Capítulo 10 - 1° parte - Infância

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- Um carro parou em frente à casa de vovó. Eu sei disso porque estava na sala de estar  observando a chuva grossa cair ao solo, deixando tudo úmido mais uma vez. Vi uma mulher descer do carro com um bebê no colo.

O carro estacionou bem ao lado de uma poça d'água, fazendo com que os saltos altos da mulher entrassem em contato com a poça, respingando lama em seus tornozelos. O bebê em seus braços ria alegremente e pude observar que a moça praguejou a chuva.
- Mas que...Ah, santo Deus. Olhe só para isso! Você está rindo apenas porque está são e salvo aí em cima, não é? - Coralina dirigiu-se ao seu bebê, rindo em seguida. O marido da mulher, Ricardo, saiu do carro e fez-se ouvir um leve baque da porta do automóvel. Luca olhou para trás surpreso e de olhos arregalados. A sua expressão de susto arrefeceu e o menino sorriu para o pai. Ricardo parou ao lado da mulher, que logo lhe dirigiu palavra: - Deus, eu preciso de uma toalha! Olhe só para mim, querido! - O homem deu uma pequena gargalhada.
- Ah não! Até você, amor? Poxa vida, hein? Vamos, vamos entrar antes que eu perca a paciência com essa chuva e com você! - Falou ríspida.
- Calminha aí, senhora nervos à flor da pele! Viemos aqui para descontrair, certo? Hoje eu não tô a fim de bronca, amor. - Disse, levantando as mãos como num sinal de "eu me rendo!", seguindo a mulher para a casa, antes disso, dando um breve beijo em seus lábios vermelhos. - Aham, eu sei... - Falou Coral.

Morgana desceu do sofá da sala numa rapidez que nem mesmo você conseguiria acompanhar e correu até a sua avó.
- Vó, a tia Coral tá lá fora. Você vai atender a porta, certo? - Não consigo mensurar a animação que senti até hoje, quando lembro da visita de minha tia. Posso tê-la visto apenas uma vez, mas não ia fazer mal se eu ainda tivesse alguém da família por perto... - Não consegui sair de perto da vovó até ela abrir aquela porta e o vão da entrada ser invadido por uma pequena figura de cabelos castanhos com um topetinho, blusinha xadrez de cor azul clara, calça jeans e sapatinhos minúsculos de cor branca. Era o meu primo Luca. Estava tão lindo! Correu para mexer no aviãozinho vermelho que se encontrava na estante da TV de plasma.

Todos que estavam presentes se reuniram na sala para conversar enquanto eu e meu primo nos divertíamos em um tatame colorido posto num cantinho da sala. A mãe dele trouxera uma caixa de plástico cheia de brinquedos de encaixe e vários outros, de muitos tipos. Ele estava sentado no tatame colorido. Primeiro fez cara feia e me olhou estranho. Depois sorriu de um jeito tão fofo e meigo que tive vontade de chorar. Todo mundo parecia feliz ali. Até o meu pai que havia sumido pelo dia inteiro estava ali, conversando com meu tio. Mais tarde, quase noite, não propositalmente eu quis ficar às voltas pelo jardim. Havia borboletas lá. Para mim parecia que brincavam de esconde-esconde por entre as flores; fiquei a observá-las longamente sob uma árvore gigantesca do jardim.
- Morgana! - Alguém chamava. - Você tá aí? Venha cá, por favor! - Sim! Eu tô aqui! O que houve? - Estava difícil de enxergar, pois estava muito escuro. - Preparamos algo para você aqui dentro! Venha para cá! - Chamou. Ela foi, meio sem saber por onde seguir. Entrou em casa e tinham lhe feito uma pequena e simples festa. A chama das velas iluminavam suas pupilas de forma alegre e ao mesmo tempo sombria.


A garota da rua três - Livro 1Where stories live. Discover now