O que você faria?

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"Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la"
- Carlos Drummond de Andrade

   Viollet dormira mal naquela noite. Os pensamentos vagavam entre as palavras de sua mãe. Não aguentaria voltar para sua casa e ouvir novamente, de perto, os gritos daquela mulher insuportável.
   Durante toda sua infância a mãe sempre a deixou de lado, priorizando apenas as viagens constantes para Nova York, seu país de nascença. Porém, após Viollet completar 16 anos, a mulher voltou com a função de mudar drasticamente a vida daquela garota para pior. Poderia comparar-se a um pesadelo. Ter de voltar à Londres seria terrível.

   A grande janela permitiu que os raios de sol adentrassem no quarto, causando leve desconforto aos olhos de Viollet.

"Que noite péssima..."

  Murmurou, checando o celular, que já havia milhares de mensagens da mãe.

"Ela não precisa saber que eu já acordei."

  Viollet deixa o aparelho, virando-o com a tela para a mesa de cabeceira. Não estava com a menor paciência para responder ninguém àquela altura. Deixando o cômodo, após se trocar e fazer sua higiene, tem sua visão tomada pela figura de Watari, que parecia estar saindo do apartamento:

- Oh! Bom dia, Viollet! - Sorri, ao perceber à presença da garota.

- Bom dia, Watari. - Devolve o sorriso. Percebera que o clima havia mudado na presença do velho. O sorriso localizado abaixo do grosso bigode, já coberto de pelos brancos, era de certa forma motivador. Sem ao menos perceber, já havia entrado também no clima do local.

  Viollet era assim. Uma garota animada e descontraída, quando possível. Uma companhia agradável. Durante toda sua vida, no colégio, ninguém fazia a menor ideia do inferno que precisava lidar todos os dias dentro de sua casa. Na faculdade, muito menos. Porém, bastava um empurrãozinho, um leve sorriso em direção à ela, para despertar na garota a pessoa que ela não podia ser em sua casa. Aquilo era definitivamente prazeroso.

- Eu estava indo buscar café da manhã para você e o Ryuzaki. Quer ir comigo? - Pergunta Watari, procurando aproximar-se da menina.

- Seria um prazer. - Responde, ainda sorrindo, como se apenas aquele ato simplório já pudesse melhorar todo seu dia.

   Adentrando o elevador, Viollet sente certo deleite. Havia sido ali, naquele chão, onde todos os seus pensamentos ruins foram completamente dissipados em uma fração de segundos, na companhia daquele rapaz intrigante. Ryuzaki. O nome que não saia de sua cabeça desde a primeira troca de olhares.
  Comparou-se à uma criança. Não podia crer que estava feliz por apenas entrar em um elevador.
   Chegaram rápido ao destino, onde pela segunda vez, Viollet não sentira o tempo passar.

                                            ¥

O amor é algo inexplicável. Ele acontece das formas mais inesperadas, puxando nossos tapetes e nos derrubando em um duro chão. Porém, a queda é prazerosa.
    O amor é tão contraditório que até os corações mais gélidos e as mentes mais racionais podem perder suas convicções em questão de segundos.
    Até mesmo quando acreditamos entender perfeitamente a mente humana e julgamos seus atos como "previsíveis", o amor pode nos surpreender.

    E era assim que Lawliet sentia-se nos últimos dias. Sua curiosidade havia sido atiçada no instante em percebeu estar errado sobre Viollet. A garota que o mesmo julgou como tímida e retraída estava se soltando aos poucos naquele apartamento. Era como se ela guardasse sentimentos dentro de si que nunca haviam sido desenterrados, ou talvez, nunca tiveram a chance de se libertar.
    E com a curiosidade, surpresa e indagação, Lawliet esqueceu de reparar em si mesmo. O corpo que se arrepiava quando a garota aproximava-se. O coração que acelerava e esquentava ao perceber mais um "avanço" por parte dela. O cérebro genial que retia memórias fúteis, repassando-as por horas.
    Em quase dois dias, L se encontrava em um estado onde nem mesmo ele poderia explicar. Um estado desconexo, onde a mente lutava uma batalha incansável com o coração.

Love Line { Concluída } Where stories live. Discover now