太陽

até quando eu me deito

ultimamente suas íris escuras parecem iluminar toda essa escuridão. parece não ser verdade mas eu penso em 2008 em todas as madrugadas em claro, eu não te vejo mas sinto a amanhecer arder nas minhas pálpebras. e mesmo que eu vá pra cama depois de um dia exorbitantemente exaustante eu sei que ainda há um pedacinho de mim a ser preenchido. pra falar a verdade eu ainda penso sobre tudo que eu poderia ter evitado na minha adolescência. acho que você é uma delas. eu queria de verdade ter evitado te encontrar por causa de um simples macchiato nas tardes ensolaradas de sábado. detalhe que só eu sei fazer o café daquela maneira.

talvez eu nunca tenha admitido pois não tive um tempo extra para refletir sobre o que eu sinto de verdade, mas sabe, eu gosto de você. sempre gostei. e acho que sempre vou gostar. estar com você é aconchegante e tem um cheirinho frutal, igual o seu abraço.

vamos todos ser sinceros, nós nunca deixamos de ser crianças.

nós fazemos arte o tempo inteiro, e eu não tô falando no bom sentido. nós cantamos, dançamos, e nunca nos cansamos de brincar de ser criança e ainda por cima queríamos voltar nos anos passados e nadar em uma piscina inflável no verão, aproveitando os fins de semana indo na casa um do outro para experimentar receitas novas de bolo que queimaram no final. mas o gostinho do brigadeiro ainda era bom. tudo bem que você não está mais aqui, mas você continua acendendo e guiando o meu caminho e nunca me faz sentir a solidão, eu sigo e nunca estou cabisbaixa. eu me sinto radiante como o sol perto de você. nós ainda vamos brincar de velha infância, né?

seus pés parecem ter aberto um novo caminho pra mim, descalços em um monte de areia aproveitando os últimos segundos de juventude. meu riso era extremamente feliz contigo, e o meu melhor amigo sempre foi o meu amor. bom, pelo menos até os meus 15 anos de idade.

eu nunca me cansei de brincar na rua mesmo que eu capotasse de sono em casa ou chegasse completamente suja de lama e minha mãe brigasse comigo por deitar na cama de sapato sujo. eu era feliz assim.

como previsto, eu ainda gosto de você.

ou apenas é um vazio extenso aqui dentro que apenas pode ser preenchido com livros e música, porque mais uma vez eu vou assoprar um dente-de-leão que vai voar com todas as minhas expectativas?

eu pensava muito quando era pequena. se você estivesse aqui, falaria que meu tamanho continua o mesmo. pode não parecer mais eu sinto mesmo sua falta e te conheço super bem mesmo depois de todos esses anos, sei que continua pintando em telas brancas esperando que a tinta seque logo pra a luz do dia não interferir tanto assim nos seus sonhos, se é que me entende. você é tipo assim, um sonho pra mim.

será que eu sou a única que lembra das míseras estrelinhas que algum dia foram minhas principais constelações? eu acho que você também se sente assim, né?

mas eu ainda vou ver o amanhecer novamente, tomando uma xícara de macchiato e com uma nostalgia no açúcar que me faz pensar que tudo isso à minha volta não tem significado algum.

mas tem sim. e eu continuar lembrando de você após todos esses anos é uma prova disso. e se você permitir, nós ainda vamos brincar de ser criança novamente.

aliás, a gente nem se falava direito!

𝖋𝖔𝖗 𝖆𝖑𝖑 𝖒𝖞 𝖈𝖍𝖎𝖑𝖉𝖍𝖔𝖔𝖉 𝖋𝖗𝖎𝖊𝖓𝖉𝖘𝖍𝖎𝖕𝖘 𝖙𝖍𝖆𝖙 𝖎 𝖈𝖔𝖚𝖑𝖉 𝖓𝖊𝖛𝖊𝖗 𝖋𝖎𝖓𝖉 𝖆𝖌𝖆𝖎𝖓.