Mundo Ensolarado

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A noite passou de forma suave, os sonhos que sempre acompanham Lily não estiveram presentes naquele primeiro dia dela em Amber, uma noite silenciosa como ela não tinha a anos. Talvez sua mente estivesse cansada demais para inventar todas as fantasias de costume, talvez não houvesse mais espaço para isso, já esgotara a criatividade durante a manhã ou então os novos ares haviam feito bem a ela, era por isso que Lionel disse que ninguém quer deixar Amber? Quem sabe...

A verdade é que não importava o motivo, aquela manhã, Lily acordou mais animada do que de costume, o dia iria ser grandioso, ela sabia disso.

Assim que a luz do sol cobriu aquela cidade no extremo leste da nação, uma fração dela adentrou pela fresta na janela do quarto de Lily a despertando para aquele mundo novo.

Não havia sonho, nem cansaço, apenas ânimo. Lily levantou sentindo-se livre depois de anos de opressão, como se as correntes que prendiam nela tivessem com seus cadeados abertos.

Um pé depois o outro se estendeu para fora da cama e tocou o chão. A primeira coisa que tinha para fazer era explorar a casa como uma criança que acaba de se mudar.

Lily entrou em cada cômodo da casa, havia três quartos, uma escada para um sótão cheio de móveis esquecidos e empoeirados, um escritório com muitos livros, alguns chamuscados como se ali tivesse sido palco de um princípio de incêndio no passado, havia quadros em uma gaveta, fotos de um casal e seu filho entre os cômodos da casa e de uma garota que não se encaixava naquele mundo, como uma peça errada em um quebra cabeças.

Olhos e cabelos negros, pele clara, corpo magro e rosto com contornos bem definidos. A garota parecia olhar para dentro de Lily e vê sua essência. Não era a primeira vez que encarava aquele rosto e ela sabia que não seria a última.

Lily desceu as escadas correndo, o que sua mãe jamais permitiria, tinha incontáveis anos que não se sentia como uma criança. Não tinha mais idade para se sentir ou agir assim e mesmo quando tinha idade para tal, não agia, não podia, havia sempre um certo "alguém" para oprimir sua liberdade e destruir seu mundo pueril, mas em Amber ela sentia que estava livre para ser ela mesma, pela primeira vez.

Talvez sexto sentido realmente exista, talvez ela escolhera a cidade de Amber como destino da viagem por prever como seria.

Lily foi até a cozinha onde estava seus pais, Artur preparava o desjejum dos filhos, gostava de fazer isso quando tinha algum tempo livre do trabalho. Sua mãe estava presente, mas isso não a fez se sentir menos a vontade. Não naquele dia.

Lily comeu rápido, queria explorar sozinha o local, antes que seus pais quisessem fazer um passeio exploratório pela cidade.

Quando escancarou a porta para sair da casa não acreditou no que viu. Esse não era o dia ensolarado que havia visto através da janela do quarto. Ao invés do sol, havia uma neblina espessa e a grama estava úmida indicando que não havia ocorrido uma mudança brusca no clima.

Talvez tivesse imaginado? Não podia ser um sonho, a claridade do sol havia a acordado e isso havia sido real demais para ser uma criação de sua mente, mas seus sonhos não eram diferentes, ao menos agora ela tinha ciência de que isso poderia não ser real, um fato que afirma a realidade do momento.

Estava ficando louca ao ponto de confundir a realidade com as criações de sua mente? Bem provável.

Lily balançou a cabeça como se isso fosse fazer ela esquecer todas as inconsistências que havia a sua volta. De nada adiantou.

O quintal era grande e bonito, mas estava mal cuidado, não iriam ficar ali por muito tempo e por isso Lily não se aprofundou em seus pensamentos de como poderia tornar aquele lugar um pouco mais atraente, começando por um canteiro com flores, talvez rosas ou crisântemos, adorava flores.

Lily contornou a casa, atrás o espaço era ainda maior, tinha um depósito simples. Ela se aproximou e olhou por uma fresta, dentro havia alguns equipamentos e ferramentas presos nos muitos ganchos em uma parede ou sobre uma bancada e uma lona bege cobria algo que parecia uma moto, tudo muito empoeirados.

Havia uma grande árvore com folhas amarelas, era incrível como ali as estações ocorriam de forma tão pontuais e características, mesmo não sendo tão distante de sua cidade, onde as estações se misturam, de modo que a chuva, o frio e as ondas de calor não esperam por suas estações para ocorrer.

Lily ouviu o barulho de correntes, o metal tilintando ao raspar em alguma superfície. Estava próximo, ela o seguiu.

Após a árvore havia uma trilha de barro, já não estava mais no quintal da casa e sim adentrando a floresta, mas antes que essa se fechasse havia um campo aberto de forma não natural. Era um playground simples e feito por alguém por conta própria.

Um balanço marcava o centro do local e era a origem do som das correntes, o vento movia o balanço. Lily andou até ele, segurou em uma das correntes o fazendo ficar parado e se sentou no banco de madeira, então, deu um pequeno impulso.

Aquele lugar era um tanto nostálgico.

- Aqui não te lembra o passado?

Lily rapidamente se voltou para a direção da fala, o timbre era suave, quase angelical e a dona da voz parecia mesmo ser um anjo.

Os cabelos, muito compridos, eram loiros, os olhos azuis cintilantes e usava um lindo vestido branco, simples e florido.

Embora havia um sorriso encantador em seus lábios, eles eram pálidos e rachados como de uma pessoa que está passando frio ou muita sede, natural de alguém doente.

- Oi Lily! - disse ela e eu me assustei.

- Como sabe meu nome?

- Você me disse a última vez que nos encontramos.

- E quando foi isso? - realmente não tenho lembranças de conhecê-la.

- Em frente a minha escola, não se lembra? Você me ajudava com matemática.

- Não lembro de você. - confessei, eu é que preciso de ajuda com matemática. Talvez a garota tenha alguma deficiência intelectual ou apenas esteja me confundindo, espero que seja a segunda opção.

- Não estou te confundindo com outra pessoa, mas eu já esperava que não fosse se lembrar de mim. - disse como se tivesse lendo meus pensamentos.úu

- Você me conhece e eu nem sei qual é o seu nome.

- Anna.... - Ficamos caladas, a garota se aproximou mais e sentou no banco, ocupando o segundo balanço. - Estou feliz que esteja na cidade. - disse a garota e a felicidade em seu rosto só podia ser verdadeira, mesmo eu ,
. Derik.

Quando o garoto que vi ser levado de casa por uma ambulância volta como um homem quase não acredito. Derik está mais alto, acentuando a diferença entre nós, tem músculos, barba cortada em um cavanhaque bem feito e cabelos compridos, o que combina muito com ele.

Me levanto e pulo em seus braços, tantas vezes desejei um abraço dele que agora não acredito que está na minha frente.

- Senti tanto sua falta.

- Eu também maninha.

Olho na direção de Anna, mas ela não está a vista, sumiu de forma tão misteriosa quanto apareceu.

- Quando você chegou?

- Essa manhã.

Poder rever Derik é a melhor parte dessa viagem.

Olá Trevosos!
Esse é o meu adjetivo favorito, nem preciso dizer o por que 😂😂
Eu quero saber o que estão achando, o que é real e o que não, por que a mãe dela é tão estranha e o que acham da cidade.
Gostaram do Derik? O próximo capítulo vão poder conhecer ele um pouco melhor.

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⏰ Last updated: Nov 03, 2021 ⏰

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