Capítulo 04

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Netuno sabia que alguém invadira a sua sala. Haviam três livros fora do lugar desde a última vez que arrumara a estante. Então decidiu se enconder dentro da cabine na esperança de ver a pessoa, e não é que o jovem conseguiu?

Era Brianna Riley!

— Aí meu Deus! O senhor precisa me perdoar. Eu realmente não queria invadir o seu escritório, mas eu precisava sentir o cheiro e a textura dos livros! Eu estava sentindo tanta falta deles e... — Netuno parou de prestar atenção no que a garota falava. Ela andava de um lado para o outro desesperadamente e falava tão rápido que ele simplesmente desistira de escutar.

— Pelo amor dos tripulantes, se acalme! Resolveremos essa situação como duas pessoas normais que não possuem um gravador na velocidade máxima na boca.

Brianna respirou fundo e desabou em uma das cadeiras de madeira. Netuno percebeu que ela parecia bastante cansada. A sua pele estava mais bronzeada e as suas olheiras estavam mais profundas.

— Eu só queria ver os livros, entende? Na minha casa eu costumava lê-los todos os dias. Você tem tantas obras incríveis aqui.

Netuno se remexeu na cadeira. Ele estava desconfortável.

— Por que não me pediu? — ele perguntou.

— Estava com medo do senhor negar.

— Netuno, ou capitão. — Ele a corrigiu em um impulso. — Mas não, eu não recusaria. Ter a capacidade de ler é uma benção e eu nunca a impediria.

Netuno sorriu ao perceber que Brianna foi surpreendida com a sua resposta. A sua boca se abria e fechava em busca de uma resposta, mas depois de alguns instantes ela finalmente disse:

— Capitão, poderia me indicar alguma dessas obras? — Brianna levantou da cadeira parecendo mais confortável. Ela rumou até a prateleira de livros e passou a mão pela lombada de cada um deles com delicadeza. Netuno estava em transe com aquela cena, mas conseguiu responder:

— Infelizmente eu não posso. Eu aprecio muito os livros, mas não consigo ler. Não tive oportunidade de aprender. — Netuno abaixou a sua cabeça. Estava se sentindo triste e um pouco impotente. — Dulaborg proíbe escolas, mas eu sempre admirei muito os livros, e me sinto muito mais confortável quando estou com eles. Eu sei que parece estranho, mas... — Brianna o interrompeu com um sorriso.

— Não é estranho. Eu também sinto isso. Eles são como um escudo.

— Exatamente! — Netuno sorriu também. Brianna o entendia. — Eu entendo mapas e símbolos, mas não consigo ler muito bem. Consigo com muita dificuldade, mas é tão difícil que eu acabei desistindo. — ele suspirou. — Gostaria de saber o que está escrito neles...

Depois de alguns instantes percebeu que acabara de desabafar com Brianna, uma garota que conhecera há menos de uma semana! Netuno só poderia estar ficando louco.

— Escolha um livro. — ela ordenou. A sua voz soara firme.

— Para que? — ele arqueou a sobrancelha.

— Apenas escolha!

Ele suspirou, estava muito cansado, mas mesmo assim apontou para o livro de capa vermelha que sempre o atraira.

Brianna pegou o livro, acendeu mais algumas poucas velas para aquecer o cômodo e sentou na mesma cadeira que estava sentada há poucos minutos. Ela abriu o pequeno e belo livro e começou a lê-lo em voz alta.

— O que está fazendo?

Brianna parou a leitura e levantou o seu olhar.

— Lendo. — respondeu como se fosse óbvio.

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