(三十五) A Ponte para a Paz

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O silêncio deixou de ser um acalento e tornou-se um sinal de constante alerta. Sobre ruídos abaixo de nós. Sobre a sensação de estarmos sendo seguidos. Sobre minha inegável preocupação com aquela gentil moça que, se ficasse sozinha, poderia despertar o que mais temia.

Me lembro dos olhos fumegantes, dos cabelos flamejantes, dos ruídos e das espadas apontadas para o meu rosto quando a enfrentei. Não havia Akemi dentro daquilo, apenas um ser vazio e desprovido de sentimentos.

Mas então, um chacoalhar debaixo das águas nos fez olhar imediatamente para nosso lado esquerdo, como se um pequeno peixe ou um predador dos mares estivesse próximo.

Eu olhei sobre meus pés descalços, e havia uma sombra passando sobre nossos pés.

— Hi... sashi.

— Não se mova... Izanami-sama.

Yuki olhou para todos os lados, segura sobre minha cabeça, com dúvidas, questionamentos, indagações sobre a sombra que víamos passando sobre nossos pés. Talvez um tubarão? Uma baleia?

Um Marlin.

Sua inegável espada-nariz não nos enganava. Apontei para frente e Hisashi notou, era apenas isso; um peixe grande na superfície.

Porém, até onde eu me conhecia por gente, peixes não costumavam voar. A menos que ele fosse arremessado aos ares de repente e um rugido, seguido de uma imensa boca saísse do mar, cerca de dez metros de distância de nós para apara-lo em pleno ar.

— Sagrados Divinos!

Uma imensa criatura com uma boca ainda maior saltou sobre as arremessando tudo ao seu redor para longe, e nós três éramos o tudo. As águas formavam um cilindro, eu me vi de cabeça para baixo, sendo atirada, prensada, arremessada para todos os lados enquanto engolia água e buscava apoio para ao menos subir.

A criatura certamente nos viu, e estava tão próximo que, com apenas um chacoalhar de barbatanas, estava debaixo de nós novamente.

— Yuki!

Eu sai correndo para procurá-la quando vi Hisashi surgir na superfície com ela em seus braços, tentando mantê-la sobre as águas que se revoltavam à medida que a criatura nos cercava. E então, eu senti o golpe de algo em cima de mim, provavelmente a sua cauda que me arremessou de volta para dentro num cilindro. Eu fechei a boca para não engolir água, estava perdida, senti-a entrar em meus pulmões antes de abrir os olhos e reparar na sua aparência serpental, as três cabeças, os olhos grandes e a boca cheia de dentes. Eu puxei meu arco e preparei uma flecha, mas ele era rápido, esguio, com um corpo escamoso e queria me abocanhar.

Eu desviei, no exato instante em que senti sua cabeça sobre meus braços e o corpo me jogando para cima e para fora. Ele deu a volta, eu olhei para cima e meus amigos estavam lá, tentando se afastar. Eu me voltei para a criatura, mas o ar já me faltava, por isso decidi que o melhor seria regressar para cima e tomar ar antes que a visse sair das águas.

— Izanami-sama! — ouvi a voz de Hisashi.

A criatura cairia em cima de mim, por isso voltei para baixo, bem quando pensei em algo. Estávamos cercados por água, muita água, e não havia nada mais condutor de eletricidade do que a água. Rugidos ferozes, uma grande boca, uma fome impiedosa fizeram aquela criatura avançar sobre mim, mas eu fechei os olhos e confiei que Hisashi faria algo antes que todos fôssemos destruídos por nossas próprias armas.

Por isso, energizei o meu corpo.

Uma confusão cercou diante de nós e eu senti tudo em mim eletrificar dolorosamente, como se cada órgão em meu corpo fosse arrancado, mas isso pareceu funcionar contra a criatura que enfim recuou e desapareceu na escuridão mais profunda. Retornei à superfície e procurei por Hisashi que estava metros à frente. Ao menos estávamos bem. Ele me deu sua mão e eu subi as águas de volta, com Yuki sobre sua cabeça.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora