• Revelações •

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"...Absolutamente tudo está descoberto e às claras..."

As baquetas eram ferozmente jogadas contra pratos de metal; ao fundo, uma guitarra chorava num agudo que doía; um teclado e um violão emitiam um som harmônico, enquanto um cantor só faltava colocar o coração para fora de tanto louvar a Deus.

No abrir e fechar de olhos, que eu dava a cada minuto, podia perceber as pessoas chorarem e cantarem junto. Aquele era um dos momentos mais sensíveis durante o culto, em que todos nós colocávamos toda a nossa angústia para fora através de lágrimas e súplicas.

No banco a minha frente estava Daniel na ponta esquerda e Jonas na ponta direita. Era o primeiro culto que Jonas participava desde que saíra da peça e brigara comigo. Mais cedo, eu tinha falado com Daniel e fiquei mais tranquilo em saber que ele não tinha ficado chateado por eu não o ter acompanhado na sexta. Ambos choravam mais que o normal, principalmente o Dani. Ele era um rapaz dedicado sim, mas quase nunca o via com o desespero que demonstrava naquela noite. Suas lágrimas doíam em mim, e, de uma certa forma, me faziam mal. Porque eu comecei a imaginar que ele sentia o mesmo por mim e que caíra no mesmo abismo que eu. Toda a culpa começou a cutucar a minha mente, e quanto mais eu o via chorar mais eu chorava com a sua dor.

Eu sabia que Jonas chorava por causa do que tinha feito, chorava de arrependimento por ter pecado e caído novamente em sua fraqueza. Porém, Daniel me deixava aflito, por não saber ao certo pelo quê ele derramava tantas lágrimas.

- Está tudo bem? - perguntei a Jonas alguns minutos após o culto ter terminado.

Nós tínhamos ido para uma praça que ficava próxima à igreja. Daniel, Carlos, Carol e outros amigos conversavam em um banco longe de nós.

- Acho que tô melhor!

- Por que não me disse nada? Tu sabe que eu iria te entender.

- Eu ia dizer. Mas primeiro quis ajudar com o projeto, por mais que eu não pudesse participar.

- Entendi. Tu foi disciplinado?

- Ainda não conversei com Abner nem com o pastor.

O vento brincava com seus cabelos, o balançando para todos os lados. A cada minuto eu fingia olhá-lo dançar, quando, na verdade, olhava atento para o banco onde Dani estava, afim de consultar se ele já tinha ido embora. Mas continuava lá, com a gravata na mão, em pé em frente a Carlos. De vez em quando, eles sorriam de algo, e eu ficava curioso para saber do que riam. Mas tinha que me concentrar em Jonas.

- Me conta como isso aconteceu. - disse ao chegar mais perto dele.

- Eu fui com uns amigos pra lá...

- Já até imagino quem sejam! - falei.

- É! São os mesmos de sempre... nós tínhamos acabado de jogar bola. Fomos comprar refrigerante, na verdade. - ele suspirou - Eles compraram vinho pra eles. Eu tava bebendo só refrigerante, mas... tu sabe, né? Logo comecei a ficar com vontade. Tomei o primeiro copo, depois mais um, e assim foi.

- Já te avisei pra não sair com eles. Por que tu insiste?

- Eles chegaram depois, eu já estava lá.

- Hum! Sei o que está sentindo, Jonas. É estranho, mas eu sei.

- Eu tento lutar contra, mas é algo que me domina. Eu acabo cedendo ao álcool todas as vezes.

Olho para Daniel novamente. Minha vontade é dizer que eu entendo plenamente o que Jonas diz, pois o mesmo acontece comigo, com essa fraqueza por Dani. Eu não consigo parar de olhá-lo, nem sei se conseguirei parar de estar com ele. Mas não sei se Jonas entenderia da mesma forma que Abner, e por isso não me arriscaria a dizer, pelo menos não agora.

O Fruto ProibidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora