Capítulo 3

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Capítulo 3
Minha noite não foi fácil como eu já imaginava que seria, minha perna chegou ao ápice da dor, pela manhã me arrumei e tentei disfarçar o que sentia. Aline e Nina conversavam entretidas na sala de conferência onde ocorreria o workshop, André e eu fomos testar o som:
- Matheus tá ok esse volume? - André falou ao microfone.
- Sim e o foco da câmera? Põe no automático por quê você controlando só faz cagada, tudo certo com a transmissão pro Brasil, vai ser ao vivo?
- Claro Matheus, claro... Não confia no meu trabalho cara?
- Na verdade não...
- Matheus não seja assim tão amargurado... - Nina veio defender o seu príncipe.
- Vamos começar? - já estava soando frio. Aline se aproximou de mim, a coletiva iria ser em inglês, uma porcaria já que eu não estava conseguindo nem raciocinar em portugês direito...
O workshop começou com o meu tutorial sobre flash, mas as pessoas estavam mais interessadas em saber sobre a minha vida, como comecei e tal, então o assunto foi desviado, falava polidamente e soava frio tentando esquecer a dor.
- Você está bem? - Aline sussurrou. Apenas dei de ombros.
- Matheus... Matheus... - Nina "sussurrava" atrás do palco ignorei.
Só que o burburinho começou e eu parei de falar quando alguém gritou:
- Feuer, Feuer (fogo em alemão) - E de repente o burburinho se transformou em caos, as pessoas começaram a correr, olhei Aline que estava do meu lado sem se mexer em completo choque.
- Anda, vem! - Segurei na mão dela, em seus olhos estava refletidos o pavor.
Os seguranças do prédio gritavam indicando as saídas mais próxima, o alarme de incêndio havia sido acionado, a correria garantia a rápida evacuação do prédio em poucos segundo estávamos fora e em segurança, procurei minha irmã e então a vi correndo em minha direção, ainda de mãos dadas com Aline que nada falava.
- Nina... - minha irmã me abraçou.
- Eu te chamei por causa do cheiro, eu acho que foi um dos cabos, eu... eu... pedi o André pra ver... O André meu Deus do céu... Cadê ele irmão...
Eu procurei por todo lado

- Calma, eu tenho certeza que ele tá ok - a apertei contra mim, sentindo Aline apertar minha mão, não queria soltá-la.

O local exalava cheiro de fumaça os bombeiros chegaram rápido, mas não o suficiente para controlar o fogo que a essa altura estava muito alto e não havia sinal do André.
 Os bombeiros nos chamaram para realizar algumas perguntas, quando o fogo já havia sido controlado, então Aline deu um sinal de vida, chorando compulsivamente, envolvi ela em um abraço, até que tivemos notícia de André que foi achado inconsciente depois de inalar muita fumaça, Nina foi com ele ao hospital, onde passaria a noite.
Livrados do susto Aline estava repousando em seu quarto, onde eu resolvi fazer uma visita:

- Tudo bem? - perguntei assim que ela abriu a porta.
- Tô, um pouco apavorada... Entra... - o cabelo curto dela estava preso e ela usa um robe branco com flores rosas, completamente se maquiagem.
Entrei na suíte e nos acomodamos no sofá:

- E o André?  - ela perguntou depois de um tempo.
- No hospital, se desintoxicando da fumaça...
- Foi horrível, parecia que eu estava revivendo o filme da minha infância... Fiquei tão assustada... - Ela encarava o chão.
- Quer falar sobre isso?
- Não, do que adianta...
- Ás vezes ajuda, quando eu sofri o meu acidente, meu pai ficava comigo todos os dias e a gente falava sobre tudo...
- Estranho, as pessoas normalmente são mais ligadas a mãe...
- Eu era, mas com o acidente, eu e meu pai ganhamos uma conexão que eu nem sabia que tinha...
De repente me vi falando de coisas que eu evitava, sobre a relação com o meu pai e tudo mais...
- não tive pai, ele sumiu assim que eu nasci... - Ela falou depois de um tempo de silêncio.
- E sua mãe?
- Deixa pra lá... - seu olhar continuava voltado para o chão.
- Sabe, eu tenho 4 irmãos, a nossa relação nunca foi fácil. O Marcelo e a Maria Cecília sempre foram distantes. Minha irmã gêmea era super unida comida na infância mais isso mudou...
- Mas você e a Nina parecem se adorar... Ela é a única que parece conseguir quebrar suas barreiras...
- Pode ser, ela tem a personalidade da minha mãe, idêntica, até na aparência.

Um silêncio incomodo se seguiu até ela hesitar e finalmente falar:

-Quando eu era pequena minha mãe adorava cozinhar, ela cozinhava muito bem... Então colocava música e botava sentada na bancada da cozinha, era o momento mais divertido do dia... Uma noite ela foi fazer o jantar, o procedimento foi o mesmo, só que naquele dia ela estava mais quieta, até que uma hora ela me olhou e esbugalhou os olhos e se foi... Eu tinha 5 anos... - Os olhos dela estavam marejados, senti um aperto no coração...
- Sinto muito!
- Eu fiquei lá, olhando ela sem poder fazer nada, não tinha mais ninguém... eu gritei até um vizinho abrir a porta e depois disso... Lares de adoção  e rejeições... E eu não tenho uma foto pra me lembrar dela...
- A gente não valoriza o que tem Aline... Eu sou um idiota, quase perdi a vida e me acho no direito de fazer o que quero, se Deus existir, ele me deu a dor na perna pra lembrar de que eu ainda estou aqui e pra fazer com que eu seja melhor torturado...
- Não diz isso... Deus é bom e tenho certeza que alguma lição você ainda tem pra aprender na terra... - ela tocou a minha mão.
- Pode ser...
- Sua perna doí muito, já foi ao médico pra contar sobre?
- Esquece isso, vou dormir, você também deviria fazer, amanhã vou buscar o André, quer vir?
- Claro.

Então me levantei e fui para o meu quarto, a verdade é que eu tinha medo de voltar ao médico e ouvir o veredito de que talvez eu tenha que amputar a perna, a dor dó piorava e  ninguém sabia, além de Aline, talvez ela não fosse tão ruim e eu tenha ganhado uma amiga...

O concurso - Um amor além da fronteira.Where stories live. Discover now