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-- Mikoto? – Takako e Sayuri também se paralisaram com a visão dela ameaçando Haku. Yukio sussurrou apavorado:

-- O que ela está fazendo?

-- Ei, Mikoto, calma – Haku ergueu as mãos, mas ela não abaixou a naginata.

Havia algo errado com ela. Seu rosto estava congelado numa expressão neutra, e seu corpo mantinha uma postura tão rígida que se não fosse pelos cabelos que caíam sobre seus ombros, seria fácil pensar que Mikoto era uma estátua. O mais estranho eram seus olhos, vazios como se a mente dela não estivesse ali.

E apesar disso, sua pérola ainda brilhava fracamente.

-- Haku, se afaste, ela não está normal – Takako apertou o suzu com mais força. Sentia alguma energia sobre a amiga, algo maligno.

Haku recuou para longe do alcance da naginata, e Mikoto assumiu uma posição defensiva. Sayuri deu alguns passos à frente, seguida de perto por Yukio.

-- Mikoto, você me conhece, nós viajamos juntas pelo último mês inteiro, e até treinamos naginata juntas, ou quase. Você é como uma irmãzinha para mim.

-- Cuidado, Sayuri – Yukio alertou. Ela chegava perigosamente perto, e Mikoto ainda tinha a postura de um animal pronto para dar o bote. A jovem o ignorou.

-- Está tudo bem, Mikoto. Seja lá qual for o problema, nós vamos ajudar. Pode contar conosco – Sayuri pensou ter visto um brilho de reconhecimento em seu olhar e deu outro passo à frente – Sabe que estamos aqui para ajudar, então pode baixar a naginata, e nós todas vamos embora daqui, para nunca mais voltar. Para casa.

Tão rápido quanto surgiu, aquele brilho desapareceu, e Mikoto brandiu a arma contra a jovem. Yukio se jogou em Sayuri e os dois foram ao chão, escapando por pouco da lâmina. Num pulo o rapaz se pôs de pé e arrastou a miko consigo para longe da menina.

Mikoto atacou de novo, seus movimentos rápidos feitos com precisão cirúrgica. Haku partiu contra ela, mas a menina recuou e voltou para o corredor de onde viera, desaparecendo no escuro.

Yukio segurou Sayuri quando ela fez menção de segui-la.

-- Ela está nos atraindo para uma armadilha, vai nos atacar assim que nos aproximarmos.

-- Eu vou então – Haku não deu tempo para ninguém responder e deixou o salão. Ame pensou por um instante se devia segui-lo, e por fim também foi.

As duas sacerdotisas encararam o corredor escuro, mal ousando respirar.

Um grito de Haku quase as matou de susto. Yukio novamente bloqueou o caminho das duas.

-- Deixem que eu vou.

-- Mas...

-- Eu sou o guarda-costas aqui, minha tarefa é manter vocês duas vivas, então eu vou na frente, e caso eu não volte ou pareça que estou em desvantagem, saiam daqui. O clã precisa das duas miko vivas.

Ele tirou uma pequena lanterna do bolso e foi para o corredor. As duas jovens ficaram impressionadas com a atitude do rapaz, parecia Kurono falando.

O pequeno facho de luz na mão de Yukio iluminou Ame no chão, e Haku e Mikoto se rondando como dois animais. Ele tentou atacá-la por baixo, e ela cravou a lâmina em sua coxa ao mesmo tempo em que deu um chute em sua cabeça que o derrubou na hora, então voltou o olhar para o recém-chegado. Yukio sacou um cassetete.

Takako e Sayuri esperavam ansiosas, distinguindo somente o facho da lanterna de onde estavam. Mal se passara um minuto e a lanterna foi arrancada das mãos de Yukio, percorreu um arco no ar e quicou pelo chão até parar diante dos pés das jovens.

O Conto da Donzela do SantuárioOnde histórias criam vida. Descubra agora