•19|And I don't know how

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A/n: recomendo que leiam o capítulo anterior.

Lembranças
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Respirei fundo quando subi no parapeito, me sentei o mais próxima dela, mesmo nessas circunstâncias, não tive tanto medo. Bill balançava suas pernas casualmente, olhos atentos para o céu.

"Gosto das estrelas" me contou

"É, eu sei. Todo mundo gosta" franzi a testa, em pura confusão porque...

Essa é uma história muito antiga que já acabou e NADA pode ser feito para muda-la, então o que me resta é continuar, certo? Como se você fosse a mesma de antes, presa no tempo onde não há mudança, onde te escrevi lá e te eternizei com luzes piscando das mais variadas cores, se não todas, em seu rosto. No começo de tudo. Consegue lembrar do que você já foi antes?

"Sim" respondi, escondendo minhas mãos dentro da minha blusa, para espantar o frio e a tremedeira "Eu sei"

"Sou tão pequena aqui, em comparação com elas, S/n. Parece que as estrelas podem pisar em mim a qualquer momento" Bill girou a cabeça para o lado aposto, alguma coisa preta parecido com tinta pingava em sua blusa

Eu sei, tive a vontade de falar novamente, eu sei.

Se lembra quando teu cabelo era preto e verde neon? Porque eu me lembro das suas mãos passando por minha cintura, seus braços me puxando para seu corpo e você me girando no ar, Billie me girava no ar e eu sentia seu corpo pressionado contra o meu. Eu ouvia os seus calcanhares girando, eu podia ver e sentir seu cabelo preto com verde neon indo e vindo na minha cara, podia adivinhar que ela sorria. Você estava sorrindo, não estava?

Você parecia mais feliz do que jamais esteve.

"Que merda foi essa, sua louca!" Me vejo confusa e ainda um pouco tonta "Meu deus eu quase pus tudo pra fora com você me girando assim, enlouqueceu?"

"Não estou louca" ela, meu girassol, me encara "Eu estou viva. Sentiu isso também?"

Billie estende uma mão e finge roubar meu nariz, ela abre a boca encenando uma expressão de choque e logo em seguida joga as sobrancelhas duas vezes para cima.

"Tenho as chaves do carro.." fala, morde o lábio inferior, e não me encara. "E também tenho seu nariz, S/n"

"Preciso da chave" estou segurando um sorriso, meus deus, ela é tão idiota. "E também preciso do meu nariz, sabe, pra respirar"

"Existem outros jeitos..." sua mão, a que supostamente segura meu nariz, finge o jogar para longe "...de respirar."

"Como?"

"Vou te mostrar, prometo"

Essa história já aconteceu a muito tempo, ainda se lembra de mim?

Abri minha boca mas lembrei que não precisava falar nada porque meu anjo, seja lá o que fosse dito por mim, já saberia tudo o que eu teria a dizer. Como se lesse minha alma, Billie passou as mãos frias pela minha cintura e me puxou para mais perto como se quisesse me provar algo; talvez fosse um 'não quero que vá embora mesmo sabendo que também não posso faze-la ficar'

Daquele deserto onde você o apelidou de 'o fim do mundo', num lugarzinho tão distante que nem estrelas podiam alcançar.

Eu estava num carro com uma menina linda, e ela não vai dizer que te ama mas, ela te ama.

"Pra onde quer ir, babygirl?" Ela liga o carro e o motor ruge mas logo fica silencioso quando viramos a primeira avenida.

A qualquer lugar que você vá.

"Pra longe"

"Pra longe" Billie novamente faz aquilo, imita minha voz e solta um risinho

O carro está sem rumo e voa pela pista, luzes refletem nossos rostos e vejo o reflexo dela no retrovisor. Quero dizer que o tempo não é nada além da pior criação de Deus, a que faz suas bochechas corarem de vergonha todas as vezes que o sol desce para descansar, é um pedido de desculpas para a humanidade.

Eu pensei demais antes, pensei em Billie, pensei em tudo que me disseram, pensei em como seguimos linhas escritas em pedaços de papéis.

Pensei em quantas vezes já estivemos num carro, nesse, em um outro.

Ainda estamos em lugar nenhum, ela o chama de fim do mundo, o carro percorreu uma longa pista única até parar, não há luz, nada de vagalumes, nem lâmpadas em postes, apenas nossos faróis em um limbo desconhecido.

Ela dirigindo sem rumo aparente, já sabendo de todos os começos, meios e fins. Já sabendo de tudo mas nunca ouvindo nada.

Um dia li um livro onde o personagem principal nunca mudava, foram capítulos cometendo o mesmo erro com diferentes pessoas. A falta de progresso  e a ausência da redenção incomodou bastante gente porém foi tal falta, perda, a constante sensação de "ser a mesma" porque ser outra coisa exige tanto, que em menos de um mês você volta a estaca zero, a "ser a mesma" porque, no final das contas, não importa quantas outras personalidades consiga sustentar por um curto ou longo período de tempo, você sabe quem e o que você é de verdade. Esse foi o fator "x" do livro que me fez ama-lo tanto quanto eu te amo, Billie.

"Eu realmente, realmente, realmente me odeio S/n" ela se virou para mim, seu rosto manchado da tinta preta que escorria sobre suas bochechas como lágrimas. Eram lágrimas "E no começo queria que você me odiasse também. Tudo teria sido tão mais fácil"

"Fácil pra quem?"

"Pra mim" murmurou "Foi só no começo, no entanto"

"E agora?" Olhei para baixo, os carros pareciam formigas florescentes indo em direções confusas.

"Agora quero que goste de mim" exalou, com desdém irritado apesar de tudo. Então, do nada, Billie começou a rir, limpando as lágrimas negras com as mãos "Puta merda, o que eu vou fazer contigo?"

Eu poderia ficar horas só a olhando, tudo era muito relativo e o tempo não parecia ser um problema tão grande quando eu estava com ela. Faça o que quiser comigo, segurei sua mão e entrelacei nossos dedos, porque sei de coisas que só agora você decidiu me contar, meu anjo observou nossas mãos juntas e me lançou um sorrisinho contente, todas as coisas que você jamais disse, de alguns forma, eu sinto que já sei. Respirei fundo para memorizar esse momento, então faça tudo que quiser comigo porque te conheço mesmo nunca tendo te conhecido antes, pelo menos não que eu me lembre. Vidas passadas, vidas passadas.  

Nunca acreditei que a beleza pudesse existir na autodestruição

Mas então vi ela e seus olhos me contaram histórias com começos perigosos e finais perdidos, onde cada página respirava cor.

Agora com o cabelo totalmente negro, sem o verde neon.

É aqui onde a personagem revela um segredo terrível, onde supostamente confessa todos os seus medos, a única coisa que existe em sua alma.

Eu amava o seu "eu" de antes. E eu amo o seu "eu" de agora.





The Devil Hostage™ - Billie&youWhere stories live. Discover now