Prólogo

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     A mulher era consumida pela vontade de permanecer, mesmo estando plenamente ciente de que não podia.

     Se o fizesse, seu filho e seu marido e toda a Terra sofreriam nas mãos do Império Galra.

— Você vai voltar algum dia? — perguntou o homem, lutando para ser forte.

     Deu uma boa olhada nele: como ele nunca largava daquele colete preto,  sua barba rala, sua cicatriz na sobrancelha,  seu filho no colo dele.

     Ela lutou contra as lágrimas e sorriu.

— Eu não sei, Tex. Talvez.

     Chegou perto da esposa e a beijou. Beijou, sabendo que aquela podia ser a última vez. Que talvez nunca se reencontrassem em vida.

     Quando ficaram sem ar, ouviram o adorável balbuciar de seu filho.

     A mulher tomou o corpo de bebê entre seus braços com cuidado.

     Nessa hora,  ele abriu os olhos. Grandes e curiosos. Tinham uma tonalidade tão profundamente azul que pareciam roxos. Deu um sorrisinho,  dizendo "Mamã" com alegria.

     Ela deixou que ele brincasse com seus cabelos roxos. Fez carinho de leve nos já compridos cabelos do bebê. E, triste, murmurou:

Lembre de mim
Hoje eu tenho que partir
Lembre de mim
Se esforce pra sorrir

     O pequeno ficou quietinho, encantado com a canção da mãe. Fazia carinho no rosto dela.

Não importa a distância
Nunca vou te esquecer
Cantando a nossa música
O amor só vai crescer

      Quebrou o contato com seu bebê,  fitando o marido com uma mistura de amor e dor e tristeza.

Lembre de mim
Não sei quando vou voltar
Lembre de mim
Se um violão você escutar

     O homem se aproximou,  envolvendo suas suas preciosidades com seus fortes braços. Cantou junto dela:

Ele com seu triste canto
Te acompanhará
E até que eu possa te abraçar

     Um encarava o outro, tentando gravar na memória cada detalhe importante. Guardar um pedacinho do outro no coração.

Lembre de mim

     Ele tomou o rosto da esposa:

— Eu vou. E cuidarei bem do Keith, Krolia.

     Sorrindo, deu uma pequena surra de beijos no bebê, que ria pelas cócegas.

— Eu amo vocês de todo o coração.

     Algumas horas depois, o homem dava a mamadeira para seu filho enquanto olhava a janela que tinha vista para onde a nave da esposa foi embora.

     Pois a infantil esperança de que ela voltaria imediatamente estava lá.

     E, para aliviar a dor no coração, murmurou, ninando Keith:

Lembre de mim

Lembre de mim [Keith Kogane]Where stories live. Discover now