IX

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Humberto Narrando

A viagem aos Estados Unidos foi mais chata do que eu esperava e com o Damião reclamando de todas as acomodações do navio piorava mais ainda, mas essa viagem era extremamente necessária, pois desde o final do século 17 que o café tem crescido muito e agora no primeiro ano do século 18 estava a todo o vapor e se tornando moda na Europa e eu precisava ser rápido e convencer os industriários americanos a investirem no café brasileiro mais especificamente no meu café, o café da fazenda Ouro Verde.

As viagens de navio sempre eram muito cansativas, nós levamos dois meses para chegarmos aos Estados e permanecemos lá por cerca de um mês e a viagem de volta demorou mais ainda devido um problema na embarcação, mas eu ainda não pude ir direto pra fazenda, pois tinha que ajeitar algumas documentações referentes aos negócios que fechei nos Estados Unidos. Eu estava no cartório quando o Zezinho um dos escravos de ganho da minha fazenda veio até mim.

Zezinho - Seu Humberto o senhor tem de voltar a fazenda pra modo de que o seu Damião deu a luz, tá todo mundo procurando o senhor.

Meu filho havia nascido, eu mal podia acreditar, eu fui depressa até a fazenda, mas chegando lá ví todos os escravos agitados.

Humberto - O que houve? Que agitação é essa?

Joana - O Anastácio se perdeu no meio do mato ele tinha ido pra lá pra modo de lavar roupa e teve uma tempestade e ninguém acha ele mais.

Ao ouvir a Joana falando isso eu não pensei em mais nada, apenas chamei o capataz da fazenda, Carlos, e adentramos o mato em busca do Anastácio.

Carlos - De repente o menino se abrigou na velha senzala.

Humberto - Anastácio é novo aqui, não sabe que aquela senzala existe, mas não custa nada ir

Nós fomos até a senzala desativada e lá estava o Anastácio desmaiado no chão e ao seu lado tinha um bebê eu chequei o sinal vital dos dois, mas infelizmente o bebê já estava sem vida, ele era branco e loirinho, provavelmente devia ser filho do Baltazar, pois ele era loiro quando mais novo.

Eu tirei o meu casaco e enrolei o bebê nele, eu senti uma tristeza muito grande ao ver aquele bebê ali, era como se eu estivesse vendo o meu próprio filho morto, eu tirei a minha camisa e vesti no Anastácio, então eu peguei ele no colo e o levei até a casa grande, enquanto o Carlos levava o bebê, depois de acomodar o Anastácio no quarto dele e o bebê em um outro quarto eu fui ver o Damião, eu cheguei na porta do nosso quarto quando fui abordado pela minha sogra Mariana.

Mariana - Demorou Humberto.

Humberto - Estava procurando o Anastácio, ele estava perdido no meio da floresta.

Mariana - Humberto. Deu prioridade a um escravo ao invés do seu esposo?

Humberto - A situação de Anastácio era urgente, ele entrou em trabalho de parto e o bebê dele morreu.

Mariana - Minha nossa que horror, eu já pedi pra chamarem o Dr Marco, ele poderá ver os dois.

Eu entrei no quarto do Damião que estava pálido e segurava o nosso filho nos braços que não parava de chorar.

Humberto - O que ele tem?

Damião - Não sei, eu quase morri pra tê-lo.

Humberto - O Dr Marco já tá vindo.

Não demorou muito e o Marco veio e examinou o Damião e o bebê, estava tudo bem com eles e em seguida ele foi examinar o Anastácio.

Humberto - Como ele tá?

Dr Marco - Anastácio está bem, eu realmente não entendo como o bebê dele morreu, pelo o que eu ví ele não teve nenhum tipo de complicação no parto.d

Humberto - Muito triste o que aconteceu com ele, eu irei cuidar do enterro é o mínimo que eu posso fazer.

Dr Marco - O Damião está fora de perigo já, mas ele teve uma hemorragia, ele não poderá ter mais filhos.

Mais tarde naquele dia depois de ser avisado que o Anastácio tinha acordado eu fui até o quarto dele, ele estava tão triste, tão frágil. E assim se passaram os dias, o bebê do Anastácio foi enterrado e eu estava cuidando das coisas da fazenda, depois eu me encontrei com o Frederich na cidade, ele teve que ir embora antes que eu voltasse, pois ele tinha problemas no escritório dele pra resolver.

Naquela manhã de domingo eu estava tendo uma discussão com o Damião, pois eu o ví tentando fazer com que o Anastácio fosse babá e amo de leite do nosso filho, eu não achava isso justo, pois Anastácio tinha acabado de perder o filho dele.

Damião - Vosmicê não devia ter me desautorizado assim na frente do escravo!

Humberto - Não iria concordar com a sua atitude cruel, e o dono dessa fazenda sou eu.

Damião - Nosso filho precisa de uma ama de leite, eu não tenho mais leite para amamenta-lo e também não posso olha-lo sozinho o dia inteiro.

Humberto - Amanhã vou a cidade e arrumo uma ama de leite. Satisfeito?

O restante daquele domingo passou rápido e já era de noite quando Damião e eu estávamos dormindo e eu acabei acordando com o Júnior chorando, mas me assustei ao ver que ele parou de chorar rápido, então eu me levantei e fui até o quartinho dele e lá estava o Anastácio amamentando ele, ele vestia a camisa social branca que eu havia vestido ele no dia em que o socorri, suas coxas grossas estavam de fora e a camisa estava com alguns botões abertos com k seu peito farto que amamentava o meu filho de fora, demorou um pouco até ele perceber a minha presença ali.

Anastácio - Seu Humberto? Disse com a sua voz doce e suave.

Humberto - Damião lhe pediu isso?

Anastácio - Não senhor, eu ouvi ele chorando e ví que ele estava com fome senhor.

Humberto - Não precisa fazer isso, vou arrumar uma ama de leite amanhã.

Anastácio - Por favor seu Humberto, me deixa cuidar. Ele praticamente implorou me deixando surpreso.

Humberto - Tem certeza de que quer isso?

Anastácio - Sim senhor, melhor do que arrumar outra pessoa de fora, eu posso cuidar dele e dar de mamar também.

Humberto - Bem...já que você quer. Pra cuidar dele seria melhor que dormisse aqui nesse quarto, amanhã mesmo vou trazer sua cama pra cá e você não precisa se preocupar com as outras tarefas da casa, seu dever principal será do Júnior.

Anastácio - Sim senhor, mas se sobrar tempo eu ajudo a Joana nas tarefas dela também, não tem problema.

Eu via que o Júnior mamava com pressa, parecia que nunca havia comido na vida.

Humberto - Quanta fome. Digo rindo.

Anastácio - Pois é rs.

Não sei porque, mas ver o Anastácio cuidando do meu filho com tanto carinho causou algo em mim. Depois que o Júnior terminou de mamar o Anastácio fechou a blusa dele e colocou o bebê que já estava sonolento no berço e então nós saímos do quarto.

Anastácio - Boa noite senhor.

Humberto - Boa noite Anastácio.














Continua...


Olá meus bebês, espero que tenham gostado do capítulo. Não se esqueça do seu voto e seu comentário pra ajudar a história. Beijão pra todos.




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