(十一) O Desdém de um Desonrado.

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A decoração temática que circunda a cozinha é uma graça. As paredes cobertas por folhas brancas e pretas, o chão de pisos laminados de mesma cor, os dragões encrustados nos vidros, os móveis simples e a mesa redonda que combina com o formato de cozinha pequena davam um toque de família à casa dos dois.

Desde que chegou, Zu'rien não pronunciou uma palavra, mas levava jeito para pôr as mãos no fogo e sua comida exalava cheiros maravilhosos das pequenas panelas nas quais cozinhava-se carne e massa em uma porção bastante generosa.

Parecia cozinhar para um batalhão.

Muitos talvez fossem ter uma boa refeição hoje.

Me sinto honrada em realizar tamanha ação.

— ... E é desse jeito que vivemos desde então. Somos nós dois, as paredes e os muitos livros antigos na estante.

— Gosto das fantasias das palavras também, Hisashi. Me lembro que adorava chegar do encontro de damas e pegar um livro de colorir que contava histórias incríveis sobre a magia e também as fábulas escritas pelos melhores contadores. Fora isso, o que mais os diverte?

— Quando temos tempo, encontramos Lung e Shiwe nas campinas para a patrulha aérea.

— Lung e Shiwe? Outros animais fantásticos?

— Sim, os dragões. Você já viu um pessoalmente?

Estiquei a mão sobre a mesa.

— Não! — o olho infantilmente, mergulhada na fantasia que seria ver, ou melhor, voar sobre as costas de um dragão no começo do dia ou da tarde. — Nunca tive o prazer. Diz-se que... nós... herdeiros do trovão, não somos bem-vindos a casa deles, isso procede?

— Não me admira que eles queiram distância de nós depois das eras de perseguição — comentou Zu'rien, com uma colher de pau enquanto experimenta os sabores.

— Sim, Izanami-sama. Os dragões veem a nossa presença como um incômodo desde o princípio das nações. Já ouviu falar da trilha de Acabe e Acaon?

— Parte da mitologia dos Shaofeng, não?

Ele balançou a cabeça em confirmação.

— Sim. Durante a batalha da criação, ovos deixados pelos Shaofeng choveram na primitiva Terracota como bolas de fogo. Eles estiveram escondidos ou enterrados durante séculos até que se abrissem e dessem origem aos dragões como conhecemos. Eles habitam e são comuns por toda Terracota, mas não servem aos Eremitas. Na verdade, não servem a ninguém. Muitos tentaram domesticá-los como cavalos, cães e gatos, mas eles parecem ter uma determinação e vontade próprias maior do que a dos outros animais conhecidos.

— E como vocês interagem?

— Simples; deixamos que acreditem que a honra da presença deles é nossa — disse, erguendo as costas até estar ereto no estofado que nos acomodava. — Mas... e quanto a senhorita, encontrei-a no meio daquela floresta entre lobos, fui poupado por sua bondade, mas até agora sequer sei dos seus gostos pessoais.

Zu'rien grunhiu do outro lado, parecia entediada. Mas eu não estava, não quando o olhar curioso dele pousou sobre o meu. Seus olhos tinham um calor, um verdadeiro interesse em saber quem eu era.

Mas quem eu era? A garota que se perdeu aos sete anos de idade numa floresta escura ou a adolescente que sentia um floreio excitante a altura do ventre toda vezes que observada por ele daquela forma tão emblemática?

— Tenho uma fraqueza por alta costura. Minha mãe, por mais ocupada que fosse, sempre me ajudou a confeccionar minhas roupas, tornando-as tão únicas quanto... eu.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora