Elegantes e antiquados

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Sem jeito, comecei a enrolar alguns fios dos meus cabelos enrolados nos meus dedos.

— Se quiser eu deixo você usar meu muro. —Falou olhando para baixo brincando com os cadarços de seus tênis.

Você tinha gostado de mim porque eu não tinha pai, admita.

— Se você quiser eu deixo você ir comigo para a escola. — Virei minhas costas pra ir. — Só não fique muito perto de mim.

— Porquê?

— Não gosto de homens perto de mim.

— Eu não sou um homem, tenho oito anos e três meses.

— Você é um mês mais velho que eu, então é um homem, bobo.

Olhou pra mim e fez uma careta com a língua. —Vamos logo. — Jogou a sua mochila para trás do seu corpo enquanto eu escalava para chegar no topo do muro. — Porque você usa calcinha de ursinho?

— Cala boca, garoto.

Oito anos, Ian. Tinhámos oito anos e sinto que foi ontem.

Tem momentos que nunca vou acreditar que são apenas memórias.

10 anos ou 1 semana atrás, parece que aos poucos as coisas vão perdendo cor e seu brilho. Passou, já era.

— Aonde você estudava? -- Perguntei dando passos mais longos por conta das minhas pernas curtas tentando acompanhar seu ritmo.

— Maryland Secondery School.

— Em qual lugar fica essa escola?

— Em Washintong D.C.

Parei no meio do caminho encarando surpresa fazendo-o parar e olhar para mim. — Qual o seu problema, garota?

— Você morava na mesma cidade que o presidente? — Falei animada. — Você ia muito na Casa Branca? Como que era a recepção, e os tapetes? Falam que lá tem vários tapetes magníficos, imagina o valor deles? Deve ser o mesmo valor que a minha casa e a sua junta.

Ele me analisou por vários segundos. — Você tá falando sério? —Perguntou se aproximando de mim. — Você realmente está falando sério. -- Sussurrou abrindo um sorriso. — Eu ia lá sempre mas não gosto muito do presidente, e o tapetes são mais ou menos. Sabia que os melhores tapetes são da Turquia? Nós somos enganados constantemente pela mídia e ainda por cima, as pessoas desse país têm dificuldade de entrar nos EUA.

— Entendo, não gosto muito dele também.— Falei séria. — Eu não iria, na realidade eu recusaria ir. Como que vou para um lugar que o cara não deixa as outras pessoas entrarem no país?

Assim que paramos na porta da escola. — Qual seu o nome? — Perguntou.

Eu já tinha falado na primeira vez que te vi mas não me importava. Eu respondaria todas as vezes que você perguntasse.

— Delilah. — Respondi.— E o seu?— Fingindo que não tinha escutando seu pai gritando seu nome outro dia na rua.

Ian.

Eu amo falar esse nome.

Eu amo escrever esse nome.

Injusto essas três letras fazerem um nome soar tão bonito.

Três letras em conjunto que fazem meu coração errar a própria batida.

Nada me causa esse efeito. Apenas os comprimidos e seus lábios avermelhados contra os meus.

Têm seu sorriso também. Ele é legal. Não é perfeito, ele sobe um pouco mais para esquerda quando você está feliz, reparei nesse detalhe por quê era raro de se ver. Se tornando mais especial.

Me sinto um pouco mais anestesiada escrevendo sobre a Delilah e o Ian de oito anos.

Delilah de oito anos não estaria orgulhosa da Delilah de dezoito anos.

Eu costumava usar fitas no cabelo e amava saias principalmente a da escola, fazia comida para minha mãe, de vez em quando fazia o mercado com suas moedas, e dava comida para quem precisava, principalmente açúcar. Era um vício pra mim.

Meu primeiro vício. O meu segundo foi você.

O vício em uma pessoa é perigoso, muita vezes nem é amor, é o medo da falta dele.

Vou terminar essa carta, estou arrumando as coisas para ir a faculdade acabei me atrasando por alguns dias. Sabemos, que culpa não foi minha e não foi sua, Ian. Na realidade, posso ser uma vadia e culpar você por tempo indeterminado.

Talvez daqui uns dias eu escreva ou alguns meses, ou nunca.

Agora estou pensando na Delilah de 8 anos, espero que ela não esteja chateada comigo, espero que ela consigo ainda me dar o amor que esconde.

365 dias sem eleWhere stories live. Discover now