— Ela poderia pelo menos ter me secado com os poderes mágicos dela. – Reclamou Gregoriana torcendo a cabeleira cor de cobre quente. — Ou feito roupas novas com aquele cabelo brioso dela. Disgrama.
— Gori, ela não controla a água, só atrai os peixes e faz cana e café crescerem dos seus cabelos. - Defendeu Tobias sentindo a barriga doer de preocupação.
— Eli ni contoli a águi. – Retrucou a menina fazendo caretas e gesticulando as mãos. — Não defenda ela, seu pamonha.
Tobias e Gregoriana se olharam fazendo bico.
Eles saíram de perto do Véu da Noiva, o santuário e prisão da santa Cica, atordoados e desnorteados. A deusa tinha dito que era hora de eles irem e todo o lugar desapareceu.
Sem perceber estavam no meio da Mata sozinhos - um olhando para o outro. Em silêncio começaram a andar novamente e sem rumo tentando entender a enxurrada de coisas que estavam acontecendo.
Gori bufava a cada passo querendo falar algo, mas não sabendo bem o quê. Tobias encarava a grama procurando qual o motivo de Cica ter trazido sua amiga para o lugar mais perigoso do mundo, uma pontada de raiva surgia cada vez que pensava sobre o assunto.
Perceberam, tarde demais, que estavam sendo seguidos.
Olhos grandes e esverdeados surgiram nas moitas e nas copas das árvores. Aos poucos, um traque-traque nervoso tomou o arredor e uma horda de caiporas vermelhas penduradas nas árvores se apresentou batendo os dentes serrilhados.
Tobias travou fazendo Gori bater nele.
— Ara pamonha... - Começou a menina, mas parou assim que olhou para cima. — Eita, diacho.
As bichinhas de orelhas pontiagudas por algum motivo não atacaram direto e ficaram olhando para Gregoriana com curiosidade. Elas apontavam uma para outra e inclinavam as cabeças de forma pensativa, elas farejam o ar e apertavam os olhos como se tentassem ver algo a mais na menina ruiva.
— Eu acho... - Disse o garoto de forma vacilante. Sua voz estava fraca, mas não sentia medo como da outra vez. — Eu acho que elas pensam que você é uma delas. - Completou se fazendo de escudo humano.
— Que bichos são esses? - Perguntou Gori por cima do ombro dele fazendo sua nuca arrepiar. — Ocê acha que eu pareço com elas? - Azedou o rosto. — Carcule bem suas palavras, podem ser as urtimas.
— Claro que você NÃO é nem um pouco parecida com elas. - Enfatizou Tobias revirando os olhos. — Mas elas acham que sim.
Gregoriana tentava não pensar que em um momento estava brincando com as carpas no aquário, ficando o mais longe possível do amigo e em outro estava sendo engolida por uma carpa gigante branca, depois vomitada debaixo d'água e puxada por um cardume de peixes para a Mata, e pior, para ser a ajuda de Tobias. Questionava-se o que Cica tinha falado para ele aceitar uma missão maluca daquelas, de qualquer forma ela não gostava da santa.
— E por que elas acham que eu sou uma delas? - Questionou a menina.
— São caiporas, um tipo de fada-duende das matas, segundo as lendas elas protegem os animais pequenos. - Tobias conhecia muita coisa do folclore, graças ao seu avô, mas não sabia nada de como se livrar dessas criaturas. — Você é pequena, tem um ar selvagem e cabelos vermelhos... Pode ser isso. — O último comentário lhe rendeu um tapa no braço, que por algum motivo o fez rir.
— Eu pensei que existisse só uma, tipo que nem no "Castelo Rá Tim Bum" e tinha que assoviar. - Comentou Gori enfiando a mão no bolso de trás da calça, lembrando-se de algo que havia ouvido sobre predadores. — E outra, não é o Curup...
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OS GUARDIÕES DA MATA E O CAPUZ VERMELHO
FantasySinopse: Tobias sempre amou as estórias de seu avô. Ele contava como era perigoso se encontrar com o Curupira, como conseguir um favor do Saci ou como o Boto podia se transformar em homem e em mulher. Mas seu avô morreu e Tobias parou de acreditar e...