley, que não era acostumado àquelas condições climáticas, ainda estava com sede e resmungou ao recomeçar a caminhada tentando acompanhar o primo que seguia ligeiramente à sua frente.

– Porque não esperamos anoitecer para recomeçarmos a caminhar? O sol está muito quente e não temos ideia do quanto ainda temos pela frente.

– Porque temos urgência em nossa demanda e já estamos atrasados. – respondeu Thomas retomando sua rabugice – Quanto ao sol, você não disse que domina as canções de nível III? Faça algo a respeito do tempo, ou estava apenas contando vantagem?

– As canções de nível III consomem muita energia. Acho que prefiro andar no sol quente a tentá-las.

– Há! O mago é o senhor de sua magia e não o contrário. Se não tem capacidade para executá-las, abdique de seu dom. – respondeu Thomas, zombeteiro.

Wesley tentou se justificar alegando que não tinha o mesmo vigor do primo, mas sua atenção foi atraída para uma jovem de longos cabelos prateados que cruzava a poeirenta estrada rural. Segurando uma sombrinha rendada em uma das mãos e uma sacola de verduras na outra, a adolescente passou pelos dois olhando-os com singela curiosidade.

– Com licença, linda senhorita – disse Wesley, galantemente – meu nome é Wesley Green e esse é meu primo Thomas Black. Estamos meio perdidos e discutíamos sobre o caminho para a cidade quando sua bela presença roubou nossa atenção. A despeito de sua culpa poderia nos informar se estamos indo na direção correta e quanto ainda falta para chegarmos?

A moça corou e abaixou a cabeça timidamente quando Wesley pegou em suas mãos e segurou-a entre as suas. As longas mechas de sua franja caíram sobre o rosto e esconderem seus olhos acinzentados e seus lábios tremeram na tentativa de responder. Wesley aproveitou sua indecisão para segurar seu queixo e levantar seu rosto a encorajando com um sorriso.

– Por favor, senhorita! Nosso destino está em suas mãos adoráveis.

– D-desculpe, senhor! – respondeu a moça, entre gaguejos. – A estrada é essa mesma e vocês estão à aproximadamente seis horas de caminhada da cidade. Podem seguir em frente que até a noite já devem avistar as luzes.

Wesley notou uma grande cicatriz sobre sua sobrancelha quando ela levantou o rosto para encara-lo e disfarçou, voltando a atenção para a estrada.

– Muito obrigado! – replicou, gentilmente – Mas se vamos pelos mesmo caminho poderemos caminhar juntos. Não quer nos acompanhar por um tempo? Assim poderemos nos conhecer melhor.

Com o consentimento da moça Wesley pegou em seu braço para seguiram conversando, enquanto Thomas seguia atrás, discordando da audácia do primo e praguejando contra o sol.

– Maldito calor! Mais uma hora nesse sol e vamos torrar – reclamou inquieto.

– É verdade. – respondeu a jovem reparando em Thomas pela primeira vez – Eu que estou acostumada com o clima aqui no Mato Grosso do Sul também estou sentindo mais hoje, mas logo à frente tem um riacho onde poderemos nos refrescar, se estiverem interessados.

A Busca pela Árvore da Vida (em revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora