Epílogo

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ᴄɪɴᴅʏ...

A voz me chamou mais uma vez e eu queria gritar por ajuda, mas as trevas me circulavam como um furacão, movimentando-se e me deixando confusa, transformando tudo em uma escuridão gritante que eu não tinha certeza se poderia me fazer ser ouvida. Eu não sabia onde estava, e nem sabia para onde ir.

Era como se eu estivesse afogando, perdendo ar, ao mesmo tempo em que me tornava pedra, um medo gigantesco que me circulava e me prendia no lugar. No entanto, sentia que eu quem havia criado aquilo.

Eu quem havia me aprisionado no escuro. Aquele monstro que me corroía por dentro foi ideia minha.

Me senti respirar com dificuldade, sem de fato poder ver alguma coisa naquela ausência de luz, e meu coração acelerou. Tentei criar coragem para gritar para que a voz que estava além de todo aquele caos me salvasse.

— P-Por favor... Me ajuda!

O grito foi na realidade um sussurro, e eu vi meus últimos resquícios de força se esvaírem. Era aquilo. Não existia mais oxigênio em meus pulmões, eu afogaria. Não existia mais esperança, eu seria imobilizada pelo medo feito uma estátua.

Fechei os olhos, esperando o fim.

No entanto, ao contrário do que imaginava, a inquietação ao meu redor caiu em silêncio. Desconfiada, mesmo não podendo enxergar muita coisa, decidi abrir os olhos.

Dessa vez, meu coração acelerou de surpresa. Eu conseguia enxergar um feixe de luz no meio daquilo tudo.

Cindy, você finalmente me chamou.

A voz soou novamente e eu suspirei aliviada, os esforços valeram a pena.

— S-Sim. — comentei, sentindo a garganta arranhar — Poderia me ajudar?

Estou aqui especialmente para isso.

Agora que eu podia ouvir melhor, percebi que aquela voz soava estranha. De uma forma boa. Era como se fosse jovem e velha, calma e intensa, mas parecia transbordar amor, o tom nunca deixava de ser gentil.

Quem me amaria tanto para me tratar daquela forma?

Ou melhor, por que eu sentia que não merecia ser tratada assim?

— Como? Por que você viria aqui só para isso?

Lucinda, eu nunca te deixei, era a primeira vez que a voz usava meu nome todo, e foi como se uma peça se encaixasse. Meu nome funcionou como uma chave, pois eu comecei a me lembrar de coisas das quais não queria, me lembrei da matéria-prima daquelas sombras que ainda me rodeavam.

— O-O que está havendo? Por que estou aqui?

Um inverno longo te colocou aqui.

A palavra inverno me fez arregalar os olhos. Tornei-me pedra novamente, sentindo a inquietação do escuro retornar, sorrateiramente me obrigando a reviver memórias que eu não queria saber da existência.

— Vão embora! — gritei, lágrimas escorrendo dos meus olhos, apavorada com o pensamento de que talvez aquele feixe de luz pudesse ser engolido pela escuridão e me deixar — Eu não quero ficar mais aqui..

As sombras me circundaram mais uma vez, e eu me lembrei de inúmeras vezes que via uma mãe com seu bebê, da forma como me senti, querendo ter um filho só meu, e nunca conseguir. Uma mulher em específico se fixou em meio às lembranças, ela segurava um bebê de cabelos negros, e tudo ao seu redor era neve.

Inverno.

Maldição.

Dor.

Lágrimas caíram e eu senti meus joelhos cederem. O que foi que eu fiz?

Luncinda, você confia em mim?

Senti mais algumas lágrimas escorrerem por meu rosto.

— Confio.

Tentei parar de resistir às sombras e entreguei minha salvação nas mãos do ser portador da voz. Fui envolvida por um calor em forma de carinho, de dentro para fora, no mesmo passo em que uma luz surgia e dominava meus olhos.

De repente, tudo foi feito do calor do sol. Não existia mais escuridão. A neve em mim havia derretido.

Eu estava em paz.

O que acharam do epílogo? Agora até Primavera, ou melhor, Lucinda, está em paz

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O que acharam do epílogo? Agora até Primavera, ou melhor, Lucinda, está em paz. 

E eu também estou porque, com muito orgulho, declaro o fim de Quando cai a última folha

Essa história significa muito para mim, e mesmo que ainda existam pontos na narrativa que podem ser trabalhados em algum futuro, para mim ela basta dessa forma no momento. Confesso que aprendi muito com a Kaira ao longo da história, e percebi que ressignificar alguma coisa pode ser trabalhoso, mas vale a pena no fim do dia.

Graças a esses aprendizados, tive vontade de compartilhar tudo isso com o "mundo" — uma pequena parcela desse reino laranja, a qual espero ter marcado de alguma forma com esses personagens. Aliás, gostaria de agradecer imensamente três pessoas que tornaram essa jornada de publicação muito divertida: _Lady_Corvinal  amanda_catarina  e Wiilka

Muito obrigada por sempre estarem comentando e lendo, o apoio de vocês foi imprescindível! Obrigada do fundo do coração ❤

Bom, e mesmo que esse seja o final, eu já digo que essa turminha vai voltar para visitar vocês, porque sim, eu tenho planos para um bônus, que retratará como eles estarão no futuro (teremos até alguns personagens novos também — estou me segurando horrores pra não falar mais que isso). 

Porém, ficamos por aqui hoje! Até breve e muito obrigada a todos que leram a história!

Quando cai a última folha ✓Where stories live. Discover now