— Superar o quê? Não tem nada pra superar — Kyungsoo responde, revirando os olhos. — É só que... — Ele aponta com a cabeça na direção de Jongin, que segura uma latinha de Coca-Cola enquanto ri de alguma piada com o resto do clube de natação. — Os inspetores da escola não deveriam, tipo, chamar a polícia porque ele tá sem a camiseta do uniforme? Não é isso que os adultos fazem? Ignoram os moleques que fumam maconha no banheiro, mas sempre vêm correndo quando alguém tá sem a droga do uniforme?

Jongdae, o Beagle Nº 3 e também o melhor tenor do coral da escola, começa a cantar Obsessed, da Mariah Carey, para provocá-lo. Os outros dois patetas também se juntam a ele na missão de transformar a vida de Kyungsoo em um inferno.

Seus melhores amigos, conhecidos pelo restante do colégio como Beagles, por serem brincalhões e barulhentos além da conta, já sabiam do histórico de Kyungsoo e Jongin. Eles estavam acostumados a ouvi-lo reclamar diariamente sobre como Kim Jongin está insuportável andando com sua turma de garotos bonitos e molhados, usando seus óculos de natação pendurado no pescoço durante as aulas ou apenas respirando. Porque, sabe, aparentemente, desperdiçar o oxigênio do mundo é passar um pouco dos limites.

Desde que os dois se beijaram durante uma festa na oitava série e que a notícia se espalhou pelo colégio — e não somente a fofoca sobre dois garotos terem se beijado circulou pelos corredores, mas também que Kyungsoo beijava mal —, eles simplesmente evitavam sequer cruzar o caminho um do outro. Era como uma regra implícita que fora criada entre eles, mesmo que ambos os rapazes nunca tenham conversado diretamente sobre isso.

Eles nunca frequentavam as mesmas festas, mantinham o máximo de distância possível durante o intervalo e nunca participavam das mesmas aulas. Kyungsoo também jamais, sob hipótese alguma, assistia aos campeonatos interestaduais de natação. E, assim, eles apenas fingiam que não sabiam da existência um do outro, e mais: fingiam que aquele beijo no terraço da casa de Yixing nunca havia acontecido.

A verdade é que Kyungsoo é péssimo quando se trata de fingir que Kim Jongin não existe. Porque ele é o tipo de cara que chama atenção, independente do quanto você tente ignorar. É mais fácil ignorar a existência de um elefante cor-de-rosa dançando Despacito enquanto rebola a raba na sua cara do que desviar o olhar do garoto do time de natação, principalmente quando ele anda pelos corredores com os cabelos molhados pingando nos ombros e sorrindo com as covinhas à mostra.

— Tá legal, tá legal. Eu vou voltar pra sala mais cedo — Kyungsoo murmura, sua voz sendo abafada pela cantoria do trio de amigos. — Divirtam-se aí cantando.

No seu caminho até a sala, ele é obrigado a passar perto da mesa de Jongin. O nadador está sorrindo enquanto morde a pontinha do canudo vermelho. Sentado sobre a mesa, ele balança as pernas de um jeito animado, quase juvenil. Seus olhos sequer espiam na direção de Kyungsoo, mas quando ele se aproxima, o sorriso de Jongin vacila e suas pernas aos poucos param de balançar. A covinha na sua bochecha desaparece.

Kyungsoo prende a respiração, e então atravessa a cantina sem olhar para o lado, como de costume.

Como se Kim Jongin não existisse.

☀ ☀ ☀

Jongdae já está cantando no karaokê da mãe de Baekhyun há, no mínimo, duas horas. Kyungsoo inveja a capacidade do garoto de ficar se mexendo de um lado para o outro sem sequer suar a camisa. Ele, Chanyeol e Baekhyun estão a um passo de virarem o Olaf naquela cena onde ele chega perto do fogo em Frozen e começa a derreter.

O dia está quente, e os amigos estão dividindo três mini ventiladores, daqueles portáteis que funcionam a pilha. Esparramados na cama do Byun, eles agitam as camisas para evitar que o tecido grude no peito. O ventilador de teto de Baekhyun está quebrado, e eles não moram perto da praia, então a única saída é beber o máximo de água possível e torcer para que o desodorante seja forte o suficiente para salvá-los da caatinga do sovaco de Chanyeol.

While It's Still SummerWhere stories live. Discover now