Capítulo 19 - Paixonite, Guardiões da Mata e a Explosão de Luz

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Eles estão se divertindo muito. — Comentou Cica amassando a argila entre as pernas avermelhadas com leveza e habilidade, lembrando se que havia muitas eras que não fazia isso com alguém além dos peixes. — Mas por que você não está feliz?

Tobias parou de amassar seu barro e olhou para Gori e Angra que brincava com Ajubá para ver quem pegava mais peixes, os dois espalhavam tanta água que se não fosse pela magica da divindade não pegariam nada. O menino limpou as mãos sujas nas calças dobradas até aos joelhos e suspirou triste.

Eu estou feliz pela Gori estar a salvo e por finalmente terminarmos essa maluquice, e ainda estarmos vivos — O menino olhou para o céu tendo a impressão de sentir olhos felinos o encarando. — Mas é difícil ficar feliz sabendo que sou responsável pelo Saci e que se eu fizer qualquer caquinha... Nem quero pensar sobre. — Falou pegando um punhado de argila na mão e jogando-a no rio tentando extravasar. — Cica como eu posso fazer isso?

— Da mesma forma que você viajou pela Mata enfrentando Caiporas, Onças, Curupira, Urubu, a própria Mãe D'Água e outros desafios. — Ela sorriu fazendo a mente dele enevoar por alguns segundos, ele achava-a muito linda e fofa, e desviou o olhar envergonhado com esses pensamentos. — Você tem muitos talentos, mas não vê isso por que deixa os olhos fechados.

Tobias fez cara que não havia entendido.

Pelo menos eu sei que não tenho talento em fazer vasos de barro. — Brincou jogando a lama para o lado sujando mais seu uniforme e desistindo de tentar entender o que Cica falara. — Isso parece tão fácil nos filmes.

O problema é que você está pensando demais e tem coisas que tem que deixar a correnteza levar. — Os cabelos embranquecidos da deusa pareciam uma bandeira de paz flamulando ao vento, ela não se divertia assim há muito tempo. — Pronto.

Tobias olhou encantado para o vaso com frisos ondulares entre as pernas da indígena. Eram incríveis os detalhes que havia feito.

Santa Capivara. — O menino olhou para o seu monte de lama sem forma e vazia em sua frente. — Quer trocar? — Pediu. — Seu vaso maravilhoso e divino pelo meu Adão em desenvolvimento?

Por que Adão? — Cica inclinou a cabeça levemente para o lado o que fez uma explosão de fofura no coração do menino.

— Sabe, da história bíblica do primeiro homem. — Respondeu, pensando se devia avisar a indígena que tinha argila na sua bochecha, o que para ele deixava-a mais linda.

Bíblica? Não sei do que você está falando. — A deusa não esperou resposta e entregou o vaso para menino sorrindo. — Agora vamos pedir para Angra queimar o vaso, e depois é colocar terra e plantar o bebê-Saci.

Perto do rio Gori estava ensopa e seus cabelos ruivos estavam colados no rosto como se fosse uma mascara. O cesto da menina tinha seis peixões enquanto do Ajubá só tinha dois.

Nossa o Ajubá perdendo para Gori. — Provocou o menino mantendo uma distancia segura para que agua não atingisse o vaso de Cica.

Nada verdade ele está ganhando. — Corrigiu a menina se aproximando. — Mas é guloso e está comendo ao invés de colocar na cesta. — Completou Angra.

É isso aí cara. — Comemorou Ajubá-Aburé dando uma piscadela lenta. — Eu já peguei cinquenta e dois, mas agora eles estão indo para o fundo onde a água está mais fria. Não gosto de água fria.

O gato-cachorro-pato-macaco amarelo saiu do rio bocejando, sacudiu os pelos fazendo Tobias correr para longe para não se molhar e se aninhou ao lado do seu cesto com ar triunfante.

OS GUARDIÕES DA MATA E O CAPUZ VERMELHOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora