Prólogo

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2 de Setembro de 2013 - 1 ano depois

— E como você está? — Analisei essa típica pergunta por vários minutos, afinal ninguém realmente tem interesse na resposta apenas perguntam por uma mera formalidade mas nessa situação eu pago pra falar sobre o que eu sinto, pago caro, eu deveria falar a verdade.

Todas as coisas que deveria ter feito. Com certeza, se eu pensasse muito nisso, eu não estaria mais viva.

No fundo também sei o que ela quer perguntar é: "Como você se sente depois de um ano?" ou melhor, " Fale qualquer coisa para te mandar para o psiquiatra logo".

Entendo que muitos podem estranhar esse "depois" mas sinto que minha vida foi dividida, então é antes e depois desse último ano. E sei que muitos me julgam por basear acontecimentos da minha vida em um garoto que desapareceu mas não me importo porque não é verdade, todas pessoas que passam pela minha vida deixam várias coisas, tantas boas e ruins. E com ele, não seria diferente.

Ele me deixou alguns bilhetes espalhados pelo meu quarto, seu cheiro e alguns transtornos mentais.

— Estou bem. — Menti.

Garotas mentem.

Garotas boas aprendem a mentir.

— As vezes encontramos felicidade nos lugares que menos esperamos, Delilah. — Dr. Rey respondeu me encarnado enquanto segurava sua prancheta firmemente. — Ou às vezes, a felicidade nós encontra sem pedir permissão.

Esse não é meu caso, a felicidade não vai atrás de pessoas como eu. Normalmente, ela aparece por alguns segundos e depois se manda.

Deixei seu consultório depois de cinco minutos sem falar nada,  apenas fiquei encarando as paredes amareladas com borboletas, elas são lindas, queria rouba-lás só para mim. A verdade é que não queria só as borboletas, queria as quatro paredes pintadas. Elas são lindas, tem uma explosão de cores com um fundinho amarelo, é vibrante e artístico.

Faz uns 10 meses desde que entrei pela aquela porta, desde então tento lembrar aonde eu as vi pela primeira vez mas minha memória não está me ajudando muito nesse quesito.

A segunda verdade é que faz um 365 dias que eu não vejo ele. É estranho falar em voz alta essas palavras deixam minha boca com um gosto amargo desagradável, então evito ou quando falo, escovo minha língua logo depois. Literalmente.

Antes eu amava falar, falar sobre tudo, sobre mim, sobre ele e sobre nós mas agora eu não consigo e também não quero, percebi que ninguém quer escutar.

Então eu comecei a escrever sobre tudo, sobre mim, sobre ele e sobre nós.

Estou voltando para casa, o tempo está igual o meu humor, estranho e instável. Acho que ele sabe o que estou prestes a fazer. Sendo assim, acho que vai chover ainda hoje, espero quando acordar amanhã ter aquela sensação refrescante depois que a chuva passar, aquela sensação de alívio quando o sol aparecer.

Vou escrever a última carta, e eu prometo que será a última sobre ele e para ele. A última vez que colocarei o nome destinatário no topo sem saber o destino.

Porém, acho justo iniciar do começo mesmo já sabendo do fim. Deprimente? Até pode ser. Os seres humanos tem a tendência a se acostumar com coisas tristes.

Então, é isso, espero que entenda o começo e não fique bravo com o final.

Agora eu entendo também.

O final também foi um recomeço.

365 dias sem eleWhere stories live. Discover now